sábado, 3 de março de 2018

Não se nasce impunemente...

Não se nasce impunemente nas praias de Portugal, escreveu Gedeão,  mais conhecido como autor da letra da Pedra filosofal. Mas este Poema da malta das naus também tem muito sumo:

O meu sabor é diferente
Provo-me e saibo-me a sal
Não se nasce impunemente
Nas praias de Portugal

É portanto uma triste sina nascer nas praias de Portugal. Mas é pior ainda quando se veio ao mundo numa dessas praias que é uma contradição nos termos. Porque só tendo mar no nome -TOMAR- foi no entanto aí que começaram de facto os Descobrimentos. E isso deixa marcas. Se deixa!
Quase seis séculos depois, somos uma pálida sombra de antanho. Para não ir mais longe, no colega Tomar na rede há larga troca de comentários, quase todos anónimos infelizmente, a propósito de falhas da autarquia nas comemorações da fundação do castelo. Dessa pequena amostragem do que pensam e como escrevem os cidadãos ligados a Tomar, mesmo quando protegidos pelo anonimato, destaca-se este comentário sucinto, de alguém visivelmente agoniado com o baixo nível do debate:

Felizmente não sou de TOMAR....

Respondia assim a um outro escrito que mostra bem a miséria intelectual da urbe. Sendo quase todos os comentários muito críticos para os actuais detentores do poder, esperar-se-ia pelo menos uma resposta fundamentada de algum apoiante. Mas não. O que apareceu foi isto, cheirando que tresanda a manjedoura:

Caracteristicas de alguns tomarenses....NUNCA NADA ESTÁ BEM!
Só criticas destrutivas nunca ajudaram a erguer nada...

Se calhar porque o resultado não foi o esperado, houve necessidade de voltar à carga, duas horas mais tarde:

E coisas positivas? Não houve? Ou isto é apenas puro "bota-abaixismo"?

Casos isolados, numa pequena cidade a definhar, situada num pequeno país, que já conheceu melhores dias? Certamente. Mas entristece. Afecta o moral. Sobretudo quando no mesmo dia aparece no Observador uma recensão de dois livros com disparates de alunos em  exercícios e exames escritos. Por aí podemos deduzir que tais pais, tais filhos. Ou, na mesma linha, quem sai aos seus não degenera. Com algumas reservas, claro. Também há pais piores que os filhos, e vive-versa. Mas em geral...
Ficamos então a saber que, na batalha de Aljubarrota, o mestre de Avis foi ajudado pelo Conde Estável D. Nuno Álvares Pereira, ou que o rei D. Sebastião desapareceu durante a batalha de Alcácer do Sal e o Marquês de Pombal foi o presidente da República do rei D. José I. Já bem mais tarde, em 1974, o grande operacional do 25 de Abril foi o Hotel Saraiva de Carvalho. Se depois disto ainda tiver coragem, pode ler mais clicando aqui.
Coisas de crianças e de adolescentes, que têm direito a toda a nossa compreensão e condescendência, não é verdade? Pois seja. Mas como qualificar então esta asneira de grande calibre?: Numa comissão a funcionar actualmente na Assembleia da República, os deputados do BE requereram a audição do sociólogo, ex-ministro e ex-conselheiro de Estado, engenheiro Alfredo Bruto da Costa. Tiveram azar. O ilustre cidadão faleceu há  dois anos. Constata-se assim que pelo menos alguns parlamentares do Bloco estão realmente bastante bem informados sobre o que vai ocorrendo no país...
Volto ao início. Tudo isto evidencia que não se nasce impunemente em Portugal. Em Tomar então, é melhor nem falar. De tal forma que tive de aguardar três quartos de século para poder escrever coisas assim, sem vir a sofrer pesadas retaliações.
Ou estarei equivocado?!


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