domingo, 11 de junho de 2017

Afirmações incongruentes

Na sua evidente ansiedade face à inesperada situação alarmista, desencadeada pela reportagem do Sexta às 9 na RTP 1, procurando minimizar tanto quanto possível os danos infligidos e os riscos corridos pelo património, durante as recentes filmagens no Convento de Cristo, um dos seus técnicos superiores, que já foi director do monumento durante 8 anos, vai fazendo declarações cada vez mais incongruentes. 
Aqui há dias, sustentou que as árvores do Claustro da Hospedaria iam ser substituídas em Dezembro de 2016 e só ficaram porque a produção do filme assim pediu. Isto para justificar o seu posterior sumiço, devido a terem sido queimadas durante a tão falada fogueira com gás de 40 botijas de propano. Questionado sobre a justificação para substituir as ameixeiras, disse que não eram árvores autóctones (o que é falso), pois tinham sido plantadas para as filmagens de um outro filme, há 15 ou 20 anos atrás
Ficou-se assim a saber que, além de consentir fogueiras com dezenas de botijas de propano, a direcção do Convento também já aceitou alterar de forma durável o aspecto geral de pelo menos um claustro, só  para satisfazer as necessidades de uma produtora de filmes. A troco de quê? Na altura ainda não havia taxas oficiais fixadas.
Agora o mesmo técnico superior de conservação reincide. Em declarações à agência Lusa, publicadas pelo Observador e que podem ser lidas na íntegra aqui,  avança esta coisa espantosa:


Portanto, já há 11 anos se acendeu no Convento de Cristo, para a rodagem de um filme, uma outra fogueira, sob a orientação da mesma empresa espanhola de efeitos especiais que, segundo Barbosa, costuma fazer "coisas do género" em Mérida. Esse outro filme, "Santa Teresa de Ávila", arrasta inevitavelmente uma pergunta: Porque não fizeram a fogueira do auto da fé e as respectivas tomadas de imagens em Ávila?! Porque não há lá terreiros, claustros ou conventos? Ou porque os espanhóis cuidam e protegem o seu património, não tendo concedido a indispensável autorização, porque não se vendem por pratos de lentilhas, tanto por cima como por baixo da mesa?
Outro tanto acontece com este filme de 2017. Segundo o experiente e culto Álvaro Barbosa, em declarações durante a antes citada entrevista, "As cenas incluíram o cenário alusivo a uma festa que se realiza em Valência, Espanha [refere-se à Fallas de Valência], em que os objectos velhos são queimados numa pira que tem no topo uma imagem de uma santa, que também arde." Assim sendo, o que terá obstado a que a dita cena  tenha sido filmada em Valência, no local próprio? Não havia naquelas bandas da Comunidade Valenciana nenhuma imagem de santa disponível? E como terá ardido a imagem, se noutro passo Barbosa garante não ter havido nenhuma grande fogueira? Por artes mágicas?
Ainda no mesmo excerto, uma outra afirmação merece atenção. Sustenta o citado ex-director do Convento que uma seguradora aceitou fazer um seguro de 2,5 milhões de euros. Se estava tudo tão controlado; se havia tantos meios de socorro prontos a intervir; se o que foi feito não tinha qualquer perigo de monta; então o seguro de 2,5 milhões de euros foi para cobrir o quê? Os atributos capilares do realizador do filme?
Concluindo, garante o citado técnico de conservação que, durante as filmagens, "as visitas prosseguiram com normalidade". Prosseguiram mesmo? Então os autores das sete reclamações que deram entrada nos serviços competentes -e que foram referidas no programa televisivo- queixam-se de quê? Da temperatura?
Já havia as vitórias à Pirro, como a de Teresa May, na passada quinta-feira, em Inglaterra. Venceu mas perdeu a maioria absoluta e ficou bastante pior.. Álvaro Barbosa está a inaugurar em Tomar as declarações à Pirro. Mais umas entrevistas assim e terá confirmado inadvertidamente tudo aquilo que pretende ocultar quando fala.
Uma dúvida final: Todos os que participaram no filme, incluindo os figurantes, assinaram antes um documento nos termos do qual se obrigaram a guardar segredo. Porquê?

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