Património e turismo
Visitar o Convento de Cristo
passa a custar 10 euros a partir de Setembro
Somos uma terra assim. Com gente culturalmente como sabemos, cuja grande maioria ignora o que possa ser tolerância ou convivência. Mesmo os que vão à missa, e gostam muito do Papa Francisco. Não espanta por isso que haja certas reacções menos comuns.
Desta vez, bastou noticiar que a entrada no Convento de Cristo vai aumentar de 6 para 10 euros já em Setembro. Choveram logo críticas suaves, do tipo ladrões, é uma roubalheira, é para pagar as obras da janela, assim o tipo dos bilhetes tem mais margem de manobra, etc.
Opiniões desajustadas, que os apaniguados da maioria PS se abstiveram de apelidar de má língua, uma vez que não está em causa a querida senhora presidente de abalada. Compreende-se. Numa terra onde a maioria da população está habituada a depender do Estado para quase tudo (emprego, habitação, saúde, transportes, educação, cultura, divertimento, etc) lógico seria que a entrada no Convento fosse gratuita, como aconteceu durante décadas, uma vez que pertence ao Estado.
Só que, fora do vale do Nabão, os tempos foram mudando, de tal forma que agora se paga para entrar em qualquer monumento. Até no Castelo de Belver (4 euros, 2 euros para aposentados):
Palácio de Versalhes e jardins...................................................59 euros/pessoa
Palácio dos Doges de Veneza....................................................30 euros/pessoa
Alhambra de Granada e Generalife...........................................25 euros/pessoa
Sagrada família de Barcelona....................................................33 euros/pessoa
Mesquita-Catedral de Córdoba..................................................25 euros/pessoa
Jerónimos Lisboa.......................................................................12 euros/pessoa
Argumentarão os mais afoitos que isso é no estrangeiro, onde o nível de vida não se compara. Cumpre esclarecer desde logo que Lisboa não é no estrangeiro, e que o bilhete de 12 euros é só para o claustro, dado que a entrada na igreja dos Jerónimos é livre, por imposição da Concordada.
Além disso, a alusão ao estrangeiro é um argumento sem consistência. Em Espanha, por exemplo, o gás e a gasolina até são mais baratos que em Portugal, o mesmo acontecendo com os produtos alimentares, apesar de o ordenado mínimo espanhol ser superior ao português. Tomarenses pouco informados, porque pouco saem da cova nabantina, e ler cansa um bocadito. Mas convencidos do contrário e inflexíveis.
Segue-se que o aumento de preço das entradas no Convento pode ser considerado escandaloso, mas por razões bem diferentes. Designadamente porque nada muda, além do preço dos bilhetes, e há carências gritantes. Não há estacionamento suficiente, sobretudo para autocarros de turismo. A entrada no monumento está longe de ser a mais adequada ou sequer confortável. Faltam pórticos de controle. Não há cacifos para guardar os sacos e outros volumes dos visitantes. Os sanitários são poucos e mal situados. Visitas guiadas, só mediante pedido prévio, com pelo menos um dia de antecedência.
É esta estranha situação que choca. Aumentam os bilhetes, mas não eliminam as carências, que inclusivamente provocam a desistência de candidatos à visita, que não conseguem estacionar a uma distância razoável, aos fins de semana durante a alta estação.
É claro que a Câmara nada tem a ver com tal situação, embora o estacionamento seja da sua responsabilidade. O costume. Quanto à gestão do monumento, que vai passar para uma empresa pública, só ainda não foi entregue à autarquia porque tal nunca foi reivindicado. Mesmo com mais de milhão e meio de euros de receita anual, gerir 40 funcionários daria muito trabalho a eleitos sem experiência na área... Mais uma oportunidade perdida, no alegado rumo certo.
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