Deixar-se arrastar para o futuro sempre virado para o passado, resulta numa situação bastante incómoda. Basta tentar andar um pouco às arrecuas, na feliz expressão popular, para disso se dar conta. Pois é essa a situação da esmagadora maioria dos tomarenses, tanto os de berço quanto os de circunstância, todos tolhidos por um doentio saudosismo entorpecedor.
Prova disso é a situação da informação local, que me abstenho de qualificar. Limito-me a assinalar que nenhum dos órgãos locais dispõe de uma ligação eficaz com a blogosfera. Papel e Net parecem ser em Tomar dois microcosmos que se repelem.
Tanto assim é que ninguém lê Tomar a dianteira, apesar da Google registar uma média de 400 visualizações diárias de páginas, com picos acima de 500. Outrossim, o mais lido dos blogues locais, o Tomar na rede, só consegue angariar praticamente comentários anónimos, embora nada tenha de agreste, a principal queixa contra Tomar a dianteira. E, mesmo assim, para os semanários locais, na prática nem um nem outro existem. É afinal o confronto implícito entre os das arrecuas e os outros. Entre os que nunca daqui saíram duravelmente e os estrangeirados, os que têm Mundo.
Neste contexto, não espanta que esteja a passar despercebido este texto de Luís Ferreira, no entanto uma das peças políticas mais importantes dos últimos tempos na urbe gualdina. Terminada a sua leitura, fica-se na dúvida: Camões e o seu conhecido verso "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"? Maquiavel e a célebre sentença "Se não os podes vencer, junta-te a eles"? Seja qual for o caso, parece indubitável que o ex-estratega do PS local já interiorizou o óbvio -é grande o risco de os socialistas perderem Tomar para Boavida, a menos que entretanto consigam uma coligação eleitoral salvadora.
O grande problema da proposta de Ferreira tem duas vertentes. Por um lado, é legítimo interrogar-se. Arrependimento? Oportunismo? Realismo? Maquiavelismo? Por outro lado, uma eventual coligação pré-eleitoral com a CDU apresenta igualmente alguns escolhos: Será juridicamente possível uma coligação já existente coligar-se com outro partido? (A geringonça? Nem pensem nisso. Nesse caso o acordo não tem incidência governativa e foi subscrito pelo PCP, não pela CDU). Caso seja possível tal coligação com a coligação, há certeza de que os votos que irão buscar vão compensar os da ala direita socialista?
Em conclusão, pode ser que a proposta de Luís Ferreira seja apenas o testemunho do seu arrependimento e concomitante mudança (só os burros é que não mudam). Mas também pode vir a revelar-se um golpe de mestre, ao permitir ao seu autor, logo após as próximas autárquicas, lançar a frase bem conhecida de todos políticos antes rechaçados -Eu bem vos avisei!
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