terça-feira, 27 de junho de 2017

Radiografia do programa da CDU

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No passado dia 24, a CDU foi a primeira formação política local a apresentar o seu programa. Bruno Graça leu um documento com oito páginas, que afinal não são todas sobre as propostas programáticas. Nas três primeiras é feita a resenha detalhada das tarefas concluídas com êxito pelo vereador coligado com o PS. São assim como que os alicerces do prometido programa, que só podem ser usados pelas duas formações coligadas, uma vez que os social democratas apenas poderão mencionar intervenções, propostas, protestos ou votos. Pela força das circunstâncias, obra feita nada.
Mesmo as páginas seguintes do documento não são integralmente dedicadas ao programa. Aí se faz nomeadamente um diagnóstico da actual situação de perda e envelhecimento da população, que para a CDU resulta de 4 causas:
1 - Destruição do aparelho produtivo
2 - Perda de importância militar
3 - Política especulativa no sector imobiliário
4 - Perda de atractividade em relação aos concelhos vizinhos.
Trata-se, no entender de Tomar a dianteira, de uma formulação apenas parcialmente correcta. Com efeito, não se percebe de onde possa provir a alegação de "política especulativa no sector imobiliário", nem se encontra no documento qualquer explicação para a "perda de atractividade em relação aos concelhos vizinhos".
Por considerar irreversível a perda de importância militar, a CDU define uma estratégia a partir dos pontos 1, 3 e 4. Ou seja, a partir de uma constatação incontroversa e de duas outras muito discutíveis. Essa estratégia assenta em três pontos:
A - Inverter o actual ciclo de decréscimo da população
B - Inverter o ciclo de envelhecimento populacional
C - Aumentar a coesão territorial, económica e social do concelho


Segue-se a apresentação de três eixos de trabalho, susceptíveis segundo a CDU de solucionar as mazelas apontadas antes:
I - Qualificação dos serviços públicos
II - Instalação e desenvolvimento do aparelho produtivo
III - Reorganização e modernização dos serviços do município

Além dos anteriores, indicam-se três outros eixos de trabalho:
a - Aproveitar a riqueza florestal da região
b - Reabilitação urbana
c - Potenciar a ligação ferroviária Tomar - Lisboa

Trata-se, como se vê, de um documento com mérito, não só por ser pioneiro, mas também por estar baseado num diagnóstico parcialmente pertinente, por sua vez amparado nas conclusões de vários debates, sob a forma de tertúlias com a população. Apesar de tudo isso, deliberadamente ou não, o citado programa é bastante genérico, vago em suma. É também manifesta a intenção de se focar no sector público e implicitamente no orçamento de Estado.
Tomar a dianteira considera que, se a CDU tivesse procurado em tempo útil perceber as causas da evidente perda de atractividade do concelho em relação  aos vizinhos, as propostas talvez fossem agora outras. Isto porque essa tal falta de condições concorrenciais resulta, até prova em contrário devidamente fundamentada, da burocracia e do peso excessivo do sector público concelhio, designadamente das elevadas despesas fixas e permanentes do município, que exigem taxas, impostos e, por arrasto, preços mais elevados que nos concelhos vizinhos., a que se deve acrescentar uma burocracia miudinha e ultralenta, como já não se usa em mais lado algum na Europa ocidental. 
Sem alterar esse estado de coisas, bem podem elaborar programas, que nada de substancial vai mudar. Conforme a seu tempo se verá. Porque, partindo de pressupostos errados, não é possível chegar a conclusões certas, salvo por mero acaso. O bem conhecido bambúrrio.
O dito documento apresenta como objectivo principal a eleição de pelo menos dois vereadores. Na nova situação eleitoral, em que desaparece a terceira perna da tradicional trempe, abrindo assim a via à polarização, a CDU já se poderá considerar feliz caso consiga a reeleição de Bruno Graça. Tal como em França, o Outono pode bem vir a revelar-se um desastre para a esquerda. A não ser que a candidatura laranja não esteja de todo à altura das circunstâncias.

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