sábado, 31 de março de 2018

Congresso regional do PS

O que aconteceu e o que foi noticiado em Tomar

É um tema assaz delicado. Normalmente, indicaria todos os elementos de que disponho. Publicaria nomes, títulos, fontes, datas, e por aí fora. Tratando-se de comunicação social, sobretudo da local e regional, há que ser cauteloso. Muito cauteloso. Porque, na maior parte dos casos, os vários intervenientes não escrevem, não difundem nem publicam aquilo que querem. Apenas aquilo que têm e podem usar sem risco.
Impõe-se contudo denunciar a situação. Não só por ser cada vez mais frequente, mas também e sobretudo por estar a alastrar no espaço. De tal forma que, em determinadas áreas geográficas, já se tranformou em algo corriqueiro. Paulatinamente, apesar de vivermos numa sociedade por enquanto livre sob a alçada da lei, começa a ser de novo pertinente a velha piada do Raul Solnado: "Censura, censura, qual censura?! Cada qual compra e lê o jornal que quer! Dizem todos o  mesmo."
O que segue é um exemplo da actual situação na chamada província. Fora da capital. De acordo com a informação local, o PS realizou o seu congresso distrital, em Almeirim. Correu tudo muito bem. A representação de Tomar foi a mais numerosa. Foram eleitos vários tomarenses para os diversos órgãos da federação distrital de Santarém. Trata-se naturalmente da versão enviada à comunicação social pelos próprios socialistas nabantinos. O costume. O que todos fazem.

Foto copiada da Rádio Hertz

Para quem lá esteve e participou nos trabalhos, a realidade foi diferente. Mais complexa. A abrir, o congresso não foi bem em Almeirim, mas no pavilhão multi-usos de Fazendas de Almeirim, o que não é bem a mesma coisa. Segue-se que o evento começou  mal e esteve até em risco de acabar pior ainda.
Os trabalhos do Concresso começaram com 45 minutos de atraso, sem a presença do seu presidente, o deputado Gameiro, a essa mesma hora ainda no avião proveniente da Arábia Saudita, integrado numa comitiva da Assembleia da República. Além desta ausência de topo, houve outras igualmente significativas. Dos 13 presidentes de câmara socialistas que há no distrito, apenas 3 estavam presentes. Há que reconhecer que é demasiado e dá nas vistas.
Além disso, a numerosa comitiva tomarense tão pouco terá primado pela pontualidade, apesar de a distância Tomar-Almeirim não ser grande. E houve ranger de dentes de alguns congressistas, ante o evidente mau gosto e despropósito do lema do congresso: "Reforçar Santarém, com todos e para todos". Nomeadamente para os tomarenses, é uma comida demasiado indigesta, pois de certeza que não foram àquela manifestação política socialista para reforçar Santarém. Era o que faltava! E depois, aquela do "com todos e para todos" tresanda a cozinha e à união nacional de triste memória.
Mas o pior, em termos políticos, ainda estava para acontecer. Contados os votos na eleição de Gameiro, para o seu 4º e último mandato, verificou-se que apenas 4 congressistas de Abrantes votaram nele, embora fosse candidato único e contasse com o apoio público e entusiástico da senhora presidente da câmara abrantina. Olha se calha a não ter esse apoio...
O caricato da questão, ocorreu logo a seguir a esse incidente eleitoral, que continua por explicar. Instados em directo a comentar o sucedido, todos os congressistas contactados se recusaram a abordar o assunto. Até o tomarense Hugo Costa. Cumpriu-se assim à risca a "doutrina PS-António Costa": Só existe a realidade de que falarmos. O resto não aconteceu."
Entre o noticiado e o acontecido, como se verifica, o fosso é largo e profundo. Neste caso ainda mais grave, porque uma grande formação formação política que nem sequer consegue realizar um congresso regional dentro das normas e sem incidentes, como pode pretender governar proficuamente vários municípios da região? Tentanto iludir os eleitores com notícias à medida?

Adenda

Para quem, lida a prosa supra, possa considerar que sou injusto, alarmista ou exagerado, aconselho esta leitura, um bocadinho mais reimosa, em parte sobre o mesmo tema da informação e da censura.

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