A metrópole turística e a aldeia presunçosa
Na autarquia tomarense, fala-se ultimamente muito no desenvolvimento do turismo, ao que se diz um dos motores do desenvolvimento económico local, que há muito se faz esperar, deixando subentender que os eleitos podem fazer algo palpável nessa área. Ou que tiveram alguma influência no actual fluxo de visitantes que vem aumentando, devido a factores externos.
Enquanto isto, na outra extremidade da península, Barcelona, a capital da Catalunha, já vai em sentido contrário. Com mais de 400 hotéis, 10 mil camos em alojamentos locais para turistas e 34 milhões de visitantes em 2016, os seus habitantes começam a achar demasiado. Sensibilizada para o problema, a presidente da câmara, eleita pela extrema-esquerda, tomou um série de medidas, todas tendentes a reduzir o fluxo turístico. Mandou encerrar milhares de alojamentos turisticos não licenciados, aplicou multas elevadas, designadamente uma coima de 600 mil euros a um site de reservas hoteleiras, e bloqueou a concessão de alvarás de obras para novas unidades hoteleiras. Mesmo algumas das já existentes estão impedidas de se modernizar, se situadas em zonas sensíveis estabelecidas pela autarquia.
Na sequência dessas medidas, exigidas pelos habitantes do centro da urbe, eis parte do que noticiou o conceituado Le Monde:
"Le secteur déplore les « victimes » de cette politique, comme la chaîne Hyatt, qui a renoncé en janvier à ouvrir un hôtel dans la tour Agbar, du fait des « obstacles bureaucratiques » posés par la mairie. L’an dernier, c’est le groupe Four Seasons qui a renoncé à son projet d’ouvrir un hôtel dans le quartier de Gracia, où la pression touristique est « pourtant peu élevée », souligne M. Casals, qui craint que l’image « d’insécurité juridique » ne limite les investissements dans la ville. C’est une marque prestigieuse qui allait créer 300 emplois directs et autant d’emplois indirects. L’édifice va devenir un immeuble d’appartements de luxe. Qu’y gagne la ville ? Si nous n’orientons pas le flux touristique, ce dernier ne cessera pas pour autant, ce sera simplement un type de tourisme que nous n’aurons pas choisi… »
Sandrine Morel, Le Monde online, 14/02/2017, 12H50
A igreja da Sagrada Família, de Gaudi, em Barcelona
"O sector [turístico e hoteleiro] lamenta as "vítimas" de tal política restritiva, como por exemplo a cadeia hoteleira americama Hyatt, que renunciou em Janeiro passado à abertura de um hotel na torre Agbar, por causa dos "obstáculos burocráticos" colocados pela câmara. Já o ano passado o grupo hoteleiro Four Seasons, também americano, cancelou o projecto para abrir um hotel no bairro de Grácia, onde a pressão turística "nem sequer é muito elevada", sublinha o senhor Casals, representante da Associação Hoteleira de Barcelona, que tem medo que a imagem de "insegurança jurídica" venha a limitar os investimentos na cidade. "Four Seasons é uma marca prestigiada, que ia criar 300 empregos directos e outros tantos indirectos. Agora, o prédio vai ser transformado num imóvel de apartamentos de luxo. O que ganhou a cidade? Se nós não orientarmos o fluxo turístico, ele não vai parar por isso. Passaremos simplesmente a ter um tipo de turismo que não teremos escolhido..."
Tradução e adaptação de António Rebelo
Qual a relação com Tomar?
Apesar de não termos 400 hotéis, nem milhares de camas em alojamento local, nem 34 milhões de turistas por ano, desde há muito tempo que a câmara nabantina vem afastando os potenciais investidores, com "obstáculos burocráticos" e "insegurança jurídica", tal como agora acontece em Barcelona.. Só que a população tomarense nunca pediu tal coisa e essas "habilidades tomarenses" resultam de outras motivações menos confessáveis. Mas é o que temos tido. E que convém ir denunciando, para todos os fins úteis...
Apesar de não termos 400 hotéis, nem milhares de camas em alojamento local, nem 34 milhões de turistas por ano, desde há muito tempo que a câmara nabantina vem afastando os potenciais investidores, com "obstáculos burocráticos" e "insegurança jurídica", tal como agora acontece em Barcelona.. Só que a população tomarense nunca pediu tal coisa e essas "habilidades tomarenses" resultam de outras motivações menos confessáveis. Mas é o que temos tido. E que convém ir denunciando, para todos os fins úteis...
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