quarta-feira, 26 de abril de 2023

 


Comemoração do 25 de Abril na AMT 


“LIBERDADE(S)”


Opinião 


David Cascaes - PSD

De 1974 a 2023, 49 anos passaram e temos o privilégio de por mais um ano  solenemente comemorar a LIBERDADE, nesta Sessão da Assembleia Municipal,  no órgão representativo dos Valores primordiais e fundamentais desta ainda  frágil Democracia. 

Faço parte de uma geração que recebeu o dote da liberdade de pensar,  participar e discordar. Mas também faço parte de uma geração que tem o peso  da responsabilidade. A responsabilidade de cuidar. 

O 25 de Abril é, para todos nós, antes de mais, um rasgo com o passado, um  sinónimo de Liberdade. O 25 de novembro um sinónimo de estabilidade  necessária e o nascimento de uma democracia que se vem construindo até aos  dias de hoje. 

Podia agora aqui divagar numa busca incessante de significados para a  liberdade. Podia proferir palavras perfumadas e cheias de aromas filosóficos,  podia hoje até ser poeta e rasgar-me em rimas, mas não o vou fazer. Porque  na verdade é simples, a Liberdade é na sua essência um valor inseparável da  condição humana que, independentemente da importância que lhe atribuímos,  reveste o nosso corpo de cima a baixo e nos protege. 

A mudança de regime verificada com a conquista da liberdade foi resultado de  um esforço de gerações de lutadores audazes e perspicazes, na busca diária de  alcançar um sonho: o de construir um país melhor.  

Os nossos antepassados foram uns heróis, o meu avô foi um desses heróis.  Lutou à sua maneira contra a falta de liberdade, e de alguns princípios e valores  com os quais não se revia.  

O meu avô ouvia a BBC debaixo dos cobertores, o meu avô, por represália, foi  afastado do que mais gostava de fazer, que era ensinar. Tenho orgulho dele. 

Sou fruto de uma democracia, já nasci em liberdade, mas cresci a ouvir estas  e outras histórias contadas pelos mais velhos. Por isso prezo a liberdade, por isso sei o que é sonhar.

Cada geração tem os seus desafios para enfrentar, a dos meus avós enfrentou  a ditadura, deu-nos a liberdade e lançou os alicerces para um país melhor. 

Às gerações seguintes cabe cuidar e preservar. Não basta receber um legado,  é preciso cuidar e acrescentar algo para futuro. 

Sem hesitar tolamente, àquilo que ainda precisamos corrigir, convém manter a  frisante pedagogia da liberdade e da democracia. 

Entre altos e baixos, dias melhores e dias piores, ainda temos um largo caminho  pela frente, com um franco risco de perdermos a liberdade no meio do caminho. 

Quase cinco décadas depois deparamo-nos com um desafio pertinente. Numa  sociedade altamente tecnológica, onde as redes sociais começam a ser um  retrato da meia-verdade e numa sociedade onde a escola começa a dar sinais  de cansaço, como transmitir às novas gerações o valor da liberdade  conquistada? Como transmitir valores às novas gerações dão a liberdade como  adquirida? 

É decerto preciso rejuvenescer a mensagem da liberdade! 

A liberdade da qual não podemos abdicar a todo o custo e que por isso temos  a obrigação de cuidar. 

A liberdade de expressão que devemos cultivar e proteger da ofensa gratuita  dos mediatismos políticos.  

Fala-se muito da necessidade da democracia trilhar novos caminhos. Por esse  motivo digo - é bom estarmos constantemente insatisfeitos! Eu sou um eterno  insatisfeito, que por regra “não come e cala”! Uma expressão da minha avó,  que hoje reconheço como um bom ensinamento. 

Hoje vive-se para o imediato, com foco no sucesso a um qualquer preço, um  protagonismo e uma vaidade que despreza os legítimos interesses do próximo  e, até mesmo, o compromisso solidário entre as gerações passadas e as  futuras, que é a garantia da dignidade das pessoas e até da sobrevivência das  nações.

Todos sabemos que a democracia é uma obra inacabada, sempre em  construção. Dessa forma, todos os dias temos que lutar incansavelmente, para  que se obtenha uma democracia mais robusta, cumpridora e respeitadora dos  mais básicos direitos Humanos. A LIBERDADE.  

A Revolução de 1974 não se esgotou na ação armada: deu liberdade de  imprensa; libertou presos políticos; trouxe as pessoas para a rua e abriu  caminho à organização dos partidos políticos. Mas a Revolução também  conheceu alguns tristes exageros de má memória nos meses que se lhe  seguiram. Não nos podemos esquecer!  

Parte da população portuguesa nasceu e cresceu já em plena democracia e  dessa forma os mais novos tendem pensar que foi e será sempre assim, mas  não foi e poderá não ser sempre assim! Desenganem-se!  

Não convém marginalizar o perigo que a Liberdade representa para alguns. Não  podemos fingir que não vemos os fatores de crise da democracia  representativa. Há um hiato de credibilidade dos responsáveis face aos  cidadãos, que descredibiliza e anula a liberdade e as nossas ações; estiveram  e estão em curso instrumentos letais para o respeito da privacidade das pessoas  e para o seu direito de formarem opinião em consciência.  

Como se combate? Com insatisfação! Com voz alta! Não comam tudo…e não se  deixem calar! 

Alguns de vós poderão estar a pensar que estou a cair no exagero. É legítimo  pensarem assim, não fossemos todos nós livres de pensar. 

Contudo, em primeira mão, nos últimos três anos, tenho assistido a inúmeras  situações que me inquietam e me levam a crer que a nossa democracia está  posta à prova e a nossa liberdade colocada a jogo.  

A governação nacional no poder anda nervosa, insegura e transmite  instabilidade desnecessária. As governações locais no poder idem. Enfim, não  há semana sem circo.  

Já assisti a atitudes autocráticas e absolutas, inclusive de dirigentes políticos  locais, indivíduos que sentem ser donos da herdade e da liberdade. Algo  semelhante, talvez, só em regimes do passado.

Já senti muito levemente na pele a atitudes pidescas por parte do poder e da  autoridade. 

Sinto que o nervosismo social está instalado e começa a consumir a sociedade.  Por isto tudo é necessário cuidar da liberdade! 

Cuidar da liberdade não é uma questão de lei, até porque as que temos já são  em demasia. É simplesmente uma questão de consciência e de comportamento  individual. 

Políticos, académicos, professores, artistas, jornalistas, profissionais variados,  religiosos, empresários e cidadãos anónimos, todos, mas mesmo todos, têm  uma quota-parte de responsabilidade pelo presente e pelo futuro, e pelo  progresso deste nosso-Portugal. 

Não podemos esperar que as governações se transformem ou regenerem  sozinhas. Temos que ser nós a fazer por isso como, outrora, outros fizeram  com audácia. 

Sei que o tempo passa e as memórias se vão embaciando, mas a história está  escrita e essa não pode ser apagada com uma simples borracha. 

Não posso terminar este meu esboço, sem antes recordar Francisco Sá  Carneiro, um dos últimos heróis românticos, que sempre lutou e sonhou por  um Portugal melhor, e que por fim deu a vida pela Liberdade. 

A dívida que todos nós temos para com Francisco Sá Carneiro é grande e  obriga-nos a cuidar permanentemente da Liberdade, sob pena de ser roubada  no futuro.  

Cuidemos e reguemos a LIBERDADE!  

Viva a LIBERDADE!  

Viva aos avós de todos nós! 

“Livre não sou, que nem a própria vida 

Mo consente.

Mas a minha aguerrida 

Teimosia 

É quebrar dia a dia 

Um grilhão da corrente. 

Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino. E vão lá desdizer

o sonho do menino Que se afogou e flutua 

Entre nenúfares de serenidade 

Depois de ter a lua!”  

- Miguel Torga 

David Cascaes 

Grupo Municipal do PSD de Tomar


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