Ao contrário de Gualdim Pais, cuja estátua corta muitas das perspectivas da Praça que já foi de D. Manuel I, como vimos no escrito anterior, o monumento ao Infante D. Henrique abre belas perspectivas. Esta, por exemplo, que mostra bem o brio, o zelo, o empenho, a vontade de acertar da autarquia e do seu pessoal qualificado, nomeadamente na área da informação turística:
Um turista que repare neste suporte, que já serviu para um painel informativo há anos atrás, fica logo com imensa vontade de prolongar a sua estada na urbe, tão evidente é a atenção que lhe dedicam. Mais uma prova de que a senhora presidente está cheia de razão, quando afirma que o primeiro mandato foi para arrumar a casa. Pelo caminho que as coisas levam, não será exagerado prever que, a continuarmos por este caminho, lá mais para o final do mandato, a casa estará mesmo definitivamente arrumada. E os tomarenses também.
Já sem aquele infeliz enquadramento, surge-nos um belo trabalho escultórico, tanto em termos de escala como de volumetria e vestuário.
O monumento não foi erguido por subscrição pública, nem se tratou de uma iniciativa de tomarenses, o que se nota no pedestal mais equilibrado. Se fosse obra encomendada por tomarenses, teria o dobro ou o triplo da altura. Basta comparar com o de Gualdim Pais. Na verdade, este foi mandado instalar ali em 1960, pela Comissão nacional para as comemorações dos descobrimentos henriquinos, por ocasião do quinto centenário da morte do infante. Há monumentos semelhantes na Covilhã e em Viseu, de que o infante foi respectivamente senhor e duque, bem como em Lagos, de onde partiram as primeiras expedições marítimas, custeadas pela fazenda do infante e as rendas da Ordem de Cristo, segundo o seu cronista, Gomes Eanes de Zurara. Donde a inscrição "Governador da Ordem de Cristo", que figura no pedestal.
De facto, nomeado administrador da Ordem pelo Papa, a pedido do seu pai, D. João I, o Infante mandou edificar os seus paços no interior do castelo templário de Tomar e exerceu um poder absoluto durante quarenta anos, como administrador, zelador e governador. Nunca conseguiu contudo que os comendadores de Cristo o escolhessem como mestre.
A estátua mostra-o na bem conhecida atitude de sonhador, olhando o horizonte na Ponta de Sagres, onde terá funcionado a mítica escola náutica do mesmo nome. Certo, mesmo certo é que D. Henrique foi, tal como Gualdim Pais (natural de Amares-Braga e cruzado na Palestina), um homem do norte, nascido no Porto e estrangeirado, porque filho de mãe inglesa.
Arredados destas coisas da história nacional, os tomarenses são mais terra a terra. Há muito que circula na cidade a piada segundo a qual o Infante está apenas a pensar: -Que raio estou eu aqui a fazer, ao portão da mata conventual, se nunca fui madeireiro, nem guarda florestal?!
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