Política local
Ainda o disparate do pseudoprovedor municipal
L'affaire est entendue, como é costume dizer-se nos tribunais franceses. Só por si, o caso não mereceria mais dez linhas de texto. Há porém as implicações. Que são muitas e são graves. Daí mais esta derradeira crónica a propósito.
Num daqueles devaneios típicos de certos eleitos principiantes, com ambições de ficar na história, quanto mais não seja local, a presidência da Câmara lembrou-se a certa altura de avançar com a escolha e nomeação de um provedor do cidadão, que chamou "do munícipe", se calhar por pensar implicitamente que os cidadãos são propriedade do município, quer queiram ou não.
O início até foi prometedor. Escolha por consenso entre todos os partidos, nomeação idem idem. O problema só começou quando o primeiro sondado recusou liminarmente, e a presidência, que julgava estar a oferecer uma honraria irrecusável, se sentiu vexada.
Desde então, e já lá vão meses e meses, o assunto passou a "questão pessoal". Deixou de se falar de consenso interpartidário e a presidência indicou um nome que, não estando em causa a simpatia nem a categoria do próprio, deixou o pessoal boquiaberto. Não é um provedor que se pretende, mas um pseudoprovedor. Um comissário político PS, para desencorajar os cidadãos mais audazes, que já são pouquíssimos. E naturalmente a oposição votou contra, aquando da indigitação no executivo.
A votação final está marcada para amanhã na sessão da AM, naqueles termos tão do agrado da presidência, que proclamou em tempos "não há ninguém mais forte do que eu". Um braço de ferro, uma prova de força, um desafio, entre a presidência e os restantes eleitos. Como nas bem conhecidas votações sobre a Tejo Ambiente, sobretudo o seu preçário...
Não se está a ver o Chega nem o CDS a votarem favoravelmente. Mas os social-democratas podem registar alguma oportuna ausência da sala, para pagar um favor, como já aconteceu. E sobretudo os três eleitos de esquerda podem ter tentações, influenciados por ajudas a umas colectividades amigas.
Se tal vier a acontecer, teremos um pseudoprovedor, cuja importância real será equivalente à de um litro de água destilada em cem litros de vinho, para não dizer nula. Se, pelo contrário, houver maioria para chumbar a proposta de nomeação, então aí terá ganho a decência, terão ganho em credibilidade os partidos de extrema-esquerda, cuja queda em Tomar tem sido vertiginosa desde 2015, e terá ganho o próprio concelho, pois quebrada finalmente a sua presuntiva força política, pode ser que a presidência ainda venha a conseguir fazer algo de jeito até final do mandato. Já vai sendo tempo, ao cabo de mais de dez anos de balelas, propaganda, ornamentações e festarolas.
Sem comentários:
Enviar um comentário