A senhora presidente da câmara, usando das suas competências legais, que são muitas, acaba de assinar um contrato, mais um, por ajuste directo. Desta vez de serviços de comunicação e imagem, durante um ano. Vai custar, com IVA incluído, 3.936 euros mensais. O vencimento bruto de um experiente técnico superior da autarquia.
Não é um acto inocente. É antes uma iniciativa três vezes indecente, que aliás já começou a dar frutos. Não é inocente, porque a senhora presidente não consultou o órgão a que preside, (nem é legalmente obrigada a fazê-lo), mas ficava-lhe bem ouvir os outros eleitos do executivo, antes de tomar uma decisão. Não o fez, decerto por temer reacções adversas, pois sabe muito bem ao que vai. Não se trata de comunicação e imagem da câmara a que preside, nem do município que integra. Apenas da sua própria promoção política e pessoal junto da vasta comunidade mediática. Trata-se portanto do primeiro aspecto indecente. Os eleitores não têm nada que financiar, via orçamento municipal, a pré-campanha ou a campanha eleitoral de qualquer eleito. E a senhora presidente devia dar o exemplo.
O segundo aspecto indecente é o evidente atestado de incompetência assim passado aos técnicos de comunicação da autarquia, um dos quais, se não erro, até costuma escrever uns livros. Ao contratar uma empresa exterior de comunicação e imagem, a senhora presidente está a dizer objectivamente aos cidadãos todos que os funcionários municipais bem pagos dessa área não valem nada. Que só servem para receber os vencimentos respectivos, e pouco mais. Conforme já ocorreu anteriormente com os juristas. Mas se assim pensa, porque não recorreu já, ou não recorre, ao Estatuto da função pública, para tentar resolver o assunto de uma vez por todas? Aqui chegados, talvez não fosse má ideia a "oposição aguerrida", assim alcunhada pel'O Mirante, tentar obter uma resposta substantiva a tal respeito.
O terceiro aspecto indecente é o da duração do contrato. Porquê doze meses, quando as eleições estão previstas, o mais tardar para Outubro? A senhora presidente já está a contar com o ovo no cu da galinha? (Bem sei; diz-se oviduto, em linguagem científica. Mas assim fica mais popular.) Vamos supor que está enganada, o que no estado actual das coisas me parece o mais provável, e que Boavida ganha. Que autoridade moral terá então, nos meses seguintes, para continuar a honrar um contrato que entretanto terá deixado de fazer qualquer sentido?
Perante tal despautério, que só não é escandaloso porque o contexto tomarense é muito acomodatício e conformista, a "oposição aguerrida", um manifesto erro de baptismo, tenciona continuar muda e queda, como habitualmente?
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