sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Turismo e vida local

Se percebem, por favor expliquem-me


Em declarações ao PÚBLICO, um arquitecto lisboeta, reconvertido há dez anos como guia turístico, lamentou-se amargamente. As restrições impostas pela visita do Papa e as JMJ, impedem-no de trabalhar, uma vez que não é possível circular com grupos em grande parte da zona histórica da capital. Justamente revoltado, o profissional de turismo rematou dizendo que não estava surpreendido, "A cidade não está preparada nem para os próprios moradores, quanto mais agora para grandes manifestações como esta."
Aqui em Tomar a Festa dos tabuleiros foi como se sabe, mas as críticas e as reclamações foram poucas, apesar da situação ser semelhante. "A cidade não está preparada nem para os próprios moradores...", havendo por exemplo falta de estacionamento e de limpeza. Mesmo assim, houve apenas algumas críticas leves, no Facebook e aqui no Tomar a dianteira 3.  Os outros não viram nada. O costume, desde 2013. A festa foi um imenso sucesso. Com um pequeno problema. Em 2019, custou pouco mais de 600 mil euros à Câmara, este ano já ultrapassou o milhão de euros. Um detalhe sem importância nenhuma.
Ou seja, perante situações comparáveis, enquanto os lisboetas protestam, os tomarenses calam-se e, pior do que isso, parecem estar contentes, defendendo o stato quo. Como está, está muito bem, parecem pensar. Conservadores? É pouco. Talvez múmias, que por enquanto ainda andam, mas raramente falam. Em qualquer caso, se percebem, por favor expliquem-me. Não quero ofender ninguém, mas também não consigo ficar calado.
Num tal caldo social, uma sumidade local, escrevendo sob pseudónimo, o que mostra a sua coragem, sinceridade e honestidade,  foi categórica ao defecar no Tomar na rede: "Os que criticam têm dois caminhos. 1 - Candidatam-se à Câmara; 2 -Metem a viola no saco e calam-se."
Ideia luminosa e peregrina, coincidente com a vinda do Papa em peregrinação! Como é que ainda ninguém tinha pensado nisso? Há apenas um pequeno óbice, mas coisa sem importância de maior. Em Portugal ninguém se pode candidatar individualmente. Ou arranja apadrinhamento partidário, e vai numa lista cozinhada, ou reúne e apresenta milhares de assinaturas de apoiantes, integrando uma lista independente, igualmente negociada. E com gente como a que há, se é contestatário, resta-lhe enfiar a viola no saco e calar-se. O conformismo em todo o seu esplendor. "Reina a calma em todo o país", como se lia nos comunicados de Salazar, quando se agravava a repressão, na sequência de raros protestos populares. É exactamente isso que pretende o nosso ditador falhado e encapotado. Ou será uma?
Com pascácios assim, torna-se cada vez mais deprimente viver em Tomar, mas ao dizer isto sei bem que estou a perder leitores, que se consideram ofendidos. Tomarense é assim. Só aceita a verdade quando é agradável. Se for incomodativa, é uma ofensa. Pobre terra, pobre gente, como venho escrevendo há anos, e o ambiente político local vai confirmando. Com notáveis excepções, felizmente!
Os leitores que vou perdendo? Escrevo para memória futura e nunca dependi nem  dependo do que escrevo. Por isso, "cantarei até que a voz me doa!" Para mais tarde recordar.


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