sexta-feira, 9 de junho de 2017

Estou aqui Appio, protestando num deserto sem camelos

Appio Sottomayor escreve n'O Templário de 08/06/2017 um texto limpo. Uma daquelas prosas de qualidade, que enriqueceram durante anos o desaparecido vespertino A Capital, entretanto finado. A TV não perdoa. No final da sua peça, tem a amabilidade de referir o meu nome, uma das "vozes que sabem bradar e fazem eco!", concluíndo com uma interrogação: "Meu caro António Rebelo, onde anda você?"


Estou aqui, amigo Appio. Onde sempre estive. A bradar, para usar o seu vocábulo, contra o que me apoquenta. Porém com pouco ou nenhum eco, num deserto sem camelos. Continuo portanto, mais por caturrice, por obstinação doentia, do que encorajado por sinais de eficácia. Arcando com acusações de agressividade e tomadas de posição polémicas. Tomar é assim, como você bem sabe, porque é tomarense pelo coração.
Neste caso do Convento de Cristo, deflagrado não sobretudo pela sua importância real, mas mais pelo diferendo entre o realizador do filme e o produtor Paulo Branco, com este a servir-se habilmente da sua agenda social e do poder da TV, tive a nítida sensação de estar a pregar no deserto. Disse e insisti, no meu blogue tomar a dianteira 3, que os alegados danos e outras anomalias, não eram uma causa e sim uma consequência. Explicitei os diferentes aspectos que fundamentam tal ponto de vista. Concluí que a causa de tudo reside na inaptidão da entidade que tutela o conjunto monumental e no modelo de gestão adoptado, que entretanto se tem revelado cada vez mais obsoleto.
Tudo em vão. Se bem compreendo, do ministro ao normal leitor do Templário, todos estão aguardando as conclusões do prometido inquérito e, sobretudo, as eventuais punições, que naturalmente ficarão para o dia de S. Nunca à tarde. O costume.
Cavalgando a onda, a senhora presidente da Câmara insiste na sua proposta de gestão partilhada do Convento. Está cheia de razão. Se a mais de cem quilómetros daqui o IGESPAR, que pouco ou nada faz de realmente útil, embolsa mais de um milhão de euros por ano, porque não há-de a autarquia, que fica a cem metros e trata da toda a logística exterior, receber parte desse maná? 
Que importa que o Convento não tenha qualquer controle de segurança contra o terrorismo, que o horário seja demasiado reduzido, que só haja visitas guiadas mediante marcação com dias de antecedência, que o pessoal não tenha formação específica, que muitos visitantes se percam lá dentro, que a entrada se faça por um local ridículo, que aquilo em muitos aspectos seja uma autêntica rebaldaria? Muda-se qualquer coisinha e tudo poderá continuar na mesma. Desde que a autarquia também participe no banquete, como é justo. Ou há moralidade, ou comem todos! Ficam por resolver todos os problemas antes enunciados, é verdade. Mas isso agora também não interessa nada. Importante é calar os protestos. O resto, depois logo se vê. Sejamos optimistas!
Exageros meus? Que não, que não! Para esclarecer uma dúvida sobre os alegados estragos das filmagens, fiz-me ao caminho e lá subi a encosta mais uma vez. Chegado à capela de S. Jorge, após ter ultrapassado uma fila de 20 a 30 pessoas, vi com satisfação que o funcionário de serviço na bilheteira me conhecia, pelo que não mostrei o emblema de guia-intérprete, que me faculta entrada gratuita. Limitei-me a dizer-lhe, de forma resumida, o que ia fazer, por uma questão de consideração. A resposta veio seca: -Espere aí que tem de levar um bilhete. Assim fiz e lá recebi um bilhete gratuito. Só para a estatistica, na qual vai aparecer um falso visitante. Porque se eu sou visitante no Convento, então o senhor vigário também é visitante na igreja paroquial de S. João Baptista.
Entretanto, os turistas da fila lá terão ficado eventualmente a pensar coisas menos agradáveis a meu respeito, porque lhes passei à frente e no fim de contas também precisava de bilhete. Tudo porque o funcionário de serviço nunca teve formação nem instruções para lidar de forma escorreita com situações menos comuns. Caso contrário ter-me-ia deixado passar sem mais delongas, o que teria evitado perda de tempo e maus juízos dos turistas na fila, pois seriam levados a pensar que eu pertencia aos serviços do monumento.
É isto, prezado amigo Appio. Conseguiremos alguma vez algo melhor?
Desejo-lhe boa escrita e boa saúde.

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