domingo, 26 de fevereiro de 2017

Embirrações e nivelamento por baixo

Estão enganados os que pensam que escrevi a mensagem anterior porque embirro com a senhora presidente da câmara e/ou com os outros eleitos, socialistas ou não. Na verdade, nem tencionava escrever a tal respeito. Conforme refiro no texto, foi um amigo que a isso me incitou. De resto, nunca embirrei nem embirro com ninguém. Limito-me a discordar politicamente, o que não implica, pelo menos para mim, qualquer conflito ou alteração no habitual e cordato relacionamento pessoal. Como sempre deveria ser.
Neste caso das homenagens e das medalhas a atribuir pela Câmara, no próximo feriado municipal, aquilo que me desagrada profundamente não é só a óbvia caça ao voto. É também e sobretudo o que inevitavelmente vai resultar de semelhante sementeira de medalhas e diplomas. Porque não houve afinal qualquer selecção prévia. Todos são agraciados, quer tenham ou não tenham mérito. Há medalhas para todos os mordomos dos Tabuleiros, que não foram de certeza todos excelentes ou sequer bons. Como há diplomas para todos os funcionários municipais e dos SMAS com 25 ou 35 anos de serviço, sejam excelentes, bons, suficientes, medíocres maus ou péssimos. O que conta é a antiguidade, num caso. Ter sido mordomo, no outro.

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Não é necessário ser um grande conhecedor de história moderna e contemporânea para constatar que este modus operandi, adoptado pela gerência PS nesta comédia das homenagens, é praticamente idêntico ao usado durante décadas nos países comunistas. Trata-se do conhecido nivelamento por baixo. Somos todos iguais, somos todos competentes, somos todos honestos, somos todos excelentes, todos temos os mesmos direitos. O que evidentemente não é verdade. Quanto mais não seja porque, conforme escreveu Orwell, (ver ilustração), há sempre uns mais iguais que outros. Além disso, nivelar por baixo já provocou a derrocada de todos os regimes da Europa de Leste, no meu entender por duas razões: 1 - Os que pouco ou nada valem, julgam-se bons ou mesmo excelentes, porque são homenageados e portanto consideram-se dispensados de melhorar, uma vez que quem os dirige, ou finge que dirige, já deu mostras de estar satisfeito; 2 - Os funcionários realmente bons e excelentes sentem-se incompreendidos porque, não sendo cegos, vêem muito bem que foram também homenageados os colegas incapazes, pelo que não vale a pena, e só dá mais trabalho, fazer as coisas como mandam as normas. Quanto aos mordomos, cada qual fará o seu juízo.
Temos assim a junção de dois graves inconvenientes, muito potenciados pela endémica inveja local. Os maus  não procuram melhorar, porque já se consideram bons e os realmente competentes tendem a desanimar, por concluirem que não compensa fazer bem feito. Não é disto que Tomar precisa, mas é disto que Tomar sofre. Disto e da manifesta incapacidade dos nossos eleitos para medir as consequências dos actos  que praticam, por vezes até, como pode ser o caso, com as melhores intenções. Mas de boas intenções está o inferno pavimentado, segundo dizem os crentes. Por conseguinte, tudo devidamente ponderado, não estamos perante a comédia das homenagens. o que até nem seria demasiado grave, pois rir nunca fez mal a ninguém. Estamos antes e infelizmente confrontados com a tragicomédia, e suas inevitáveis consequências nefastas, da desenfreada caça ao voto, que não olha a meios para atingir os seus fins. Este ano  numa quarta-feira de cinzas. O acaso, às vezes acerta mesmo. 

1 comentário:

  1. Tresanda a bolor este tipo de homenagens. Procura-se somente cimentar um vínculo de fidelidade (política), tomando os servidores do Estado como empregados dos detentores de cargos políticos.

    “Se trabalhas para mim, não podes criticar-me” – Donald Trump.

    “Gostarei do que gostares, detestarei o que detestares”, jurava o “recomendado” ao senhor feudal.

    Uma tentativa encapotada de recuperar laços de vassalidade. Eu te garantirei o pão. Vota em mim.

    Este tipo de fidelidade que se procura com homenagens e distinções, sobrepõe-se muitas vezes à fidelidade para com os deveres do Estado em relação aos cidadãos. Mas julgo que os resultados são parcos. Apoio, em larga medida, este post.

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