Tal como na natureza, também na política nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. O agora vereador Pedro Marques é, desde há muitos anos, amigo íntimo de Luís Boavida, indigitado cabeça de lista do PSD para as próximas autárquicas e técnico superior na autarquia. Foi ele que, quando presidente da autarquia, o chamou e nomeou chefe da divisão financeira do município. É por isso de uma importância nitidamente fora do comum a decisão que o líder dos IpT acaba de tomar.
Usualmente discreto e consensual, ainda que quase sempre voltado para os seus passados tempos de glória, o que se compreende, sendo a saudade um sentimento muito difundido junto ao Nabão, o ex-presidente sugeriu, na mais recente reunião do executivo camarário, que se proceda a uma auditoria rigorosa aos serviços financeiros e, se necessário, também aos de urbanismo da autarquia. Disse mais, que a auditoria efectuada durante o mandato de Corvêlo de Sousa foi apenas para inglês ver, acrescentando uma frase geralmente pesada como chumbo -quem não deve não teme. Maneira de dizer que quem não prevaricou nada tem a recear.
A proposta de Pedro Marques é de indesmentível pertinência, porque se refere a um caso insólito e ruinoso para os cofres municipais. Segundo declarações relativamente recentes de Anabela Freitas, o município, a cujo executivo preside, foi notificado para proceder à devolução de 700 mil euros, que pagou por obras afinal não executadas, na edificação da Escola EB 2/3 D. Nuno Álvares Pereira. O que significa que uma autarquia, muitíssimo bem dotada em funcionários superiores - todos competentíssimos e honestíssimos, segundo os próprios- pagou esse avultado montante, sem antes ter obtido a garantia de que os alegados trabalhos haviam sido feitos. Ou seja, nem a divisão financeira procurou obter documentos probatórios, para além das por vezes enganadoras facturas, nem a divisão de urbanismo se deu ao trabalho de verificar, numa visita às obras, com os projectos e as facturas na mão, se dava a bota com a perdigota. Estranho, muito estranho mesmo. Não terá sido decerto por falta de recursos humanos.
Ainda mais estranho, ao informar o executivo sobre a estrambólica ocorrência, a senhora presidente esclareceu que a câmara não tinha nos seus serviços o processo das obras em causa. Escusou-se contudo a indicar os motivos, se calhar porque se tratou apenas de colocar o processo ao abrigo da humidade reinante nos Paços do Concelho. Como acontece com o processo ParqT, há anos "em segredo de justiça", no Tribunal administrativo e fiscal de Lisboa.
Homem com muita experiência política e excelente conhecedor dos meandros autárquicos, a cujo executivo presidiu durante dois mandatos, é altamente improvável que Pedro Marques tenha agido de ânimo leve, sem prévia e longa ponderação, ao propor a referida auditoria. Por conseguinte, saberá decerto bem mais do que aquilo que disse.
Temos assim que, mediante uma simples intervenção muito pertinente, o líder dos IpT colocou o seu íntimo amigo Luís Boavida numa situação insustentável. Dado que era ele o responsável financeiro da autarquia aquando dos pagamentos em causa, agora ou há auditoria rigorosa e ele é ilibado, ou a sua candidatura corre sérios riscos de naufrágio nas urnas. Porque ninguém gosta de corruptos, a não ser os pròpriamente ditos e os respectivos corruptores.
Também a posição de Anabela Freitas não é doravante das mais confortáveis. Nem como presidente, nem como candidata. Ou aceita oficializar a solicitada auditoria, e sabe Deus o que dela virá, ou nada faz e passará por cúmplice de actos condenáveis anteriores ao seu mandato. Porque uma coisa é certa. Se houve pagamento por obras não realizadas, alguém autorizou a emissão dessa ordem e alguém recebeu. Quem? Porquê? Para quê?
Na nova realidade informatizada em que vivemos, nada mais fácil do que seguir o rasto do dinheiro. O resto virá por acréscimo. Haja coragem portanto, que a cidade bem precisa!
Oportuno e clarividente...
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