Pelas bandas de Tomar, os integrados na República dos instalados detestam quem não pense como eles e apressam-se a apodar de estrangeirados todos aqueles que discordam da conhecida pasmaceira local. O autor destas linhas tem direito à alcunha de afrancesado, julgando se calhar os padrinhos que tal facto o diminui. Acontece exactamente o contrário. Por esse Mundo fora um passaporte francês abre muito mais portas que um português. E aqui no Brasil ser cidadão português nem sempre é uma boa referência. Desculpem lá, mas é a realidade. Só quem não sai, ou pouco sai do buraco tomarense é que ignora estas coisas.
Aqui há uns anos atrás, o Amândio Caldeira, neto do Caldeira, carroceiro da Câmara, era jardineiro da autarquia. Muito convivial e simples, tornou-se extremamente popular quando integrou um cortejo de Carnaval, fazendo de presidente da Câmara. A dada altura, apesar de funcionário municipal, o Amândio resolveu emigrar para o Reino Unido, onde se tem mantido até agora.
De férias em Portugal, foi entrevistado pel'O Templário. Seria bom que as suas declarações fossem lidas e meditadas pelos da "república dos instalados", também conhecidos como "império dos sentados". Trata-se dos funcionários da autarquia que estão sentados e longe da primeira linha, aquela onde se atende o público.
O Amândio informou que trouxe de Cardiff uma lembrança do presidente da Câmara (mayor), que é trabalhista, para a senhora presidente socialista da Câmara de Tomar, e declara estar muito contente por Tomar ser governada pelo PS: "Desejo a Anabela Freitas que Deus a ilumine e lhe dê sabedoria, e que faça um bom serviço".
Apesar disso, lá foi opinando que falta estacionamento, faltam instalações sanitárias, falta informação, o posto de turismo está muito escondido, o Parque de campismo devia estar aberto. Acrescentou que os turistas vão ao Convento e não vêm à cidade porque há falta de informação, de transportes e de guias.
Noutro passo das suas declarações, estranha que haja em Tomar tão pouca gente da sua idade, refere a falta de fábricas e de grandes empresas, mencionando sem disso se dar conta a causa de tão triste estado de coisas. "Em Cardiff ganha-se bem e o dinheiro rende, mas é uma escravatura. Em Tomar o dinheiro não rende, apesar de termos tudo."
O nível cultural do entrevistado não lhe permite intuir que falou afinal da relação preços/rendimentos, ou mais simplesmente de poder de compra. Em Cardiff e na Grande Bretanha, essa relação é favorável aos trabalhadores. Em Tomar e no país é o oposto, salvo no que se refere aos funcionários públicos médios e superiores. Em termos práticos, em Inglaterra com o rendimento de uma hora de trabalho compra-se em média mais que em Tomar ou em Portugal. O que não surpreende. Quem conheça um bocadinho a Espanha, sabe que lá os salários e vencimentos são mais levados, e quase tudo é mais barato em relação a Portugal, a começar pela gasolina e a acabar nos impostos. Até o IVA espanhol é mais baixo. Desgraça das desgraças, agravando singularmente a situação, a autarquia tomarense, acossada por custos fixos com pessoal da ordem dos 40%, vê-se forçada a aumentar a pressão fiscal onde pode -no recibo dos SMAS. O que, por arrastamento, leva a população a desandar, em busca de municípios mais acolhedores.
E são os estrangeirados, esses malvados que, mesmo quando nunca andaram numa universidade, vêm dizer certas verdades, que ofendem os instalados da cova nabantina.
As declarações do Amândio podem ser lidas na página 7 do Templário desta semana. Deseja-se boa leitura e melhor digestão, o que pode não ser fácil.
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