Abordou-se no escrito anterior a curiosa e triste situação do Aqueduto dos Pegões, parte integrante do Convento de Cristo, Património da Humanidade. Administrado pela DGPC, ex- IGESPAR, a partir da Ajuda, em Lisboa, encontra-se há muito em péssimo estado de conservação e acelerada degradação. Conscientes desse facto, cidadãos dignos dessa qualidade juntaram-se e têm participado gratuitamente em várias campanhas de desmatação junto daquela obra de arte. Alertada, a presidente da Câmara entendeu dever apoiar essa acção cívica, tendo o executivo deliberado adjudicar obras de conservação de alguns pilares, cuja inclinação é já de 8%. Entretanto, Lisboa continua tranquilamente a cobrar as entradas no Convento, que rendem cerca de um milhão e meio de euros por ano, mas não quer saber do aqueduto para nada. E são mais 300 mil euros que o município de Tomar aplica numa obra que devia ser da responsabilidade da DGPC.
Além dos Pegões altos, o longo aqueduto filipino de abastecimento de água ao Convento de Cristo, tem dois outros pontos importantes em termos de monumentalidade. Refiro-me à Casa da água ou Mãe de água da Porta de ferro, situada entre os Brasões e o Casal Novo, e ao Tanque da Cadeira d'el-rei, na Mata dos sete montes, a antiga Cerca conventual.
Quanto à edificação da Porta de ferro, se nada for feito com urgência, o mais provável é que se perca para sempre. Porque a sua vergonhosa situação actual é esta:
Os acessos são seguramente os mesmos e com a mesma qualidade de há quatrocentos anos:
O aspecto exterior é tal que uma simpática moradora dos Brazões, quando lhe perguntei qual o melhor caminho pedestre para a Casa da Água, foi franca: -Você não a consegue encontrar, porque aquilo está tudo coberto de mato. E não é que quase tinha razão? Encontrei-a porque já ali tinha estado no século passado com colegas meus, mas está mesmo tudo coberto de mato:
Apesar de tão lamentável situação, com um autêntico matagal na cobertura, a velha abóbada de berço, de finais do século XVI, ainda resiste e não deixa entrar água:
E aqui, ao fundo, a nascente:
Concluindo por agora, aqui temos a arruinada porta de entrada estilo renascença, encimada pela cruz de Cristo filipina e a porta de ferro que dá o nome à nascente e à casa da água. Além desta, o aqueduto recolhe a água de mais duas nascentes -a da Boca do Cano e a do Vale do Feto.
É tudo isto que nos arriscamos a perder, se nada for feito com urgência. Porque todo o aqueduto carece de manutenção quanto antes e está seco, entre outras razões devido ao desvio da água. Há até o caso de um agricultor da zona que no século passado resolveu cortar parte do aqueduto para poder passar com o seu tractor. E a situação mantém-se, tanto quanto sei, perante a passividade da câmara e da junta de freguesia. Que se calhar nem sabem da ocorrência...
Excelente reportagem! Obra imponente num estado lastimável, numa cidade que se pretende impor como destino turístico de referência...
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