quarta-feira, 26 de março de 2025



S. Gregório ainda com o catavento manuelino, desaparecido no tempo do padre Mário Duarte.

Património histórico edificado - Capela de S. Gregório

Usurpar é fácil. O pior é depois.

Ermida de S. Gregório tem o telhado a cair | Tomar na Rede

A notícia está no Tomar na rede, (accionar o link supra) e o respectivo contexto é de tal forma torpe, que hesitei bastante antes de abordar o tema. O problema começa logo no título: "Ermida de S. Gregório tem o telhado a cair", escreve o jornalista, um pouco equivocado. Na verdade aquilo não é uma ermida, que por definição só pode existir num ermo, o que não é o caso, nem nunca foi. Trata-se antes de uma capela, arrabaldina se quisermos ser mais precisos.
Com origem no século XVI, o pequeno templo tem um duplo interesse -a sua forma exterior, com a galilé ou alpendre, e o portal em manuelino tosco. Nacionalizado em 1834, em conjunto com todos os bens das ordens religiosas, o monumento passou para a alçada da Câmara, que detinha a respectiva chave na Comissão de Turismo, até muito recentemente. 
Veio até a servir de arrecadação para as pedras lavradas da capela de S. Miguel, situada ao fundo do Mercado, e que veio a ser demolida para a construção do lavadouro público e central leiteira, no local onde agora está parte da Ponte do Flecheiro. As referidas pedras foram mais tarde transferidas para o museu lapidar da UAMOC, no Claustro da lavagem do Convento de Cristo, onde ainda estão.
A dada altura, em circunstâncias ainda por esclarecer, a Comissão fabriqueira das paróquias urbanas de Tomar descobriu que, tal como os outros monumentos do Estado, a capela de S. Gregório não tinha registo matricial nas Finanças, situação que se compreende, uma vez que, sendo do Estado, não pagam imposto, e se não pagam imposto, para quê o registo de propriedade, que é do domínio público?
Assim não o entenderam alguns servidores das paróquias nabantinas. Liderados pelo falecido padre Mário Duarte, registaram a capela nas Finanças em nome das Paróquias urbanas (ver imagem na notícia do TNR), após o que substituiram no telhado o catavento manuelino em ferro forjado, do século XVI, por um tosco Cristo crucificado em calcáreo da região. Ignora-se ainda hoje onde estará o catavento primitivo.
Já depois da usurpação ou apropriação indevida, uma das cabeceiras da galilé cedeu, e foi a câmara que teve de providenciar o seu escoramento e posterior consolidação. A situação repete-se agora, com o telhado em mau estado, a necessitar reparação urgente. (ver imagens)
Tão lestos a subtrair património público, os piedosos servidores da Igreja, em vez de mandaram reparar os estragos, usam o velho subterfúgio que consiste em alertar para alarmar, e assim conseguir que sejam os poderes públicos a pagar as obras. Os contribuintes do costume...
Já assim aconteceu em S. João Baptista, em que a câmara assumiu quase dois milhões de euros de restauro,  encargo que afinal cabia ao Estado, que tutela aquele monumento, e a maior parte deles em todo o país. Andam agora a preparar nova intervenção camarária, desta vez sem qualquer justificação válida, na parte norte do ex-Convento de S. Francisco, propriedade de legalidade duvidosa de uma associação privada, a Irmandade de S. Francisco de Tomar.
Tudo parece indicar portanto que, reverenciando S. Voto e Nª Srª da Vitória, a Câmara vai meter mãos à obra e mandar arranjar todo o telhado de S. Geegório, apesar da capela ser agora oficialmente um templo privado por usurpação praticada por funcionário público no exercício das suas funções. E não há ainda assim razão assaz forte para protesto, segundo a Câmara, entidade esbulhada que se cala. E quem cala consente. 
Agora, mesmo limpando e reparando todo o telhado, sempre deve ficar mais barato que o concerto dos Xutos & Pontapés, já contratados para final de Outubro. E até é capaz de vir a render mais votos, que em Tomar o rebanho do senhor, por enquanto, é mais numeroso que os admiradores da citada banda...






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