domingo, 11 de março de 2018

Isto só pode acabar mal

Os mais novos não se dão conta, por falta de referencial, porém, a triste verdade é que a situação política em Tomar se assemelha cada vez mais à de antes do 25 de Abril, com uma ou outra diferença importante, é verdade.  Nessa época, a urbe nabantina era um conhecido centro militar. Uma cidade de guarnição, com regimento de infantaria, quartel general, hospital militar e imponente messe de oficiais. Mas o regime era ditatorial, de partido único e com a PIDE, a polícia política que não era para brincadeiras.
Nesse contexto sombrio, muitos exilaram-se, sobretudo para fugir à guerra colonial, havendo também resistência interior, protagonizada principoalmente pelo PCP. Em Tomar eram pouco mais de uma dúzia os oposicionistas assumidos. Alguns, os mais jovens de então, ainda aí estão, mas calam-se os seus nomes. Eles que se manifestem, se assim o entenderem.
Apodados de comunistas, do contra ou do reviralho, nunca as suas reivindicações foram tidas em conta, porque implicavam a mudança de regime. Apontados a dedo, praticamente ninguém queria ser visto com eles na rua ou no café, simplesmente porque não eram "da situação". Entenda-se apoiantes do governo e da União Nacional, o partido único de Salazar ou, mais tarde, da Acção Nacional Popular - ANP, o partido único de Marcelo Caetano, cujo primeiro congresso teve lugar em Tomar. Nesta terra pouco acontece simplesmente por acaso...

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Toda esta introdução passadista para tentar mostrar um inquietante paralelismo político. Marginalizados e forçados ao silêncio, os oposicionistas do século passado nunca foram atendidos nas seus apelos em prol da abertura do regime, porque quem governava sempre preferiu transformar a oposição numa seita de criminosos e traidores, que agiam contra o governo, contra os costumes e contra a pátria. E a maior parte da população também ia nessa conversa. Quem tem cu tem medo e todos temos cu. Por isso era corrente ouvir dizer a frase terrível "a minha política é o trabalho". O que significava "governem como quiserem, façam o que acharem melhor, que eu nisso não me meto".
Meio século depois, muita coisa mudou e ainda bem. Mas persistem alguns traços de então e ainda mal. É indesmentível que a classe política local, sobretudo a instalada no poder autárquico, convive mal com a crítica. De tal forma que, em vez de suputar se os opositores que ousam publicar têm ou não razão, se não será melhor ter em conta aquilo que dizem e as soluções que avançam, de parar para pensar, os senhores autarcas maioritários preferem usar a mesma táctica de Salazar e Caetano. Tentam desacreditar quem não está de acordo com a actual situação, alcunhando os críticos mais ácidos -que são Tomar a dianteira, Sérgio Martins, Tomar na rede de quando em vez, e Américo Costa- de pessimistas, derrotistas, gente que só sabe criticar, mas que nunca fez nada por Tomar. Uns malvados, em suma. Uma argumentação tão quadrada que nem sequer tem em conta uma evidência: numa ditadura ou em democracia, criticar já é fazer algo importante em prol da sociedade. E não venham com esse outro postulado tacanho da crítica construtiva. Tudo não passa de uma questão de perspectiva.
Sabe-se como tudo acabou da outra vez. Cansados da guerra, os militares revoltaram-se e mudaram de regime, apesar de o país e Tomar estarem em franco progresso económico. Pelo contrário, em 2018, Tomar está em crise profunda. Porém agora não necessitamos dos militares com as suas armas para mudar, pois felizmente vivemos em democracia. Bastará portanto que os cidadãos saibam concluir quem tem razão afinal? Os que apesar de pouco capazes pretendem continuar no poder? Ou os críticos, que apenas querem melhorar as coisas para Tomar e para os tomarenses?
Com o actual ódio contra a liberdade crítica, semeado em Tomar pelos instalados,  que é inaceitável e muito corrosivo numa democracia adulta, caso entretanto não tenham coragem para mudar a espingarda de ombro, isto só pode acabar mal. Para todos.


ADENDA

Além do acima exposto há uma outra questão fundamental que será bom ter em conta. Os críticos não se candidataram, não apresentaram programas, nem foram eleitos. Não são pagos pelos contribuintes, nem prometeram mundos e fundos para alcançarem as cadeiras do poder. Portanto, os eleitos é que devem ser confrontados com as promessas que fizeram, que contrastam e muito com os tristes resultados práticos. Nada de realidade às avessas. É sabido que os arguidos, e até os condenados, criticam sempre os magistrados instrutores dos processos, ou os que os julgaram. Sócrates é um excelente exemplo.

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