Caminhar num campo minado, sem mapa nem detector, assim é a prática da análise política a nível local. Por isso rareiam os praticantes. Manifestamente por falta de adequada e prévia educação para a democracia, a maioria da população só concorda com os outros quando eles exprimem opiniões compatíveis com o modelo dominante. O tal conformismo. Temos assim que em Tomar todos os temas são sensíveis, mas há alguns mais sensíveis do que outros. Um destes é o genericamente chamado associativismo cultural e desportivo
Ignoro qual seja o panorama actual. Nos anos noventa do século passado, quando exerci, durante oito meses apenas, as funções de chefe da divisão de cultura da autarquia, existiam no concelho de Tomar cerca de duas vezes mais associações culturais e desportivas do que em qualquer outro concelho do distrito. Suponho que, também nessa área, as mudanças para melhor, se as houve, terão sido poucas.
Segundo noticia a Rádio Hertz, o executivo municipal acaba de aprovar, decerto por unanimidade, pois todos os votos contam, um novo normativo para a atribuição das ajudas municipais às associações. Sinal evidente de que o regulamento anterior deve ter causado problemas sérios. E este penso que irá pelo mesmo caminho, uma vez que, nestas coisas de euros, impera sempre o "mais a mim, mais a mim".
De acordo com os números publicados pela fonte antes citada, o executivo tenciona repartir este ano por todos os agrupamentos culturais e desportivos do concelho um total de 420 mil euros. O que corresponde a algo como 10 euros por habitante e por ano. Ou seja, no mínimo, 20 euros anuais por contribuinte, para a cultura e o desporto, dado que mais de metade da população não paga IRS. A esses 20 euros/contribuinte/ano, deve-se juntar quase outro tanto para os TUT, e assim sucessivamente.
Como não dependo de qualquer votação, nem tenciono candidatar-me seja ao que for, posso ser frontal. Agreste, na linguagem dos chupistas/conformistas do costume. É um fartar vilanagem! É um exagero! Mais um exagero de um executivo que nem sequer tem dinheiro para pagar a tempo e a horas aos seus fornecedores. Que também votam, tal como os dirigentes associativos. Citando um bem conhecido dito popular, a cadela não pode com tanto cão
É indubitável que o município tem de dispôr, por exemplo, de um corpo de bombeiros suficiente, competente e bem equipado. Trata-se de um serviço essencial, indispensável portanto. Não é o caso das várias colectividades, que são todas dispensáveis, sejam quais forem os argumentos avançados. Tal como acontece de resto com os TUT. Ou com os funcionários excedentários, sejam superiores ou não. Segundo uma outra frase popular, Quem não tem dinheiro, não tem vícios. (Bem sei. Os funcionários têm direito ao seu emprego vitalício. Mas isso é assunto para outra crónica. Porque se um dia o município não tiver dinheiro para lhes pagar, situação que oxalá nunca venha a ocorrer, mas é cada vez mais do domínio do possível, de que lhes serve esse direito?)
Exagero meu? Creio bem que não. Em todos casos focados, à excepção dos TUT que são mais recentes, mas vieram nessa mesma linha, trata-se de situações herdadas da época em que a economia crescia mais de 4% ao ano, o que permitia esse tipo de liberalidades. Agora que, apesar de todos os esforços promocionais, não se consegue passar de 1,5%, tanto o governo como as autarquias têm de começar a trilhar novos rumos. Se o não fizerem, a crise tenderá a agravar-se, conforme é já bem evidente a nível local, onde a população continua a ir-se embora, por falta de emprego e causticada por taxas municipais excessivas. No custo da água, por exemplo.
Haverá alguns idealistas que argumentarão com a utilidade social e promocional das colectividades culturais do concelho. São os habituais cidadãos muito generosos, desde que seja com o dinheiro dos outros. A esses respondo com dois pontos precisos. Por um lado, está por demonstrar de forma inequívoca essa alegada utilidade. Tanto social, como sobretudo promocional. Promover o quê, afinal?
Por outro lado, em termos de eficácia, cabe assinalar designadamente que, tanto a nível nacional como europeu, o cinema subsidiado e dito de qualidade nunca se conseguiu impôr em termos de audiência. Pelo contrário, o cinema made in USA, dito comercial, mas sem subsídios estatais nem autárquicos, continua a ser rentável e a dominar largamente o mercado mundial.
Por outro lado, em termos de eficácia, cabe assinalar designadamente que, tanto a nível nacional como europeu, o cinema subsidiado e dito de qualidade nunca se conseguiu impôr em termos de audiência. Pelo contrário, o cinema made in USA, dito comercial, mas sem subsídios estatais nem autárquicos, continua a ser rentável e a dominar largamente o mercado mundial.
Mais comentários para quê? É mais um exemplo prático da pertinência do velho adágio chinês: Se deres um peixe a um homem, ele alimenta-se uma vez. Se o ensinares a pescar, alimenta-se durante toda a vida.
Admiro a tua saga pelo estabelecimento de um governo perfeito na cidade Templária. Exageras um pouco na utopia e no radicalismo. Lembras-me Platão, idealista e radical como ele era. Platão terá sido, no seu tempo, um MRPP da linha vermelha. Certo, também hoje as democracias ~estão doentes e parecem sem remédio, mas estas associações constituem uma fortaleza para a sua preservação. Serás o Platão da cidade Templária? Ao admiti-lo só estou a elogiar-te. Acredita que sigo com permanente interesse os teus textos diários. Porque os acho oportunos e certeiros na maioria dos casos.
ResponderEliminarMas demasiado idealistas e radicais às vezes. Força!
Obrigado pela tua prosa. Já te respondi directamente. Aqui, limito-me a uma interrogação digamos que filosófica: Platão,eu? Estou apenas de plantão, por não haver mais ninguém disposto a substituir-me. Uns por isto, outros por aquilo.
EliminarDemasiado idealista eu? Aprendi além Pirinéus que pelo menos a pedir não adianta ser modesto. É o que procuro fazer. Peço o ideal, na mira de conseguir o possível. Que mesmo assim nunca vem.
Não duvido que as associações sejam úteis. O que disse foi que não são indispensáveis. E como manifestamente a câmara tem cada vez menos folga para as subsidiar de forma racional, uma de duas: ou renuncia finalmente à caça ao voto, condição essencial para começar a endireitar as finanças locais, para depois diminuir as taxas abusivas agora praticadas; ou chegará a altura em que seremos o concelho mais rico do distrito em associações culturais (só bandas de música são 4, para apenas 36 mil eleitores), mas o mais pobre em população. Já faltou mais.
Haja saúde!