Na recente entrevista à Rádio Hertz, cuja videogravação pode ver aqui, (dura 50 minutos), Anabela Freitas tencionava falar do programa eleitoral do PS. Afinal falou de muita coisa, excepto disso mesmo. Ela própria lamentou o facto, já no final, dizendo que não falara do programa eleitoral. António Feliciano, sempre oportuno, apressou-se a reenviar a bola: "Haverá outras ocasiões", referiu.
Gente maldosa dirá que aquilo estava muito bem ensaiado. Diz-se que se vai apresentar o programa eleitoral, abordam-se outros assuntos menos complexos e depois lamenta-se não ter havido tempo para entrar nesse tema. Não irei por aí. Recuso-me a crer que a candidata socialista seja assim tão ardilosa. Tanto mais que até avançou dois detalhes que considero de extrema importância:
A - Referindo-se aos resíduos sólidos, vulgo recolha do lixo, disse que têm mesmo de passar a regime de outsourcing, um palavrão inglês que significa terceirização, recursos exteriores, subcontratação = concessão ou "privatização" na linguagem do PCP.
B - Aumentar as receitas, sem todavia agravar as taxas em vigor.
No que se refere ao primeiro ponto, alegou ser indispensável dar esse passo porque os camiões precisam de ser substituídos, o pessoal é pouco e está velho, os circuitos actuais tem de ser totalmente modificados. Noutros termos, o município não tem recursos para adquirir camiões novos e/ou assegurar a manutenção dos actuais, que é cada vez mais cara; o pessoal escasseia, por causa das férias, das baixas, das 35 horas e por aí fora; os circuitos de recolha têm de ser consideravelmente melhorados.
Quanto ao segundo ponto, aumentar as receitas sem agravar as taxas em vigor, só adoptando a táctica da geringonça: ir diminuindo as despesas de forma encapotada. É o que me parece que Anabela Freitas tenciona fazer, caso consiga a reeleição. Concessionando a recolha do lixo e até, num segundo tempo, a totalidade dos SMAS (água, saneamento e tratamento de esgotos), consegue com uma cajadada matar uma quantidade de coelhos.
Além de deixar de suportar as despesas fixas e aleatórias com camiões de recolha, com contentores, com pessoal e com o aterro, para referir por agora apenas os resíduos sólidos, o município passará a pagar à concessionária uma verba fixa, com periodicidade a decidir, e consegue ainda diminuir substancialmente o total de funcionários municipais. Ou seja: aumenta as receitas disponíveis graças à redução das despesas, tudo de forma permanente. Sem austeridade. À moda de Centeno.
É claro que se trata de uma solução que a CDU jamais aceitará. Tenho até a impressão que essa privatização ainda não foi tentada apenas e só para manter a actual coligação. Ou o vereador da CDU terá integrado o conselho de administração dos SMAS por mero acaso? O futuro o dirá.
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