quarta-feira, 7 de junho de 2017

Somos um país assim

Somos um país assim, que muitos estrangeiros não conseguem levar a sério, porque há uma evidente falta de rigor e se debitam baboseiras em série. O recente "Caso Convento de Cristo" veio confirmar tudo isso.
Programa corajoso, muito trabalhoso e objectivo, o Sexta às 9 da RTP 1 permitiu desta vez que os tomarenses tenham ficado a conhecer a triste e preocupante situação do Convento de Cristo em termos de tutela e de gestão, a qual autorizou, entre outras coisas, que entrassem e estivessem armazenadas num claustro 40 garrafas de gás propano! (Quem autorizou? Quem pagou? Quanto? Quem recebeu? Isso o programa não referiu. Falta de informação credível?) Os infelizes revendedores de gás são obrigados pela legislação em vigor a armazenar as garrafas longe de qualquer habitação e em locais bem arejados. Tratando-se da rodagem de um filme, os responsáveis devem ter concluído que, a haver alguma explosão, também seria só cinema. Ou haverá outra razão, relacionada com os bolsos?
Mas lá está, para os conhecedores, entre os quais peço licença para me incluir, a credibilidade do programa sofreu um rombo desnecessário, ao revelar falta de rigor. Entre outros lapsos, Luís Graça aparece identificado como Jorge Custódio, e este como Luís Graça. Quanto ao claustro principal, passou a ser de D. João II, em vez de D. João III. Não tem grande importância, nem alterou o essencial? É verdade. Mas quem garante que não terá havido outros lapsos mais graves? Lá diz o provérbio, que "cesteiro que faz um cesto, faz um cento". 
Outro tanto tem vindo a suceder na imprensa escrita. Ainda ontem O Público identificava um dos claustros como "do silêncio", confundindo o Convento de Cristo com o Mosteiro de Alcobaça. O mesmo periódico reincide. Na sua edição de hoje, 07/06/2017, página 28 - Cultura, publica isto:


Tudo muito certinho, não está? Só é pena o deputado Hugo Costa ser na verdade do PS. Ou já se terá mudado?
Poderá alegar-se que temos de ser condescendentes, que os jornalistas são forçados a trabalhar sob pressão, que não há tempo para revisões. Pois seja. Temo porém que a condescendência exagerada seja outra das chagas deste país. A que permite também que ninguém seja culpado.
E que dizer quando mesmo os alegados especialistas resolvem debitar insanidades? Em declarações citadas pela Rádio Hertz, que pode ler aqui, Álvaro Barbosa, arquitecto e ex-director do Convento de Cristo, fez estas considerações realmente assombrosas, segundo a notícia da fonte acabada de citar: "O especialista classificou os estragos como "marcas de rotina"... que podem acontecer "se um turista se sentar à beira de uma pedra", ou "se uma criança se colocar em cima da base de uma coluna".
Realmente, pensando bem, é capaz de haver mesmo turistas com o traseiro em ferro e crianças com ténis em aço inoxidável.
Perante dislates destes, que pena ainda não terem canonizado o Gualdim. Podia ser que nos valesse numa aflição assim.

Sem comentários:

Enviar um comentário