É capaz de ser da chegada da Primavera. Não aqui a Fortaleza, onde na prática é sempre Verão. Aí ao vale nabantino. Seja como for, parece-me que há esperança no ar. Tanto assim que até eu, pessimista crónico, me sinto agora mais optimista. Oxalá não me venha a arrepender outra vez.
Sim, porque nunca fui daqueles que jamais se enganam e raramente têm dúvidas. E ainda menos dos que, à boa maneira tomarense, têm sempre razão, contra tudo e contra todos. Até conheço quem se tenha enganado mais de uma dúzia de vezes, em termos políticos, durante a sua vida, mas afirme agora, em tom peremptório, que o meu problema foi ter apostado nos cavalos errados. Há conterrâneos assim.
Passando a coisas mais palpáveis, e à tal esperança que paira por aí, no ar já primaveril, fiquei satisfeito com as recentes declarações da senhora presidente, sobre o açude de madeira do Mouchão. Afirmou que, contrariando uma tradição de séculos, o dito açude não foi desmontado em Outubro passado a título experimental, tendo a autarquia poupado com isso 7 mil euros.
Conquanto considere tratar-se de uma experiência demasiado arriscada, que poderia ter causado até elevados prejuízos, reconheço que correu bem. Deu certo, como dizem aqui no Nordeste. O Nabão esteve quase quase, mas não encheu o suficiente para galgar as margens naquele sítio, invadindo a parte baixa. Convém contudo não esquecer futuramente umas datas gravadas nas cantarias do gaveto da Bela Vista. Ou na porta da Farmácia Torres Pinheiro, mostrando que o Nabão já atingiu, uma vez pelo menos, mais de metro e meio ao fundo da Corredoura.
Mas pronto. Houve riscos, porém existiu também muita coragem, ousadia até, da parte da senhora presidente da Câmara, tendo em vista uma poupança de 7 mil euros. Sucede que, no próximo ano, vai ter lugar mais uma edição da Festa dos Tabuleiros. O povo já foi convocado, ainda não decidiu, mas não consta que alguma vez se tenha pronunciado contra. Seria aliás um escândalo e dos grandes! Sobretudo porque a esmagadora maioria da população nunca lá esteve, nem vai estar. O salão nobre dos Paços do Concelho terá uma capacidade máxima, em pé, de 450/500 pessoas. A diferença será portanto enorme, em relação aos 35 mil eleitores inscritos no concelho. De maneira que, quanto a legitimidade democrática para decidir, estamos conversados. Trata-se de uma tradição há muito ultrapassada, porque do tempo em que a população não votava, nem existia ainda o princípio "um homem um voto". Desses tempos afastados, do voto censitário, os espanhóis mantêm o vocábulo "ayuntamiento" = ajuntamento, par se referirem à câmara municipal. Nós nem isso. Só o ajuntamento para simular a aprovação da Festa dos tabuleiros, a cada quatro anos. Choca, a palavra "simular"?!? Não vejo porquê. A duas semanas do anunciado "ajuntamento", até eu que estou a sete horas de avião de Lisboa, já sei que vai haver Festa dos Tabuleiros em 2019, e que vamos ter uma mordoma, chamada Maria João. A não ser que seja um mordomo Perfeito. (Ou que "o Município" resolva "convencer" o seu funcionário a sacrificar-se mais uma vez. A ser assim, estaria a caminho uma nova tradição tomarense -o cargo de mordomo vitalício da Festa dos Tabuleiros.)
Nestas condições, se a senhora presidente quisesse ousar mais uma vez, a câmara poderia vir a poupar, não os modestos 7 mil euros do açude desmontável, mas mais de 300 mil. Como? Respeitando integralmente a tradição, não mexendo minimamente nos tabuleiros, nem nas coroas, nem nos cortejos, nem na ornamentação das ruas, mas mudando completamente as estruturas organizativas da Festa grande. Nomeadamente fechando uma parte da cidade e cobrando entradas para assistir aos cortejos, tal como fizeram em tempos, nos anos 80, com grande sucesso, os organizadores da Comissão do Carnaval de Tomar. Antes da vaga eleiçoeira do "tudo à borla, que o Estado paga".
Nestas condições, se a senhora presidente quisesse ousar mais uma vez, a câmara poderia vir a poupar, não os modestos 7 mil euros do açude desmontável, mas mais de 300 mil. Como? Respeitando integralmente a tradição, não mexendo minimamente nos tabuleiros, nem nas coroas, nem nos cortejos, nem na ornamentação das ruas, mas mudando completamente as estruturas organizativas da Festa grande. Nomeadamente fechando uma parte da cidade e cobrando entradas para assistir aos cortejos, tal como fizeram em tempos, nos anos 80, com grande sucesso, os organizadores da Comissão do Carnaval de Tomar. Antes da vaga eleiçoeira do "tudo à borla, que o Estado paga".
Vamos a isso, senhora presidente? Não é fácil, bem sei. É preciso ter muita coragem. Mas quem não arrisca, como no caso do açude...também não conseguirá poupar. E os euros não são elásticos! Não esticam! Ao contrário das despesas, que estão sempre a crescer.
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