quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A Corredoura não é tão ampla como o Parque Eduardo VII, nem coisa parecida. Nada de ilusões.

Festa dos tabuleiros

Nove mil quilos de pão pago com os nossos impostos e atirado para o lixo, é aceitável ?


Tomar a dianteira 3 já tentou, por diversas vezes e de vários modos, levar os responsáveis locais da Festa dos tabuleiros a alterar o habitual modelo de organização, até agora sem resultado. Ou, melhor dizendo, indispondo pessoas e arranjando inimigos, daqueles tipo cão que nunca larga o osso. A posição geral é sempre a mesma: "O gajo é contra a festa e contra os tomarenses."
Dado que essa treta caluniosa está a perder força, acontecendo o mesmo que aos cachorros, que nascem cegos, mas abrem os olhos ao fim de certo tempo, os defensores da festa vão procurando continuar ao ataque, baseados naquele princípio do futebol, segundo o qual a melhor defesa é um bom ataque. Aqui há dias, foi a presidente de abalada que, após prometer uma estimativa dos visitantes para 9 de Agosto, conforme está escrito na informação local,  veio agora acrescentar que vieram à festa um milhão e cem mil pessoas, e prometendo mais informação para 5 de Setembro.  Em que se baseia tal cálculo? Porquê só em Setembro? Mistério.
Escassas horas mais tarde, a comissão dos tabuleiros veio confirmar novidades para Setembro, aproveitando para avançar com uma falsidade do tamanho de um comboio. Segundo eles, contas da festa deste ano só em Setembro, o que nesta era de computadores e de acordo com os padrões europeus só pode dar que pensar, por levarem tanto tempo a cozinhar um prato banal, mas acrescentam que as contas da festa anterior, em 2019, registaram um saldo positivo de 59 mil euros:


E falam de investimento. Deduz-se portanto que, finda a festa, restaram em caixa um pouco mais de 9% dos fundos avançados pela Câmara. Por conseguinte uma despesa a fundo perdido de 541 mil euros, vindos do orçamento municipal. Para beneficiar quem?
A história de manter a tradição e promover Tomar não passa disso mesmo. Uma historieta de encantar, para adormecer crianças grandes. Porque a dura verdade é esta: Nos velhos tempos, os tabuleiros foram um cortejo de oferendas, tendo como objectivo recolher pão e dinheiro para comprar carne e vinho, para depois ajudar a matar a fome reinante, mediante a distribuição da peza ao povo. Tempos que já foram, felizmente. Agora já ninguém passa fome, que as várias instituições subsidiadas pelo Estado não deixam. Nem os ciganos.
Ultimamente, pouca gente aparece pare receber a peza, apesar da oferta publicada, e os que vêm, querem é o vinho e a carne. Donde resulta que, apesar de comprarem pão fresco para distribuir, praticamente ninguém o quer, e assim o pão dos tabuleiros vai para o lixo, excepto uma ínfima quantidade, guardada para recordação. Será isto aceitável, na Europa em 2023, deitar para o lixo cerca de nove toneladas de pão, benzido pelo senhor bispo e pago com dinheiro dos contribuintes?
Não há pior cego que aquele que não quer ver, pelo que chega sempre a altura, mais tarde ou mais cedo, de o obrigar a encarar as coisas como elas são. Dirão os acérrimos defensores do modelo actual da festa que, de qualquer maneira, haverá sempre pão deitado para o lixo, qualquer que seja o novo figurino da festa, mas não é bem assim.
Desde logo porque, não tendo agora o pão dos tabuleiros qualquer utilidade real para além da simples ornamentação, porque não o substituir por pão de plástico, como aquele do megatabuleiro da Rotunda, que não choca ninguém, antes pelo contrário? Ficava muito mais barato e podia servir para várias edições da festa, mudando-se apenas as flores de papel ou naturais.
Mas o problema básico não é esse. É o do custo sem compensação, enquanto não soubermos ou não quisermos transformar o subsídio camarário e outros num investimento, em vez de uma simples despesa sem retorno. Mesmo que não venha a ter qualquer influência na decisão da UNESCO, sobre a candidatura tomarense, o que está por demonstrar, mais tarde ou mais cedo a Comissão Europeia arranjará maneira de nos levar a mudar de modelo organizativo. Basta recordar aquele membro holandês da referida comissão, que falou em "putas e vinho verde". Recordam-se? Porque é um escândalo de todo o tamanho, atirar para o lixo toneladas de pão, pago também com fundos europeus, porque está tudo ligado. E os protestantes do norte da Europa não gostam mesmo nada disso. Essa é que é essa!




5 comentários:

  1. Os seus artigos são regra geral bastante assertivos e vão retratando a triste situação de Tomar e do seu Concelho.
    Nota-se uma degradação acentuada e cada vez maior ,em que Tomar passa de uma situação de polo regional tendo uma situação económica, social e cultural bastante superior à das cidades e vilas do seu entorno, para uma urbe em contração , sem tecido empresarial que lhe dava o seu fulgor , e com uma pretensa aposta no turismo, sem nada que o justifique..
    Achando oportunos estes artigos , gostaria que se olhe para o futuro, tentado delinear um cenário a 10 anos e apresentar soluções para inverter esta situação, até para demonstrar que muito para além dos partidos políticos e sua corja de incompetentes ,Tomar pode ter um futuro melhor.
    Já sei que vai retorquir que não lhe interessa " dar o ouro aos bandidos " e expor os seus pontos de vista, mas em primeiro lugar escrever para memória futura talvez sirva de pouco porque se já hoje não ligam nenhuma, então irem ler no futuro ainda menos.
    Contrariamente ao Fernando Vieira que acha que o tempo de inverter esta situação já passou , não acho , até porque os resultados vão ser tão maus que até os mais lerdos vão perceber que esta cambada política tem de ser corrida da CMT.

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    1. Agradeço este seu comentário, no meu entender bastante corajoso, tendo em conta que em Tomar os acomodados são cada vez mais numerosos, e que com festas e subsídios não vamos longe.
      Destaco a sua frase "com uma pretensa aposta no turismo, sem nada que o justifique". Finalmente aparece um cidadão a denunciar publicamente a léria da actual maioria sobre o turismo e não só.
      Sobre a sua sugestão, a seu tempo se verá, sendo certo que o desenvolvimento de Tomar terá de ter forçosamente como base o turismo, na sua vertente de indústria que mais cresce no mundo. A não confundir com o que por agora existe no vale nabantino, excepto quanto a hotelaria e restauração.
      Mas vai ser extremamente difícil mudar, porque o problema de Tomar não é a ignorância e a falta de savoir faire. O problema é que os ignorantes estão convencidos que já sabem tudo e que os outros não valem nada. No actual contexto, ser lambe-botas é que está a dar. Embora em Tomar ninguém seja lambe-botas, como é evidente. Eu é que sou do bota-abaixo e um conhecido má-língua. Justamente porque a mesma nunca serviu nem serve para lamber botas.

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    2. Deixem-me precisar um ponto: Quando digo "As obras da Anabela são uma pesada herança que é deixada ao concelho e principalmente à cidade. O tempo de nos opormos a elas não é agora. Infelizmente, já passou", estava-me a referir aos estragos urbanísticos e funcionais da Anabela.
      Agora quanto à alternativa para o Concelho, estou tão empenhado (e entusiasmado) hoje como no dia em que dei a cara por ela.
      Certamente com soluções diferentes, mais pessoas e novas realidades políticas e sociais, mantenho o que disse no dia em que se contaram os votos:
      - Isto vai começar, ainda não acabou.

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  2. As expressões a seu tempo se verá , um dia destes, vou pensar nisso, entre outras são em regra sinónimo de nunca.
    Como sei que agora está em clima mais ameno e propício a escritas mais profundas, insisto em dar o pontapé de saída, com o problema de escolher áreas da governação autárquica que constituam os pilares da estratégia futura, visto que agora as áreas de intervenção das Câmaras são quase sufocantes para os privados.
    Turismo será pelos vistos uma delas, mas talvez começar por analisar as básicas e motivo de existência do executivo camarário.
    Infraestruturas ? Ordenamento e política territorial ?

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    1. Há que dar tempo ao tempo para obter as respostas pretendidas. O problema com os planos, mesmos os melhores, é que quando são levados à prática por outros que não o autor, geralmente falham. Há sempre detalhes que só o criador da ideia pode suprir. Em Tomar então...

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