sábado, 19 de agosto de 2023




Restauro e conservação do património

A lavagem da janela do capítulo

É grande o contentamento na cidade, porque retiraram finalmente os andaimes e já podemos admirar de novo a Janela do capítulo, agora de cara lavada. Infelizmente, o aspecto não é o melhor, o que já levou alguns arautos do restauro a proclamar que "um dos propósitos da intervenção em património é "a restituição da leitura" da obra artística". Pois. Não se vê como, mas adiante...
Se bem entendo, uma vez que não sou arquitecto, nem engenheiro, nem pintor, nem mestre de obras, num país e numa terra de especialistas em ideias gerais, parte-se do princípio que limpando e lavando qualquer obra artística, ela fica com o aspecto que tinha quando foi feita. É isto?
Dado que estudo e observo a Janela e o Convento de Cristo há 70 anos, consigo detectar alguns detalhes que escapam à generalidade dos visitantes, e mesmo de alguns alegados especialistas. Foi por isso, creio eu, que reparei numa diferença importante. Limpando e lavando, a obra fica com aspecto de nova, mas perde a tonalidade dos séculos entretanto decorridos desde a edificação. Fica tipo pneu recauchutado.
As duas imagens supra não deixam margem para dúvidas. Numa, a Janela do capítulo sem a "camada de pele" ou patine dos seus cinco séculos, com aspecto de passada pela lixívia. Na outra, o Portal da virgem, da mesma época da Janela, e esculpido no mesmo tipo de calcáreo. Protegido por um baldaquino, nunca criou micro-vegetação, por carência de humidade, pelo que não houve nem há necessidade de limpeza ou lavagem. Temos portanto um portal com cinco séculos, com o verdadeiro aspecto exterior dessa idade, ao contrário do que acontece com a "nova" Janela do capítulo. O tempo acabará por mostrar se além de destruírem a patine, acabaram por contribuir também para a degradação da obra.
De qualquer forma, não se lhes pode levar a mal. Apenas procuraram ganhar algum dinheiro. Sejamos portanto magnânimos. Conforme disse o outro: "Perdoa-lhes pai; eles não sabem o que fazem."


3 comentários:

  1. Perdoar é cristão, mas neste caso eles sabiam o que faziam!!
    Como disse a preservação de alguma " patine " na janela devia ter sido mantida , monitorizando sempre se alguma vegetação que pode criar raízes e afetar a própria pedra por quebra mecânica da mesma.
    Daí a decisão de proceder a uma limpeza não agressiva para retirar a cobertura vegetal excessiva ser indicada.
    Não foi o caso , manifestamente foi feita uma limpeza agressiva e intrusiva da pedra , como se pode comprovar por observação detalhada. A própria cor atual da pedra denota essa limpeza agressiva.
    E como diz, dentro de algum tempo os efeitos dessa agressão vão ser patentes e terão de ser objeto de uma recuperação minuciosa, como poderia ter sido feito agora.

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    1. Mantenho que não sabem bem o que fazem, ou fingem que não sabem, pois na lavagem da igreja renascença da Atalaia foi um verdadeiro desastre. Basta comparar o aspecto dos medalhões nas fotos a preto e branco, do tempo da DGEMN, com o que têm agora. Uma desgraça. AS arestas parece que foram passadas à lixa nº 3. E no entanto a empresa ostenta no seu currículo profissional "limpeza da fachada da igreja da Atalaia". Devem considerar que tanto a Atalaia como Tomar são uma espécie de república de lorpas. Cegos e mudos quando convém.

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  2. Nos Jerónimos fizeram o mesmo. Aplicarem jacto de areia e lixarsm aquilo tudo. Entrámos na era pimba do restauro. É ainda há quem critique a velha beata responsável pelo restauro do Ece Homo.

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