domingo, 18 de junho de 2017

Uma caranguejola contra a corrente no meio de espesso nevoeiro

Já tínhamos, na área política, o exemplo da geringonça, cheia de saúde e vigor, numa Europa cuja esquerda tradicional tende a desaparecer. A excepção é a Grécia de Tsipras, exemplo de que mesmo moderna, a esquerda não entusiasma ninguém. Há também, na área económica, os exemplos de Leiria e Ourém, onde a população cresce a olhos vistos, enquanto a tomarense encolhe de ano para ano.
Temos agora o caso dos independentes do IpT. Ao mesmo tempo que por esse país fora surgem cada vez mais grupos sem filiação partidária (ver mais abaixo notícia do Expresso), em Tomar Pedro Marques e a sua tropa restante decidiram juntar-se ao PS. Estão no seu direito, bem entendido. E essa decisão não lhes retira nem aumenta a dignidade. São e continuarão a ser cidadãos como quaisquer outros.


EXPRESSO, 1º caderno, 17/06/2017, página 17

O problema é que essa decisão contra a corrente, uma vez que os IpT praticamente se rendem ao inimigo, quando pelo país fora cada vez mais candidatos independentes avançam de espada desembainhada à conquista do poder, torna a política tomarense ainda mais opaca, mais ensarilhada, e por isso pouco ou nada apetecível para grande parte do eleitorado. O que pode provocar uma abstenção superior à de 2013, já de si enorme, bem como resultados inesperados, assim reduzindo drasticamente a legitimidade dos candidatos eleitos.
Não é só nem tanto o facto insólito, porque único em todo o país, de um grupo de independentes se associar antes das eleições a um dos dois partidos tradicionais com maior implantação. Avulta também e sobretudo o espesso nevoeiro desse acordo. Quais são os seus precisos termos? Para que foi celebrado? Qual o destino político do líder independente? Quantos IpT vão integrar as listas? Que listas?
Poderão os ipetistas alegar que o grupo independente continua a existir e terão razão. Continua a existir de facto, mas apenas de corpo presente. Se, mesmo na qualidade de eleitos em listas autónomas, nunca se percebeu o que pretendiam em síntese os vereadores e deputados municipais IpT, imagine-se agora, que vão integrar listas socialistas ainda sem programa. No meu entender, estamos portanto perante o lento funeral camuflado de um cadáver adiado. 
Infelizmente para eles e para o concelho, a actuação dos IpT nunca foi muito transparente, em termos de objectivos ou sequer de orientação política, durante os seus 12 anos de existência, tornando-se agora ainda mais incompreensível em virtude desta inesperada e estranha aliança com o PS. Sendo certo que os eleitores nunca votam naquilo que não entendem minimamente, é claro que só após a próxima consulta eleitoral saberemos se a junção PS/IpT atraiu ou afastou votantes de ambas as formações. Nesta altura, como é lógico e resulta do simples cálculo de probabilidades, a melhor hipótese é 50/50. A seu tempo se avaliarão os desvios à norma. As perspectivas não são famosas. Os vira-casacas sempre foram mal vistos por estes lados.
Em qualquer caso, pode dizer-se desde já que, a exemplo da geringonça em Lisboa, o PS (leia-se Anabela Freitas) logrou arranjar uma caranguejola em Tomar. E digo caranguejola por estar convencido que a dita é bem capaz de andar, mas só às arrecuas. Como os caranguejos.

Adenda, às 14H10 de 19/06/2017
Segundo informação documentada do prezado amigo João Henriques Simões, há no país outras junções de movimentos independentes com partidos tradicionais.


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