A três meses e meio da próxima consulta eleitoral, em Tomar domina o nevoeiro cerrado, apesar do brilhante céu azul. Enquanto eleitores informados, que sabemos afinal nesta altura? Pouco, demasiado pouco para incitar ao voto. E há quatro anos a abstenção bruta (abstenção, mais votos brancos, mais votos nulos) já chegou aos 55%. Um dado que convém ter presente, sobretudo agora que, de acordo com os especialistas, em França, Macron venceu as presidenciais e conseguiu uma maioria esmagadora nas legislativas, graças à elevada taxa de abstenção, que atingiu os 51% nestas últimas, com uma média de 14 candidatos para cada lugar em disputa. Situação praticamente oposta à de Tomar, em que apesar dos tais 55% o PS apenas logrou uma maioria relativa em 2013.
Sistemas eleitorais diferentes. Uninominal a duas voltas além-Pirinéus, proporcional neste recanto à beira mar. Mas a mesma falta de clareza em ambos os casos. Ao que tudo parece indicar, um produto da convicção segundo a qual a ambiguidade e o mutismo possível granjeiam muitos sufrágios. Se assim é, em Tomar os candidatos já conhecidos são uns verdadeiros artistas captadores de votos.
Até agora apresentaram-se seis corredores, tendo cada um deles dito só o estritamente indispensável. Assim ao estilo quem pouco sabe, depressa o canta. Nenhum deles parece ter o hábito da escrita, comungando todos no uso de chavões, evidências e frases feitas, na oralidade. Uns mais do que outros, é claro. Vejamos mais em detalhe, por ordem do respectivo anúncio de candidatura.
Anabela Freitas apresentou até agora, mais de forma implícita que explícita, o resultado da sua acção no actual mandato. Com todo o ar de pensar que isso bastará para nova vitória, mesmo tangencial como em 2013. Logo veremos. Mas, à excepção de Bruno Graça, se nenhum outro candidato pode valer-se daquilo que já fez, Anabela Freitas e a CDU tão pouco podem contar com o benefício da dúvida.
No caso da candidata socialista, o nevoeiro adensou-se ainda mais com a recente apresentação do acordo PS/IpT, que não sendo uma coligação, ninguém consegue por enquanto vislumbrar o que possa vir a ser. Prova disso é que nem sequer foi ainda dito se Pedro Marques vai ou não na lista socialista, ou que poiso lhe está destinado. O seu lema parece ser votem Anabela Freitas, votem PS, o importante é a obra feita. o resto logo se vê. O programa e a lista podem vir a ser apresentados no próximo dia 23.
O candidato laranja, Luís Boavida, granjeou inicialmente algum apoio, mesmo fora do partido, ao vencer António Lourenço dos Santos, que antes apresentara, em vários actos pré-eleitorais bastante concorridos, as grandes linhas do seu programa. Após essa vitória interna, tem de reconhecer-se que as coisas não têm corrido de feição ao candidato social-democrata. Paira sobre ele um silêncio de chumbo e aquela infelicidade da sopa de corno. Nesta altura da disputa, não se conhece nada do seu eventual programa, nem se sabe quem virão a ser os seus parceiros, quanto mais agora porquê. Resta-nos o seu lema de campanha: "O importante são as pessoas".
Parece-me pouco, pois para os restantes concorrentes o importante também não são os animais. A não ser talvez para Américo Costa, mas já lá iremos.
O terceiro candidato foi o tomarense Luís Santos, pelo BE, que naturalmente sabe que vai apenas para animar a compita. Teve o mérito de elencar uma série de acções prioritárias caso seja eleito, coisa que nenhum outro fez ainda. O seu lema é claro, uma vez que representa a esquerda festiva: O importante é a festa. A dos Tabuleiros, no seu caso.
Concorro para ganhar é o lema de Nuno Ribeiro, pelo CDS, que está a lograr evidenciar uma insuspeitada implantação da direita civilizada no concelho. Infelizmente, quanto a programa eleitoral, tirando a cultura e a arqueologia, não se sabe por enquanto ao que vai.
Bruno Graça é o candidato veterano. Vai apresentar obra, nos pelouros que lhe foram confiados e marcou o próximo dia 24 para anunciar o seu programa. O seu lema é o da CDU, pela qual concorre como independente: Trabalho, honestidade, competência. O pior é o resto.
O mais recente candidato é o independente Américo Costa, pelo Partido Trabalhista. Único candidato que não é funcionário e conhecido militante ecologista, conquanto ainda não tenha apresentado qualquer programa, já se sabe qual será o seu lema: O importante é o Nabão sem pouluição.
Assim estamos, neste agora canicular mês de Junho. Depois queixem-se que os eleitores preferiram ir passear em vez de ir às urnas.
Sem comentários:
Enviar um comentário