quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Uma rua vendida em hasta pública em S. Francisco

Aviso: 
Esta tradução destina-se sobretudo a irritar medíocres. Se o caro leitor acha, nomeadamente, que no Convento de Cristo aquilo é só pedras, é melhor ficar por aqui, indo entreter-se com coisas mais ao seu alcance.

"Uma rua de S. Francisco, habitada por gente rica, vendida ao desbarato em hasta pública, para liquidação do IMI."


Foto Marcio Sanchez / AP

"Nos tempos que correm, o custo de uma casa em S. Francisco da Califórnia, nos Estados Unidos, pode ultrapassar facilmente o milhão de dólares = 847 mil euros. Mesmo assim, um investidor astuto comprou uma rua inteira no bairro mais exclusivo da cidade por apenas 90 mil dólares = 76.250 euros.
Tudo porque alguns dos residentes extremamente abonados de Presídio Terrace, (assim se chama a rua vendida), ignoravam que a citada artéria estava à venda, e agora não estão nada contentes com os novos proprietários.
Presídio Terrace é uma rua  em arco de círculo, com um portão de entrada no Bairro Tony Presídio Heights. Com palmeiras centenárias de ambos os lados (ver foto) e vivendas que valem milhões de dólares, já teve como moradores célebres  a senadora Dianne Feinstein e a lider da bancada democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.


Foto Marcio Sanchez / AP

Graças a uma ajudinha da câmara local e a uma dívida de IMI por liquidar, o investidor imobiliário da Bay Area, Michael Cheng e a sua mulher Tina Lam, compraram Presídio Terrace e são agora legítimos proprietários dos passeios, da rua e de outras "partes comuns", segundo avança o jornal The San Francisco Chronicle. As partes agora vendidas eram geridas pela associação dos proprietários desde pelo menos 1905.
Cheng, o astuto comprador, admite que a reacção dos vizinhos foi menos hospitaleira do que esperava. "Pensava que iam contactar-nos e enviar-nos convites na qualidade de novos vizinhos", declarou à agência americana Associated Press. "Afinal atingiu-se um grau de descontentamento que eu não tinha previsto."
Tudo porque, verificações feitas, a associação dos proprietários de Presídio Terrace não pagou no prazo legal um IMI de 14 dólares por ano (12 euros), um imposto que os proprietários das 181 ruas privadas de S. Francisco devem pagar a tempo e a horas, segundo o citado jornal.
Perante o débito, o competente serviço fiscal da cidade decidiu vender a rua em hasta pública, via net, com um preço inicial de 994 dólares (842 euros), o valor total do débito, acrescido das despesas respectivas. Foi aí que o casal Cheng-Lam adjudicou a rua com uma oferta de 90.100 dólares, em Abril de 2015.
A associação de proprietários já recorreu. O seu advogado, Scott Emblidge, declarou, numa mensagem enviada à câmara da cidade, que os proprietários que representa não pagaram o IMI em causa, porque os respectivos avisos de pagamento foram enviados por engano para o endereço de um contabilista que deixou de trabalhar para a referida associação desde 1980.


Foto Marcio Sanchez / AP

O advogado acrescentou que,  até 2017, os residentes não sabiam que a rua tinha sido colocada em hasta pública, via net, e ainda menos que tinha sido vendida. Só vieram a saber disso no início deste ano, quando um advogado ao serviço de Cheng e Lam os contactou para saber se queriam recomprar a rua.
Foi uma das várias opções previstas pelos felizes compradores para rentabilizar o investimento. Outra opção consiste em passar a cobrar o estacionamento nos 120 lugares da via de cintura. "Na qualidade de proprietários legais desta rua, temos agora muitas opções", declarou Cheng que logo acrescentou nada estar decidido por enquanto. Entretanto tudo parece indicar que a questão terá de ser resolvida em tribunal. A câmara prometeu uma reunião plenária sobre o assunto em Outubro próximo. Entretanto, a associação de proprietários recorreu à justiça contra o casal comprador e contra a câmara de cidade, visando impedir que Cheng e Lam possam vender a rua a quem mais der.

Le Monde.fr com AP
Tradução de António Rebelo, UParisVIII

Nota de rodapé

S. Francisco da Califórnia tem 864.816 habitantes (dados de 2015). Mesmo assim, ali acontecem coisas destas aos mais ricalhaços. Tendo em conta aquele painel de azulejos na escadaria da nossa Câmara, segundo o qual "O povo é quem mais ordena", era capaz de ser boa ideia criar uma associação de moradores e depois tentar vender as ruas à Bragaparques... como fez em tempos o ainda para alguns saudoso Paiva, com tão bom resultado. A seguir tentava-se vender o Nabão e mais tarde o Convento. Podia ser que assim conseguíssemos reduzir os impostos e taxas municipais, voltando então a atrair população.
Podia ser, porque ao estado a que chegámos, nem sequer é certo que houvesse compradores interessados

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