quarta-feira, 7 de março de 2018

Para ajudar a compreender

Turismo a brincar e turismo como deve ser 

Tendo como público alvo sobretudo aqueles leitores que raramente ou nunca viajam para lá da fronteira, ou que, fazendo-o, não têm tempo para observar, não tendo por isso uma ideia precisa de outras realidades na aérea do turismo, relata-se uma ocorrência do verão de 2017, que foi presenciada por alguns tomarenses, entre os quais um eleito do actual executivo.
Tal como faz todos os anos, o autor destas linhas viajou no verão passado, como simples cliente em turismo organizado. Comprou dois circuitos, para matar saudades e mostrar locais maravilhosos a uma amiga. Num deles, visitou La Rioja, Burgos, S. Sebastião, Lourdes, Andorra, Barcelona, Saragoça, Madrid, Ávila e Salamanca.
Correu tudo às mil maravilhas. Apenas um facto curioso a assinalar. A guia acompanhante, que foi impecável, depois de conhecer parte do currículo deste escriba, e na sequência de um telefonema que recebeu, avançou: -"Não está interessado em fazer como guia acompanhante um circuito para a agência X? Eu não tenho disponibilidade e estão com muita dificuldade para conseguir arranjar alguém qualificado. Como deve saber, nesta altura do ano (Estávamos em Agosto) não há profissionais disponíveis."
O amável e inesperado convite, que dá uma ideia da situação no sector do turismo organizado em Portugal, foi naturalmente recusado. Há tempo para tudo, mas esse tempo para guiar grupos por esse mundo fora, já passou há muito. E que saudades!

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Mosteiro e Palácio de S. Lourenço do Escorial

No mês seguinte houve novo circuito em Espanha. Toledo, Torrejon de Ardoz, Madrid, El Escorial, Ávila, Salamanca, integrado num grupo de tomarenses. O guia acompanhante foi António Freitas, tomarense, jornalista e amigo deste escriba. Organização perfeita. Um daqueles casos, cada vez mais raros infelizmente, em que se pode usar com propriedade a expressão "bom e barato". 
No imponente mosteiro de S. Lourenço do Escorial, (513.529 visitantes em 2016, contra 295.808 no Convento de Cristo), uma vez revistados os sacos e passado o pórtico electrónico detector de metais, dado que não havia guias locais disponíveis, o escriba destas linhas resolveu regressar de forma transitória a tempos antigos. Começou a explicar o monumento aos seus conterrâneos e companheiros de viagem, tal como muitas vezes fez no século passado e neste mesmo mosteiro, tanto com grupos portugueses como franceses.
Desta vez porém, apesar da boa intenção, a iniciativa durou pouco. Ao cabo de pouco mais de 15 minutos, um guia reparou que o signatário não ostentava o obrigatório colar de identificação, com as indispensáveis credenciais, e chamou um dos seguranças. Este foi correcto e amável, porém firme. -Mostre-me por favor a sua credencial como guia profissional. -Já fui guia. Agora estou jubilado. Tento apenas ajudar os companheiros do grupo, uma vez que não há guia local disponível. -Então faça favor vá à portaria e peça a credencial, mostrando a sua carteira profissional. Ou então cale-se. Se continuar a explicar sem estar credenciado, sou forçado a expulsá-lo. O grupo deu meia volta e encaminhou-se para a saída, onde uma das guardas-guias lembrou que ainda não tínhamos visitado partes importantes...
Só no nosso maravilhoso país e na nossa abençoada terra é que qualquer cidadão se pode armar em guia turístico. Até adolescentes menores, em período de escolaridade obrigatória, e sem qualquer tutela presencial ou preparação prévia adequada, assegurada por profissionais de turismo qualificados.
É claro que nem o país nem Tomar são obrigados a copiar o que de bom se vai fazendo por essa Europa fora, nomeadamente no campo do turismo. Mas vendo os outros a avançar e Tomar a ficar cada vez mais para trás, no entender do autor destas linhas seria bastante mau nada escrever sobre o assunto. Porque há coisas que, parecendo não ter grande importância, são afinal fundamentais para o sucesso final. Que em Tomar tarda a aparecer. Entretanto o concelho vai definhando, na indiferença geral. Pobre gente. Pobre terra.

Actualização

Suponho que muitos tomarenses, sobretudo autarcas mas não só, gostariam de poder fazer como o segurança de El Escorial. Mandar-me calar e ser prontamente obedecidos. Mas as circunstâncias são outras. Pagar impostos dá direitos inalienáveis. E só lê quem quer. Ainda bem que assim é.

2 comentários:

  1. Ocorre-me uma ideia. Seria giro a CMT organizar no próximo verão um programa de visitas guiadas aos locais simbólicos da cidade e do concelho, sempre no último domingo de cada mês, tendo como guia o António Francisco Rebelo como figura de cartaz. Essas visitas seriam anunciadas nos jornais da cidade. Teria muito gosto em participar.
    Fica aqui o desafio ao vereador do respetivo pelouro.
    Não tenho dúvidas que a participação seria da Lamarosa.

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    1. Vê-se bem, amigo Fernando, que não moras em Tomar, tua terra natal, há muitos anos. Os tempos mudaram. Para pior, penso eu.

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