sábado, 11 de fevereiro de 2017

Outra vez a mania do orgulhosamente sós

Ouvi ontem, (na SIC Internacional, uma estação de TV que não recomendo  a ninguém, mas que é o único canal português que chega aqui a casa, por enquanto), António Costa afirmar, aparentemente cheio de convicção, que a oposição está enraivecida, sendo  por isso que vai multiplicando as tricas. Acrescentou o primeiro ministro que essa alegada raiva resulta do facto de o governo já ter demonstrado e continuar a provar que afinal é possível outra política, sem novas medidas de austeridade e revertendo as existentes.
Fiquei triste e interroguei-me. Como pode um político, inteligente e com vasta experiência, fingir que raciocina como um adolescente idealista, apenas com o objectivo de enganar o eleitorado, usando a demagogia? Ou estará também a tentar iludir-se, cobrindo com o manto diáfano da fantasia, a nudez forte e cruel da verdade? Aparentemente, trata-se de um novo surto da velha doença lusa "orgulhosamente sós", que grassou durante as últimas décadas salazarentas. E da qual sofreu igualmente, para mal dos nossos pecados, esse incompreendido génio político chamado Sócrates.
Quem segue com alguma atenção a actualidade política  nacional e internacional, sabe bem que se vão multiplicando as advertências ao governo da geringonça: FMI, Comissão Europeia, OCDE, FITCH, Ministro das Finanças alemão, Banco Central Europeu... Pois seguindo a linha de pensamento costista, conjuntaralmente maioritária, estão todos combinados contra Portugal. Só querem o regresso à austeridade. O nosso mal, em suma. Até os repetidos avisos do amigo Marcelo, que lá vai insistindo na necessidade de ampliar o crescimento, prometido no programa de governo, vêm sendo ignorados.
E os portugueses menos precavidos vão acreditando nesta nova versão do orgulhosamente sós. De ter razão contra todos os outros, tanto lá fora como cá dentro. O pior é o resto. O diabo anunciado pelo líder do PSD ainda não chegou. Mas vai chegar. Houve apenas alguma precipitação no anúncio da sua vinda. PP Coelho pensou que ele viria de avião. Tudo indica que afinal virá pelo Sud Expresso. Mas virá. Citando Lincoln, "é possível enganar alguns duravelmente, mas é impossível enganar todos durante muito tempo". E quando a verdade vier à superfície, vamos ter de novo uma debandada à Sócrates. E novas medidas de austeridade, bem mais duras. É só aguardar os resultados das eleições em França, na Alemanha e na Holanda, pois a nossa dívida pública continua a aumentar todos os dias vários milhões de euros. E por esse caminho...
Enquanto isto, em Tomar a ideologia é semelhante. Não há dinheiro para pagar atempadamente aos credores; não há investimento que se veja; não há condições para o investimento privado; não há emprego produtivo; não pára a hemorragia populacional; não há projectos; não há ideias realistas e adequadas; não há sequer coragem para encomendar uma auditoria séria aos serviços da autarquia, apesar de pedida por um vereador cheio de experiência. Há é medo do futuro.
Mas a coligação local, procurando angariar votos futuros, adoptou o regresso às 35 horas, continua a sustentar os TUT e mais de uma centena de associações culturais, insiste na contratação de  mais funcionários e os seus membros proclamam que vai tudo bem, obrigado. Mas não vai, nem coisa parecida. Apesar daquelas mensagens anónimas dos apaniguados, que mancham o Tomar rede, chegarem até a garantir que a actual presidente tem a re-eleição garantida.
Em Tomar, infelizmente a política já desceu ao nível da cachopice. E uma cachopice mentecapta. Era só o que nos faltava!

Adenda

Para os mais cépticos e para os eternos optimistas, que são geralmente os mesmos, eis a conclusão da análise de Ricardo Santos, no Observador:

"Em resumo: Portugal terá cada vez mais dificuldade em financiar-se devido não só ao ambiente externo, mas também às fragilidades da economia portuguesa e às políticas do atual governo. Caso o financiamento em mercado falhe e não havendo “plano B”, o governo devia começar já a preparar o “plano C” e estudar um programa cautelar. Quanto mais tarde o fizer, piores serão as condições. Em 2011, Portugal esteve bem perto da bancarrota e foi obrigado a assinar o memorando sem qualquer margem negocial. Era bom que pelo menos essa lição tenha sido bem aprendida." 
(O negrito e o azul são de Tomar a dianteira.)

Quer ler a análise completa, que é um bocado longa? Faça favor de clicar aqui.

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