sexta-feira, 9 de março de 2018

Contradições insanáveis

Não há muito tempo, Jerónimo de Sousa, em nome do PCP, falou de contradições insanáveis, a propósito da actuação do PS. Julgo que a maioria dos cidadãos não terá entendido. Contradições insanáveis são aquelas que só podem ser ultrapassadas mediante o desaparecimento das suas causas. Conquanto se trate de uma algo contestada noção marxista, a experiência tem vindo a demonstrar que as obras humanas, tanto físicas como imateriais, se desmoronam quando erguidas sobre contradições insanáveis, irresolúveis de outro modo.
Todo este arrazoado teórico tem como objectivo alertar para os perigos latentes que resultam das actuais contradições insanáveis existentes e persistentes em Tomar. Por um lado, a autarquia vai procurando aplicar, em pequenas doses e sem o dizer, o velho postulado socialista e comunista de cada um segundo as suas possibilidades, a cada um  segundo as suas necessidades. É assim que, em nome dos munícipes que pagam os seus impostos directos e indirectos, vai distribuindo benesses sob três formas: subsídios a mais de uma centena e meia de colectividades por um lado; festas, exposições, colóquios, transportes e outros, tudo à borla para os beneficiários, por outro lado; facilidades no emprego, por outro lado ainda.
Trata-se em suma e à primeira vista de procurar instituir muito lentamente em Tomar, eventualmente sem disso se dar conta, porque o objectivo assumido é outro, o chamado 5º Império, ou Império do Espírito Santo, no seio do qual todos viverão na abundância, na saúde e na alegria. Infelizmente tal é impossível, com se sabe. Mas os votos entretanto assim comprados dão sempre muito jeito.
No caso tomarense, a acção mais recente nesse sentido é a mostra concelhia de teatro. Cinco dias, cinco espectáculos, tudo à borla, na boa tradição nabantina. Afinal, Festa dos tabuleiros, Festa templária, Estátuas vivas e até mesmo algumas sessões da Câmara e da Assembleia municipal, são excelentes divertimentos, tudo com entrada livre.
Tanto na mostra de teatro como nos restantes eventos artísticos, as entradas pagas teriam no mínimo quatro virtudes: A - Saber realmente quantos espectadores houve; B - Fornecer aos organizadores uma ideia clara das suas reais possibilidades em termos de captação de público; C - Reduzir os subsídios camarários; D - Controlar quem entra, em termos de segurança. A actual maioria não vê as coisas assim, e está no seu direito. Certamente considera que, tratando-se de eventos subsidiados, não deve haver bilhetes.

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Chega-se assim a uma primeira contradição insanável. Sendo uma posição perfeitamente sustentável, essa das borlas, a sua justificação não pode ser a apresentada. Pela simples razão que, em certos casos, como por exemplo o Festival Bons Sons, a autarquia atribui um generoso subsídio, mas a organização cobra entradas a preços de mercado, e faz  muito bem. Isto para já não falar nos bilhetes paras as competições desportivas, ou no recente repasto da Casa do concelho de Tomar, no refeitório do Convento de Cristo, cujo aluguer de 4 mil euros foi ou vai ser pago pela autarquia, apesar de cada um dos 230 convivas (excepto os borlistas) ter desembolsado 35 euros. Alguém arrecadou o pecúlio.
Há porém outra contradição mais grave, que é a seguinte: O supracitado princípio socialista e o 5º Império pressupõem um sociedade livre e fraterna, sem inimigos nem ódios. Sucede que tal não é de todo o caso em Tomar. Nem coisa que se pareça. Nas margens nabantinas imperam, mesmo que de forma dissimulada, a inveja, o ódio, o desprezo, o preconceito, o racismo e até o extremismo doentio. Em Tomar, poucos são os que aceitam dialogar de forma civilizada, ou sequer  considerar como simples adversário, mas igual, quem pensa de maneira diferente.
Na óptica tomarense, quem critica está sempre com má intenção, não tem razão, está errado e é um inimigo a banir ou a abater. Quem não é por mim é contra mim. O ideal, para evitar mais chatices, era mesmo castigá-lo, obrigando-o a sair da cidade. Ou, melhor ainda, arrancar-lhe os olhos com um garfo e a língua com uma tenaz. Infelizmente há essas leis modernas, feitas para proteger a malandragem.  Ou seja, só o código penal, o medo dos tribunais e a censura social impedem que os tomarenses se destruam uns aos outros. Uma sociedade assim pode ir longe? A resposta é óbvia.
Tem dúvidas de que assim seja? Pois aqui vão dois exemplos concretos. Um é extremamente conciso. Trata-se de um comentário aos recentes espectáculos de teatro, publicado no nosso colega Tomar na rede:

 Anónimo8 de março de 2018 às 19:11
"Fora do Fatias tudo o resto é paisagem, apesar do seu cultissimo e amalucado lider."

Vê-se que quem escreveu semelhante nódoa odeia o Carlos Carvalheiro. A tal ponto que esse ódio cega. Não permite entender que sem o "cultíssimo e amalucado líder", não haveria Fatias de Cá. Ou pelo menos não seria a mesma coisa.

O outro exemplo é pessoal: No verão passado, conversava eu de forma amena com um conhecido de há mais de 50 anos,  de cultura média-baixa, quando a certa altura divergimos sobre a forma de organizar a Festa dos tabuleiros. Mantive o tom cordato, mas ao procurar  fundamentar o meu ponto de vista, a sua reacção surpreendeu-me. Zangou-se e exclamou: -Nem parece que você é tomarense! Virou-me as costas e foi-se embora, sem sequer saudar. Há que convir, parece-me, que entre conterrâneos conhecidos há muito, mesmo existindo algum desnível cultural, a relação poderia ser nitidamente mais fraterna. Mas há a tal contradição insanável. Esta política autárquica não é para estes eleitores, ou vice-versa.
É também por isso, por causa dessa encapotada compra de votos, sob a forma de borlas e com dinheiro dos próprios votantes, que na corrida rumo ao progresso, a velha carripana nabantina se atrasa cada vez  mais.
E os tomarenses vão continuando  a ir diariamente trabalhar alhures, ou a fazer as malas. Excepto os satisfeitos membros do "clube dos sentados dos Paços do Concelho". Mas tudo tem um fim.
E por causa das contradições insanáveis, até os regimes dos países do Leste ruíram.

6 comentários:

  1. Boa noite
    Espero que esteja tudo bem.
    Serve o presente para dizer que, no que concerne ao citado repasto da Casa do Concelho de Tomar no refeitório do Convento de Cristo foi afinal o encerramento das comemorações das Bodas de Diamante da Casa do Concelho de Tomar. Os custos com o aluguer do refeitório não foram pagos pela autarquia, o aluguer nem de longe se aproximou dos 4 mil euros e os convivas não pagaram 35 euros. Uma noite descansada
    Com os meus cumprimentos. Simon

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    1. Obrigado pelo seu comentário.
      Não são essas as informações de fontes geralmente bem informadas que Tomar a dianteira conseguiu obter. Ainda assim, uma vez que não adiantará estarmos a teimar, se me enviar provas documentais daquilo que afirma, será prontamente feita uma corrrecção em local próprio e de forma atempada.

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  2. Boa noite.
    Espero que esteja tudo bem.
    A sua fonte bem informada não é certamente da direcção da Casa do Concelho de Tomar. Eu faço parte da direcção pelo que, como convirá, saberei o que estou a dizer. Daí o mencionar, com a certeza de alguém que participou nas reuniões de direcção como membro eleito e não como fonte bem informada, de que os custos com o aluguer do refeitório não foram pagos pela autarquia, o aluguer nem de perto se aproximou dos 4 mil euros e os convivas não pagaram 35 euros pelo almoço. Ninguém arrecadou o pecúlio pois as contas são verificadas ao cêntimo como sempre fazemos com qualquer despesa, da luz ao gás, da água às comunicações.Uma noite descansada.

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    1. Boa noite e boa disposição.
      Como deve calcular, nada avançarei sobre as minhas fontes.
      Sem pretender colocar em dúvida aquilo que afirma, reitero o texto anterior. Provas documentais seriam o melhor meio de evitar falatórios futuros. Um exemplo: Diz que o aluguer do refeitório do Convento de Cristo, nem de perto se aproximou dos 4 mil euros. A ser assim, seria estranho, porquanto o despacho 8356 de 27/06/2014, indica na tabela do seu anexo I que o custo do refeitório para jantares é de 3 mil euros, aos quais acrescem despesas a fixar de vigilância e guardaria, a orçamentar caso a caso, quando o evento exceda o período de abertura ao público, como terá sido o caso. A mesma tabela indica que a capacidade máxima admitida é entre 80 e 220 pessoas, quando afinal lá estiveram perto de 250.
      Dadas estas e outras incongruências, mantenho o já dito. Só perante cópias certificadas publicarei prontamente as correcções que sejam úteis.
      Cordialmente,
      Cordialmente,

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  3. Bom dia. Julgo que a melhor fonte será certamente um memmbro da direção quando este afirma que nenhum desses números é realista. Julgo que a minha palavra deve certamente valer mais do que uma fonte dita bem informada mas que não terá estado por dentro de todo um programa de comemorações e participado nele de forma activa. Sei certamente o que digo, o que falo e o que escrevo. A propósito do despacho 8356 que indica uma tabela. talvez não seja má ideia reler o nº 3 do artigo 6 do citado despacho. Se as fontes bem informadas informassem bem, então a notícia não traria imprecisões. O corpo inicial da notícia indica 230 comensais mas aqui nesta réplica já se fala em 250. A fonte bem informada não precisa o número certo? E o que a fonte bem informada diz para se escrever que alguém arrecadou o pecúlio? Quererá a fonte bem informada precisar o que significa a essa frase e em que se baseia para ter retirado essa conclusão e tê-la transmitido a si? Cumprimentos e boa continuação de dia.

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  4. Bom dia Simon. Grato por saber manter um tom cordato, apesar da evidente discordância. Respondo-lhe apenas por uma questão de cortesia, pois me parece que entrámos na fase de "partir pedra" ou "serrar presunto".
    É claro que um elemento da direcção é quem está melhor colocado para compreender um determinado assunto. Todavia, isso não quer dizer que saiba tudo sobre esse mesmo assunto. Basta que sejam duas pessoas, para que cada uma já não possa saber tudo o que faz a outra.
    Neste caso, as informações de fontes que reputo fidedignas garantem-me que:
    1 - A Câmara concedeu um subsídio a fundo perdido de 4.800 euros;
    2 - A Câmara assumiu o custo do aluguer do refeitório, que pode realmente ter sido inferior, devido a uma cláusula para clientes habituais e parcerias;
    3 - Cada conviva pagou 30 euros, em vez dos 35 inicialmente previstos.
    Você garante-me, certamente de boa fé, que estes dados não são realistas. Pois bem, mais uma vez lhe peço: Apresente cópias documentais que demonstrem o contrário.
    Os outros detalhes que assinala, não passam disso mesmo -são detalhes.
    Respeitosos cumprimentos,

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