quinta-feira, 3 de agosto de 2023


Engenharia social camarária

Destruída a última barraca 
do acampamento cigano do Flecheiro


Começo por publicar a imagem do grupo municipal, cujo trabalho conjunto permitiu que agora já não haja barracas no Flecheiro. Vai passar a haver relva para passear o cãozinho ao cair da noite, quando o sol já se escondeu atrás do pinhal de Santa Bárbara. Com uma curiosidade já visível. Quando o terreno é acidentado, vêm as máquinas para terraplanar. Ali, como é plano, resolveram acrescentar uns montinhos. Passaremos assim a ter a Mata dos Sete Montes e o Flecheiro dos Montinhos. 
Era uma promessa do PS, que acaba de ser cumprida, ao cabo de 10 anos. Por isso, Vice-presidente, vereador, presidente de Junta, engenheiros, técnicos de serviço social, e outros, posaram sorridentes para a imagem. Merecem os parabéns pela tarefa cumprida, mas isso não os dispensa do que segue, que é apenas uma crítica política, porque os resultados previsíveis não serão os melhores, e aquilo que fizeram ali não foi nenhuma façanha. É para isso que os contribuintes lhes pagam.
Dirão decerto que foi a solução possível, porque não havia outra. Mas havia, e para aí terão de se encaminhar mais tarde. Só falta saber quando. Entretanto, a solução encontrada, uma operação de engenharia social, visando transformar nómadas em sedentários, acampados em residentes e seres humanos em cidadãos, só foi possível e inevitável tendo em conta a preparação académica peculiar dos seus impulsionadores, conjugada com  as opções partidárias socialistas. Aprenderam que proletários, imigrantes, ciganos e outras minorias, são vítimas indefesas do sistema capitalista, uma narrativa política como outra qualquer, e vá de tentar salvar algumas vítimas, o que até agora conseguiram com êxito relativo. O pior é o que está para vir. Mas também posso estar a ver mal. Por favor abram-me os olhos, se puderem e souberem. Deixem-se de preconceitos.
Enquanto tal não conseguem, façam o favor de pensar um bocadinho num caso curioso, relacionado com as alegadas vítimas do sistema capitalista: Porque será que os mexicanos, que têm segurança social e outras regalias, a caminho do socialismo, insistem em fugir para os Estados Unidos, país capitalista por excelência, onde tais benefícios sociais não existem? Serão masoquistas?
Há desde logo, em todo este caso do Flecheiro, uma evidente discriminação pela positiva e uma  óbvia impreparação dos técnicos e dos assistidos. Quanto a  estes, não basta facultar alojamento a quem sempre viveu em acampamentos improvisados. Tem de haver toda uma preparação, nomeadamente em relacionamento social, que até à data não foi efectuada, nem consta que esteja prevista. Que se saiba, as únicas obrigações dos realojados são o pagamento da renda, da água e da luz, e mandarem os filhos à escola. Regra geral, só esta última condição é mais ou menos cumprida, sob pena de deixarem de receber as prestações sociais a que têm direito.
Água, luz e renda de casa bonificada, são um verdadeiro mistério. Na Azambuja vão agora começar a expulsar quem não paga rendas mensais de 5 a 50 euros, segundo O MIRANTE, (ver link infra), mas em Tomar não se consegue saber quanto paga cada família, nem se têm ou não os pagamentos em dia. Perguntou-se à Câmara, em tempo útil e ao abrigo da Lei do direito à informação, quantos alojamentos sociais possui, qual a renda de cada um e quantos não pagam a renda há quanto tempo, mas a resposta foi bem curta. Apenas forneceram o total de alojamentos sociais -220 naquela altura. Porque será?


Temos assim casos evidentes de discriminação pela positiva, havendo cidadãos que são beneficiados em função da sua etnia, como é caso, uma vez que pagam (ou deviam pagar) rendas inferiores às de outros cidadãos, sob pretexto que têm menos rendimentos, quando afinal até têm mais, mas não os declaram. Por esta via, começa a valer a pena, por ser bem mais confortável, deixar de trabalhar e passar a viver das prestações públicas assistenciais e das actividades não declaradas ao fisco.
Tal é o nó do grave problema de convivência dos nossos dias, como se viu há pouco tempo em França. Os privilegiados pelo sistema assistencial europeu consideram-se acima das leis, que por isso mesmo não respeitam, revoltando-se quando as autoridades apenas procuram manter ou restabelecer a ordem e a paz social.
Neste caso do Flecheiro, havendo efectivamente um avanço evidente, bem vistas as coisas, acabaram com um problema (o acampamento ilegal), mas arranjaram vários outros em potência, no Bairro Calé, na Senhora dos Anjos, no 1º da Maio, no Bairro da Caixa e por ai fora, quiçá sem disso se darem conta nos altos escalões.
E daí, já não sei bem. A Câmara acaba de contratar cinco novos técnicos de serviço social, assim como quem compra guarda chuvas em Novembro, quando começa a invernia. Mas a outra solução possível -aquela que sempre defendi- continua disponível. Coragem, precisa-se. Os problemas não tardarão, e serão cada vez mais graves. Como sucede por essa Europa fora, com os mesmos minoritários mal integrados na sociedade.




Sem comentários:

Enviar um comentário