domingo, 4 de junho de 2017

Silêncios e exageros condenáveis

Caiu como uma  bomba a reportagem referida na peça anterior,  sobre os lamentáveis acontecimentos no Convento de Cristo, uns recentes outros bem antigos. Um trabalho que veio confirmar mais uma vez o já bem conhecido axioma de Marshall Mcluhan "o meio é a mensagem". Tratando-se da RTP 1, um canal importante, a dita reportagem está a ter uma larga repercussão. O que origina o bem conhecido reflexo mimético. Vários media locais e nacionais procuraram agora imitar o Sexta às 9, noticiando o assunto, que na realidade têm ignorado ao longo dos anos.
Foi o caso, entre outros,  do semanário SOL, com pouca ou nenhuma felicidade:


Houve realmente desmandos, que provocaram estragos importantes e condenáveis durante as filmagens referidas. Mas escrever que "Convento de Tomar fica parcialmente destruído", não é verdade, nem mentira, nem sério. É simplesmente exagerado e despropositado. Além disso,  cúmulo da pouca sorte para o jornalista autor da notícia, a foto é antiga. Tem mais de sete anos, apesar de não estar referenciada como foto de arquivo, em desacordo com as boas práticas da profissão. Engana portanto os leitores menos atentos.
Chegou-se a essa conclusão olhando com atenção para o remate superior da parede sul, entre os três coruchéus, aquelas pequenas torres pontiagudas:


Está tudo muito perfeitinho, não está? Então faça o leitor o favor de olhar agora para estas fotos tiradas ontem à tarde:




Afinal, uma parte importante do remate da parede sul do coro já lá não está. Que aconteceu entretanto? Estragos originados pelas filmagens? 
Entre as duas fotos, a publicada no SOL e a obtida ontem, houve o tornado de 7 de Dezembro de 2010, que destruiu parte importante do coroamento do coro alto manuelino. Já lá vão quase sete anos, mas entretanto só Tomar a dianteira noticiou o facto aqui, em 25 de Agosto de 2011. Há mais de cinco anos! Sem qualquer resultado, claro está. Porque todos os outros, incluindo os políticos que temos, os jornalistas e a autarquia, se mantiveram mudos como carpas. O costume. 
Agora porém toda a gente se mostra muito indignada, após ver na RTP 1 que as coisas não vão nada bem pelas bandas do Convento de Cristo. Mas entre o tornado de 2010 e os desmandos de 2017, o que fizeram em defesa do monumento? Comentaram? Indignaram-se? Queixaram-se? Reclamaram? Pediram? Noticiaram sequer?
Foi uma falha, vão se calhar alegar em sua defesa. Mas não é. É apenas e só o habitual nesta pobre terra. Continuam a considerar que "o calado foi a Lisboa e não pagou nada". Pois aí têm o resultado! Sete anos e aquilo que foi destruído pelo tornado no Convento continua por restaurar. Num monumento Património Mundial! E agora estão convencidos que alguém vai ser responsabilizado pelos incidentes das filmagens? 
Por favor tenham vergonha. Não venham com a história de que foi um lapso. O Convento está cheio de problemas, além dos denunciados na reportagem do Sexta às 9. Segue-se a ilustração de mais quatro: Entrada miserável, péssimo acolhimento dos visitantes, piso do jardim de entrada sem adequada manutenção, Torre de menagem às escuras.

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Com este magnífico portal manuelino dez metros mais adiante, tem algum jeito que a entrada se faça, como mostram as duas fotos seguintes, por  onde não cabem carrinhos de bébé, nem cadeiras de rodas, nem obesos?:


Ainda não estamos na época alta e esta tarde a fila já era assim. Agora imagine-se como vai ser em Julho e Agosto. Tudo porque só há um funcionário a vender bilhetes.
Mas há mais:



O piso da parte central do jardim da antiga Praça de armas, em tempos recoberto com saibro periodicamente, para contrastar com o verde adjacente, agora está neste lindo estado. Se algum visitante torce um pé, de quem é a culpa? Do visitante. Só pode!
A estes três aspectos que envergonham, junta-se o caso já caricato da iluminação da torre de menagem do Castelo dos  Templários, às escuras há mais de três anos, por não haver quem mude as lâmpadas e/ou repare o projector. É à autarquia que incumbe a manutenção da instalação eléctrica exterior, mas é o Convento que tem a chave de acesso ao referido local...
Perante tudo isto e bem mais, a Câmara cala-se, a Assembleia cala-se, a informação local cala-se, os tomarenses calam-se, a grande informação tem mais com que se ocupar...e o IGESPAR, bem instalado no Palácio nacional da Ajuda, a 130 quilómetros daqui, vai aproveitando para embolsar mais de um milhão de euros anuais. Apesar de se estar nas tintas para o Convento e para os tomarenses, como acaba de demonstrar a reportagem do Sexta à 9.
Abraham Lincoln, presidente dos USA, foi bem claro, já lá vão quase dois séculos: "Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em cobardes."
E pouco a pouco, também cidades outrora importantes em vilórias decrépitas do interior rural, acrescenta o escriba destas linhas, pedindo desculpa caso ofenda alguma alma mais sensível. Porque nesta desgraçada terra já se é condenado até por se  escrever a verdade inconveniente.

4 comentários:

  1. No caso do convento, é uma evidência, que o meu caro é e sempre foi, um conhecedor e defensor.
    Na questão do serviço público de informação e agora desta “indignação” popular, o Amigo é a excepção que incomoda e denuncia.
    Já no caso da opinião pública, continuo na minha, é tempo perdido, Tomar é e tem o que os que cá vivem querem ter.
    Abraço e boas caminhadas.

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  2. Obrigado amigo Alexandre. Concordo consigo. Continuo a escrever quase unicamente para ir despejando a cabeça e assim dormir mais descansado.
    Mas a esperança é a última coisa a morrer.
    Gostei muito de uma chalaça que li no Expresso de ontem, na revista E:
    Chegou o mensageiro divino e disse: -Dentro de dez minutos vem uma onde gigantesca que vai submergir o Mundo. Perante isto, o ouvinte católico começou a rezar pela sua salvação e o ouvinte protestante procurou logo deixar as suas contas em dia. Quanto ao ouvinte judeu, esfregou as mãos e pensou para consigo: -Ainda tenho 10 minutos para aprender a respirar debaixo de água.
    Lido o texto, senti-me um pouco judeu. O que não me surpreendeu. O meu pai era Gabriel, o meu avô paterno Joaquim e o meu bisavô Daniel, tudo nomes judaicos...

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  3. Não podia estar mais de acordo com Alexandre, sem duvida Tomar tornou-se num bando de avestruzes, escondem a cabeça na cabeça na areia, não por mêdo, mas para não incomodar, pois sabem que quem incomoda não come, força Rebelo és o unico que sem papas na lingua dizes as verdades, abraço.

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  4. Não podia estar mais de acordo com Alexandre, sem duvida Tomar tornou-se num bando de avestruzes, escondem a cabeça na cabeça na areia, não por mêdo, mas para não incomodar, pois sabem que quem incomoda não come, força Rebelo és o unico que sem papas na lingua dizes as verdades, abraço.

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