Em democracia, a normalidade é a divergência assumida, que nunca descamba em violência física. Por conseguinte, não deve surpreender que haja quem deteste e quem goste de Tomar a dianteira, faltando apenas saber qual a percentagem de uns e de outros. Mas como os blogues não podem candidatar-se, tanto faz.
Apesar dessa natural diferença de pontos de vista, há também convergências ocasionais. Será decerto o caso quando se escreve que duas entidades -a Câmara Municipal e a Direcção do Convento de Cristo- que ao cabo de mais de um ano, ainda não conseguiram chegar a acordo para pôr de novo a dar luz os projectores que servem para iluminar a torre de menagem do Castelo dos Templários, estão se calhar a aliviar-se para os contribuintes todos, que são quem lhes paga.
Que outra explicação para os tomarenses e os visitantes verem durante a noite um castelo templário decapitado, porque sem Torre de menagem, que é a sua cabeça? Alardear poder sem limites? Total incapacidade? Simples palermice?
Uma coisa é certa: Convento e Castelo são geridos pela DGPC do Ministério da Cultura, que para aqui nomeou uma chefe de divisão, ao que consta especialista em exposições temporárias. A iluminação exterior, vá-se lá saber porquê, depende da Câmara municipal. De forma que, para poder reparar os tais projectores avariados, os funcionários municipais, ou os técnicos encarregados de resolver o problema, têm de pedir as chaves ao funcionários do Convento. Complicadíssimo, como se constata. Por isso, a Torre de menagem está às escuras há perto de dois anos. Com uma notável execepção: durante a Festa templária esteve iluminada. Certamente por influência da alma do Gualdim.
Há uma outra explicação possível, que me ocorreu ao olhar uma vez mais para o monumento ao soldado desconhecido da primeira grande guerra, a de 1914-1918. Apesar de já o ter olhado centenas de vezes, só agora notei que, apesar de estar em posição de combate, o soldado está de capote e com a marmita às costas. O capote é por causa do frio, que naquelas paragens do nordeste francês é mesmo a sério. Quanto à marmita, cem anos depois ainda tem a mesma utilidade. No meu tosco entendimento, é por andarem todos preocupados com marmita que trazem às costas, que estamos como estamos e que a Torre de menagem continua às escuras. Ninguém quer perder a marmita, agora mais conhecida por gamela, ou manjedoura do Estado.
(Já sei! Já sei! Algumas mentes mais tacanhas, que por isso mesmo se julgam brilhantes, vão alegar que também o autor destas linhas vive à custa do Estado, uma vez que é aposentado da função pública. Estão errados, como quase sempre, esses espíritos brilhantes. Quem escreve estas linhas vive de algumas rendas privadas e da sua aposentadoria. Esta provém dos descontos legais que efectuou ao longo de 39 anos, e não das benesses do Estado. Estamos entendidos, de uma vez por todas? Convém nunca confundir toalhas com panos de cozinha, nem bexigas de porco com lampiões eléctricos.)
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