quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Um disparate sem remédio

Na sua mais recente reunião, a respeitável Câmara que temos decidiu -por unanimidade!!!- louvar a população tomarense. Leu bem. Louvar a população tomarense. Porquê? Porque a Festa dos Tabuleiros foi considerada o melhor evento público do biénio 2015/2016. Por quem? Por uma organização de eventos, que vive disso mesmo, de organizar  eventos para entrega de prémios, e que praticamente ninguém conhece. Você, por exemplo, já alguma vez ouvira falar em tal empresa, antes deste prémio, atribuído a uma festa que os membros do júri se calhar nem viram directamente?
A agravar a situação, o galardão, uma modesta estrela de lata, foi entregue à senhora presidente da câmara por essa sumidade do mundo do turismo, das artes e da cultura, chamada dona Lili Caneças. Ao que se chegou! Que tem afinal a dita senhora a ver com a nossa festa? Que pergaminhos ostenta nessa área? Apenas o facto de lhe pagarem para aparecer e, neste caso, para entregar um prémio antes obtido por uns provincianos pouco precavidos contra as armadilhas do mundo moderno.
Exagero? De modo algum. Até porque o dito prémio foi simplesmente comprado pela autarquia, ao candidatar-se e para isso desembolsar cerca de 200 euros. A prova do que afirmo reside no facto de todos os candidatos terem sido premiados e todos com primeiros prémios. No caso da Festa dos Tabuleiros, venderam-lhe o prémio de melhor evento público, categoria reservada a manifestações organizadas exclusivamente pela administração central ou pelas autarquias locais, estipula o regulamento.
A confirmar a índole comercial e praticamente confidencial do evento, todas a manifestações anexas que estavam previstas foram anuladas sem qualquer justificação plausível, conforme já expliquei aqui. Mantiveram apenas a entrega dos prémios antes atribuídos por um júri obscuro, para não serem forçados a reembolsar as inscrições.

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Nestas condições, resolver exarar um voto de louvor à população tomarense 18 meses depois da festa, é um disparate sem remédio, que tresanda a eleitoralismo. E um parto demasiado demorado. Que vem mostrar, mais uma vez, a pouca categoria da câmara que temos, pois trata-se de  uma evidente manifestação de parolos. Louvar a população porquê? A maior parte nem sequer participou na festa. Louvar a população para quê? Para que votem bem? E o que é votar bem?
Quando se escreve na blogosfera que a actual maioria relativa PS, coligada com a CDU, não presta, aparecem sempre os comentadores anónimos de serviço a afirmar que a oposição não é melhor. Estamos portanto de acordo, por uma vez. O actual executivo é muito fraco, na sua totalidade. Como demonstra mais este disparate, infelizmente relacionado com uma festa que merece respeito.
Nini Ferreira escreveu algures, e disse muitas vezes, que os forasteiros gostam muito da festa, mas os tomarenses vêem-na com outros olhos. Creio que a maior parte dos que fazem a nossa Festa Grande ainda não entendeu plenamente o que queria dizer Fernando Ferreira. É urgente deixar de endeusar a festa, que fica cada vez mais cara aos contribuintes, via orçamento camarário. Respeitar a tradição e a sua autenticidade, mas adaptando-a aos tempos que correm. Deixar de a pagar e pô-la a dar lucro, sem todavia a abastardar. Porque a organização do cortejo e das ruas ornamentadas pode e deve ser separada da elaboração dos tabuleiros ou dos enfeites para as artérias citadinas.
O que a população tomarense necessita, não é de louvores serôdios, pacóvios, interesseiros e desprovidos de realismo. É de quem lhe mostre, com coragem e honestidade, aquilo que infelizmente a falta de bagagem cultural da maioria lhe não permite enxergar: No seu modelo actual, a Festa dos Tabuleiros é como a agricultura tradicional no tempo do Salazar: A arte de trabalhar duro e empobrecer alegremente. Recordo que  a festa de 2015 custou à câmara 275 mil euros. Em dinheiro. Mais a cedência de locais, de pessoal, de veículos e de energia. Qual foi o retorno em euros, para ajudar a baixar as taxas locais, que tornam a água da torneira uma das mais caras do país?

Actualização
Segundo uma informação recente e de fonte fidedigna, à verba camarária a fundo perdido há que juntar uma média de 5 mil euros, "por baixo", desembolsados por cada uma das 11 freguesias. O que dá mais 55 mil euros, neste caso não para a corda do sino, mas para a glória da festa. Cujos tabuleiros, segundo as minhas contas e se não erro, ficam a mais de 500 euros cada um. É uma festa de gente rica, lá isso é!

3 comentários:

  1. Sem duvida que este prémio é mais uma palhaçada eleitoralista da presidenta mas discordo que a festa tenha necessariamente de dar lucro. Não vejo como isso seria possível sem a descaracterizar com patrocínios de grande marcas e compromissos televisivos, o que seria muito pior na minha opinião. Esta festa sempre foi do povo para o povo, e apesar do prejuízo camarário, a cidade ganha (ou devia de ganhar) com os visitantes e cumpre o seu prestígio.

    No entanto, acredito que há soluções bem melhores e muito mais económicas do que as actuais. O planeamento começa sempre tarde e fica a impressão que não envolvem as comunidades como deveriam de fazer. Ainda não se pensa a festa como um todo, ainda não há quem pense nas condições de quem assiste ao cortejo. Não há estratégias de promoção da festa. Apoio aos comerciantes/restaurantes é sempre insuficiente. Ocorrem sempre os típicos problemas com as excursões e afins. Enfim, uma série de problemas recorrentes em que não há capacidade para pensar de outra forma. Mas haver gente para encher a comissão de festas, isso nunca falta!

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  2. O rei vai nu o rei vai nu. Esta a verdade dos factos que tantos vitais do sistema não querem ver nem deixar mudar. Antonio Freitas

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  3. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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