quinta-feira, 5 de dezembro de 2024




Política camarária de habitação

Grandes empreitadas, grandes negócios, grandes desastres políticos...

Os leitores sabem que há em Tomar um longo rosário de problemas aguardando solução, mesmo se alguns cidadãos, por conveniência partidária, preferem não se recordar. Eis uma pequena lista: faltam parques de estacionamento, cá em baixo e junto ao convento; faltam casas de banho na zona norte da cidade, e manter abertas as que existem do lado oposto; falta alargar um troço da Estrada do Convento, para que os autocarros de turismo possam de novo subir e descer sem limitações; falta implementar os anunciados museus da fundição, da electricidade e da moagem, na Levada; falta requalificar o bairro 1º de Maio e o da srª dos Anjos; falta concluir o tão apregoado "museu de Sellium", atrás do quartel dos bombeiros, cujas obras pararam sem explicação; falta despoluir o Nabão; falta cuidar capazmente da velha Cerca conventual; falta cuidar dos Pegões, pondo de novo a água das quatro nascentes a chegar à Cerca e ao Convento; falta manutenção nos jardins; faltam planos com futuro, falta limpeza urbana; falta reabrir o parque de campismo...
Com uma lista assim pela frente, o presidente substituto, a menos de um ano das próximas autárquicas, insiste na construção em Tomar de alojamentos sociais. Como se Tomar fosse o Entroncamento, onde oposição até já votou contra uma importante verba a fundo perdido nessa área, procurando evitar novos realojamentos de casos sociais. E o PSD vai consentindo tudo, sem um pio sequer. Coisas...

Desta feita, como se pode ler, trata-se de 12 fogos de renda acessível (eufemismo para habitação social), em Marmelais, não sei se de "de cima", se "de baixo". Só sei que assim não sei bem onde é. De qualquer forma, segundo a notícia, 12 apartamentos por um milhão e oitocentos mil euros, e mesmo assim nenhum empreiteiro lhe pegou. Eles sabem que o Estado e as autarquias não discutem preços, e coligados no chamado "cambão", vão forçando o aumento considerável do investimento público caso a caso.
Um milhão e oitocentos mil euros para 12 alojamentos a custos controlados, e mesmo assim o concurso ficou deserto.. Gente rica, é o que é. Se fosse no sector privado, para rentabilizar o investimento na ordem dos 10%, a renda de cada apartamento teria de ser de 1.250€/mês. Só para gente abonada, portanto.
Mas isto é uma visão reacionária da coisa, como diria o Raimundo. A Câmara vai aumentar o preço-base. Que remédio. Depois os apartamentos serão para os "desgraçadinhos" do costume, com rendas ao alcance das bolsas respectivas, e os contribuintes a arcar com o resto, uma vez que as famílias com capacidade para pagar rendas normais são cada vez menos e não querem misturas com etnias e outras minorias.
Tudo bem portanto? Até certo ponto, sem dúvida. O problema é que, conforme demonstra a experiência já colhida, chega sempre a altura em que "a cadela não pode com tanto cão". Como está agora a acontecer em França, a 3ª maior economia europeia, com o governo a cair devido a uma moção de censura, votada conjuntamente pela esquerda unida (NFP) e pela extrema direita (RN), devido a divergências orçamentais na área da...Segurança social. Ele há coisas! E logo em França, cuja dívida pública é a mais elevada da UE, (60 biliões de euros de juros anuais), o que a coloca a beira de uma crise financeira, que seria desastrosa para as exportações portuguesas, por exemplo.
Estes europeus! Já nem os franceses, tradicional farol da esquerda portuguesa, se lembram que é tudo muito bonito, designadamente na área social da habitação e realojamento, mas alguém tem de pagar. De assumir custos. Financeiros e políticos. Inevitavelmente. E tanto o Muro de Berlim, como os outros regimes pró-soviéticos de leste, de certeza que não colapsaram em 1989 por mero acaso. Convém lembrar, porque já o Lavoisier repetia que "as mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos", e nunca ninguém o desmentiu até hoje.

ADENDA

Além do já exposto, não parece haver falta de habitação em Tomar, numa época em que a população está a diminuir a olhos vistos. Prova disso, a própria Câmara conseguir realojar em pouco tempo cerca de 250 pessoas provenientes do Flecheiro, sem edificar novos imóveis. Por conseguinte, em Tomar há falta de habitação, ou simplesmente falta de apartamentos quase de graça, à custa dos contribuintes?
Custa escrever isto, mas os nossos eleitos parece que ainda não entenderam o óbvio: o realojamento de casos sociais, imigrantes ou minorias étnicas, é louvável em termos morais, mas na prática afasta outros eleitores, daqueles que trabalham, que pagam impostos e rendas de casa normais, os quais tudo fazem para se manter afastados de certos vizinhos que consideram incómodos porque mal comportados. Racistas? Sem dúvida. É a vida...


2 comentários:

  1. Já reparou que o preço dos apartamentos em Marmelais é o mesmo na chorumela, 150 mil euros cada. Só que na chorumela são o dobro, talvez dê para fazer mais barato assim.

    Eu estou de acordo consigo quando diz que não há falta de habitação em Tomar, até porque no centro da cidade houve bastante construção nos últimos anos. Em finais de Setembro, quando lá estive pela última vez, andavam a ser construídos três novos, dois ao pé do Bonjardim e um em frente ao mini preço. É capaz de haverem mais a serem construídos e eu não me apercebi. E se nós consultarmos os sites do idealista e imovirtual aparecem muitas oportunidades, algumas com 7 dias!!! Um dos factores para as casas e rendas estarem mais caras é, além dos impostos, as agências imobiliárias que se "alambazam" com as comissões. Metem uma gaja boa, e simpática, sempre a sorrir, de mini-saia e a cheirar bem e está a venda feita.
    É como o professor diz, querem a habitação de graça, o estado é pai e mãe. A cadela não aguenta com uma ninhada tão grande...

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  2. E não se compreende como é que com tanto emprego qualificado em Tomar, com duas empresas de tecnologia e uma de serviços administrativos de uma grande empresa, uma marca mundial, ser preciso habitação a custos controlados.

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