sexta-feira, 9 de junho de 2017

Turistas e necessidades urgentes

"Eis uma consequência do turismo de massa que a Islândia teria dispensado de bom grado. Os sites de informação local só falam nisso: a nojenta tendência dos turistas estrangeiros para fazerem as suas necessidades orgânicas onde calha. Seja no campo ou nas zonas urbanas. Uma fotografia tirada por um agricultor, no sul da ilha, corre as redes sociais. Retrata um turista com as calças em baixo e de cócoras, frente à caixa do correio de Daniel Ericsson, que veio ralhar com ele, sem qualquer efeito prático. 
Não se trata de um caso isolado. Em Abril passado, a polícia surpreendeu em flagrante delito quatro espanholas a urinar junto ao carro da corporação de segurança, no parque do Hotel Borgarfjördur, no oeste da ilha. Mesmo se tal acto não constitui um delito, o agente intimou-as a recolherem o papel higiénico.
Noutro ponto da ilha, um turista mais asseado ia causando um grave acidente trágico-cómico em 2015. Ao tentar queimar o papel higiénico sujo, acabou por incendiar o musgo de um campo de lava. Dezenas de automóveis pararam, com os ocupantes em pânico, julgando que se tratava de mais uma erupção vulcânica.
Os islandeses atribuem estes comportamentos estranhos e pouco asseados à falta de instalações sanitárias, face ao aumento extraordinário de visitantes, e também ao facto de restaurantes e cafés reservarem os seus WC para os clientes, ou obrigarem a pagar pela sua utilização. O que nem sempre evita alguns  mal entendidos.
Avisos colocados nas instalações sanitárias públicas pedem aos utilizadores para não porem os pés em cima da sanita, um hábito asiático, ao que parece. Há mesmo avisos destes com o desenho respectivo, para evitar dúvidas, por enquanto só em sanitários privados."

Olivier Joly, Le Monde - Époque, 06/06/2017, página 5
Tradução e adaptação de António Rebelo


Entretanto em Tomar, onde o turismo cresce a olhos vistos, mas a maioria dos viajantes visita o Convento e pisga-se, caminhamos em sentido inverso. Como é habitual. Após o encerramento das instalações sanitárias da Rua da Fábrica, de S. Gregório, da Cerrada dos Cães, do Mouchão e de Santa Maria dos Olivais, a Câmara acaba de encerrar as velhas sentinas públicas junto à estação de caminho de ferro, sem indicar qualquer data para a reabertura.  
Enquanto isto, as novas instalações sanitárias públicas do parque de estacionamento junto ao Convento, foram privatizadas pelo concessionário da cafetaria, perante a evidente complacência da autarquia. A respectiva porta exterior e de socorro está sempre fechada à chave. O único acesso disponível é pelo interior da cafetaria. E como há uma escada, nada de cadeiras de rodas ou canadianas...
Se um dia destes a polícia surpreender turistas de cócoras, a aliviar-se na Calçada de S. Tiago, ou mesmo em plena Corredoura, vai ser naturalmente um pequeno escândalo. Embora a autarquia se esteja nitidamente a pôr a jeito.

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