domingo, 3 de dezembro de 2017

Comida requentada e ajustes estranhos

Não é para mim das tarefas mais agradáveis esta de comentar comentadores. Assim uma espécie de comida requentada, coisa de que nenhum cozinheiro digno desse nome gosta, porque um verdadeiro profissional de cozinha é sempre um criador. Nunca um imitador. Muito menos um usurpador. Este início para justificar que tenha de comentar uma vez mais as intervenções de António Alexandre e António Paiva, na Rádio Hertz, que pode ouvir aqui.
Como proceder de outro modo, quando se está a milhares de quilómetros de Tomar e a actividade política local é o que é? Para se ter uma ideia mais precisa do entorpecimento mental que é cada vez mais evidente pelas margens nabantinas, o qual emparceira com um também cada vez mais óbvio incremento do cabotinismo atente-se no seguinte episódio pacóvio, tão reles e triste que até me deu vontade de chorar.

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Espectadores no Festival Bons sons

O nosso colega Tomar na rede publicou uma notícia sobre as iluminações de Natal, que mais uma vez são o que são. O possível, quando reina o mais absoluto conformismo. Nessa notícia, há um detalhe pitoresco, para não dizer outra coisa: "Para este trabalho, a Câmara contratou por ajuste directo a Empresa José Noivo-Luz e som, Lda por 29.458 euros, valor que inclui os serviços de sonorização do Festival Bons Sons, em Cem Soldos, e o Festival Estátuas Vivas, em Tomar."  Três em um.
Perante tal salada, que mistura uma realização camarária (iluminação de Natal), uma mista (Estátuas vivas) e uma privada (Bons sons), quando apareceu um comentário, fiquei todo contente. Pensei para comigo, "até que enfim que alguém mais se arrisca a criticar." Engano meu. O comentário, de um anónimo como convém, perante matéria tão sensível, é afinal apenas tomarense dos novos tempos: "Muito bonito".
Indo agora, em estilo mais despachado, aos comentários dos comentadores. Mais uma vez, Paiva e Alexandre demoliram completamente a actual política camarária, sem atacar os autarcas. Alexandre referiu que, no estado actual das coisas, Tomar não tem condições para atrair grandes empresas. Paiva corroborou e acrescentou: não é aceitável que haja uma fila de espera para o parque empresarial, pois há outros locais adequados no concelho.
Quanto às obras em curso, Paiva insistiu que a primeira prioridade é o saneamento/rede de águas, a começar pelo centro histórico, onde cheira mal nalgumas ruas, sobretudo por tempo quente, devido à existência de um só colector, não protegido por sifões. Pediu até aos autarcas para não gastarem dinheiro em pavimentações, sem antes fazerem a rede de saneamento, porque são verbas deitadas à rua. Em sentido próprio e sentido figurado.
No que se refere à adjudicação camarária acima referida, há também pano para mangas. Com efeito, sabendo-se que a principal preocupação de quem executa contabilidade, sobretudo pública, deve ser a clareza, no caso em apreço qual a vantagem de uma tal salada? Quanto custa afinal aos contribuintes a Iluminação do Natal? E a sonorização do Festival de Estátuas vivas? E a sonorização do Festival Bons sons?
Que se saiba, a organização deste último cobrou entradas, que não eram nada baratas (e fizeram muito bem, porque assim é que deve ser nas sociedades evoluídas), obteve isenção de taxas, conseguiu um subsídio camarário de 50 mil euros, e afinal a Câmara até assumiu o custo da sonorização? Que raio de política cultural é esta? Qual foi o montante total dos auxílios da autarquia?
Quando é que tencionam publicar as contas do Festival bons sons 2017? A autarquia está a tentar dissimular o quê?
Citando o comentador anónimo antes referido, mas com outro sentido: "Muito bonito". Como quem diz, "Isto está cada vez mais bonito!"


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