sábado, 17 de março de 2018

A triste e preocupante situação tomarense

Volta e meia, um caso concreto vem mostrar a triste situação que se vive em Tomar, uma urbe em acentuado declínio em todos os domínios. Até as lojas chinesas vão fechando. O exemplo mais recente foi publicado no nosso colega Tomar na rede. Num estilo seco e factual, como é próprio do jornalismo, informa que foi publicada no Diário da República a nomeação do "staff" da senhora presidente da Câmara de Tomar. Identificados os nomeados, limita-se a acrescentar que são todos militantes e dirigentes do Partido Socialista.
Como habitualmente, acoitados  no confortável anonimato, surgiram logo dois comentadores, um favorável, outro adversário feroz. Escreveu o primeiro "Acho muito bem serem do PS, porque quando estiver outro partido será o contrário." Respondeu o outro "Que pensamento miserável. É precisamente por causa destes mentecaptos que o país está refém de tachos."
Indo por partes, no meio desta tristeza. O que primeiro aflige são os quase cinco meses que mediaram entre as nomeações de facto e a respectiva publicação no jornal oficial obrigatório. A culpa é de quem? Da entidade que nomeou? Do Diário da República? De ambos? Seja como for, estamos perante uma confrangedora realidade, que só pode contribuir para afastar potenciais investidores. Porque se em Tomar uma simples nomeação camarária leva cinco meses, imagina-se quanto tardará a aprovação de um projecto e a emissão do respectivo alvará, com todas a tribulações, designadamente pecuniárias, que o percurso burocrático local implica. Até a própria presidente já foi condenada judicialmente duas vezes, por não responder atempadamente às reclamações de um munícipe.
Aparece a seguir o primeiro comentário, que só peca pelo "será o contrário". Não, não será nada o contrário. Acontecerá exactamente o mesmo: Serão nomeados militantes e quadros do partido que entretanto tiver vencido, uma vez que se trata de nomeações políticas, para cargos de confiança partidária, os quais cessam logo que o partido que fez as nomeações for derrotado em eleições, ou for forçado a abandonar o poder, por qualquer imponderável.

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Foto Tomar na rede

Quanto ao segundo comentador (ou comentadora), é evidente que está a ver mal o problema, apesar de ter razão quanto ao fundo. O país não está atafulhado de funcionários incompetentes, ou "na prateleira", por causa destas nomeações, mas sim por causa das nomeações para os quadros de forma menos transparente. Neste caso do PS, tanto quanto se sabe, há apenas uma nomeação técnica de um quadro partidário, que muito provavelmente regressará à entidade de origem quando o PS perder. Trata-se do chefe da Divisão financeira.
O outro caso será o de Virgílio Saraiva, que é funcionário de carreira, crê-se que em comissão de serviço como chefe de divisão. Tendo ascendido a chefe de gabinete para substituir Luís Ferreira, situação em que se manteve até ao final do mandato anterior, foi agora nomeado secretário do gabinete de apoio aos vereadores, em paridade com um tal senhor Graça. Não se pode dizer que tenha sido uma promoção. Mas o problema é dele, uma vez que aceitou.
Não é necessário ser especialista em futurologia para prever desde já que, derrotado o PS, Virgílio Saraiva regressará à categoria de técnico superior, uma vez terminada a comissão de serviço como chefe de divisão, indo integrar a nova "unidade de queimados", que entretanto os futuros vencedores não deixarão de instituir. Conquanto Virgílio Saraiva seja um funcionário íntegro, competente e cumpridor, o facto de ser também quadro influente do PS, designa-o como vítima praticamente inevitável do velhos princípios bárbaros "quem com ferros mata, com ferros morre", ou "olho por olho, dente por dente". Sorte semelhante terá o seu camarada da Financeira, igualmente competente e probo, caso não tenha antes regressado à origem. Tomar é uma cidade cujos habitantes, na sua maior parte, nunca perdoam, porque não sabem sequer o que isso é.
Apesar de irem à missa, e aí suplicarem "perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido", em muitos casos é só uma ladainha hipócrita. Na verdade, praticam uma mescla de intolerância e ódio, que confundem com hombridade. Que Deus lhes perdoe!
Triste gente! Triste terra! Que com sol e bom clima ainda se atura, mas com frio, chuva e humidade, nem pensar! É demasiado desconforto junto.

2 comentários:

  1. A falta de participação (debate) neste blogue deixa-me banzado. Julgo que reflete a ausência de debate sério no seio da população local, nomeadamente no interior dos partidos e interpartidos. Os temas aqui abordados, com especial incidência na cidade, estão na ordem do dia com o advento da quarta revolução industrial em marcha, pois é já dado como certo que as cidades (pequenas, médias, grandes e megas) vão ser cada vez mais os motores do desenvolvimento e do bem-estar das sociedades. O mundo está a mudar em todas as vertentes, mesmo nas relações entre as pessoas, cuja esmagadora maioria vai viver nelas. Os políticos burocratas têm os dias contados. O critério de recrutamento dos partidos tem de se direcionar para as novas elites em formação, mais empreendedoras e viradas para as novas tecnologias que não param de nos surpreender a cada mês que passa. É preciso enquadrá-las e chamá-las à prática da democracia Há gente a passear-se hoje nos partidos que não tem a mínima noção do que está a passar-se, servem apenas para serem manipuladas por este ou por aquele para botarem voto neles. São verbos de encher. Desculpem lá...

    Bem sei que a ingenuidade do autor ao querer colocar-se na "middle road" da esfrega política não estimula o debate, erro crasso que cometem os chamados profissionais centristas em Portugal e na Europa, achando que há uma estrada intermédiária entre os dois "extremos": critica à esquerda e à direita, ignorando (?) que a profunda alteração no espetro político nacional (e europeu) nos últimos tempos foi a deriva do centro-direita para meandros da extrema direita; e não se dá conta que, por exemplo, em Portugal, a chamada extrema esquerda em Portugal se adaptou às novas circunstâncias, de forma pragmática, com resultados muito positivos para o desenvolvimento do nosso país à vista de todos. Falta-lhe (ao autor do blogue) ideologia consistente; falta-lhe um lado na acérrima luta de classes dos nossos dias. Braceja e vocifera no meio da estrada e ninguém lhe liga.

    Mas há evidente cobardia das pessoas em não virem aqui dizer das suas. O blogue merece. A cidade precisa. É nestas plataformas que se discute hoje quase tudo.

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    1. Comungo dos teus pontos de vista, excepto dois, a saber: 1 - A geringonça não é coisa para durar. Colada com o cuspo das reversões e dos direitos adquiridos, irá até 2019, mas a partir daí a porca começa a torcer o rabo; 2 - Os resultados até agora alcançados pelo Macron em França e o estado da esquerda naquele país, com destaque para os 6% do PS, mostram que o "nem de esquerda nem de direita" tem futuro.
      Bracejo e vocifero no meio da estrada e ninguém me liga, porque a ideia também não é essa. Não faço nada para me ligarem. Pelo contrário. Proclamo que não gosto dos tomarenses e que sei bem que eles tão pouco gostam de mim.Em geral, claro. Felizmente há excepções. Há porém uma diferença fundamental. Eu não gosto nem do que são nem daquilo que pensam, mas já lhes perdoei. Eles,inversamente, não gostam de mim por pura aversão, não é nada de político. E não perdoam. Muitos só não me fazem mal porque não podem. Que Deus os abençoe se puder, é o mal que lhes desejo.

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