Tanto a nível nacional como local, os políticos eleitos (e até alguns funcionários superiores) não abrandam nos gargarismos sobre o extraordinário desenvolvimento actual do turismo em Portugal. E em Tomar, está claro. Dão assim a entender que esse feliz incremento se deve à sua labuta e às suas respectivas acções de promoção. Será mesmo assim?
Uma vez que estamos em Agosto, pico da chamada alta estação turística, Tomar a dianteira resolveu ir indagar. Consultou primeiro o mais clássico dos guias turísticos em português - O Guia de Portugal, editado em 1927, quando o turismo ainda era só para a élite:
Extremamente elogioso para Tomar, escreve na página 456 que "Tomar é para todo o português, um lugar obrigatório de peregrinação, pois ignorá-la é desconhecer um dos pontos do País em que a arquitectura nacional atingiu um dos mais excelsos cumes da sua estranha originalidade e da sua beleza."
Mais adiante, na página 483 e sobre a capela de Nª Sª da Conceição, é também bastante eloquente:
Perante isto, Tomar a dianteira recorreu à usual dúvida metódica. Será mesmo assim? Não estaremos perante um caso de excesso de nacionalismo doentio? Para melhor aferição, para tirar dúvidas, o melhor será comparar com um guia estrangeiro:
Trata-se de uma edição de 2014, mas como os monumentos não mudam, serve perfeitamente. Qual a opinião do autor sobre a capela da Conceição? Esta, na página 393:
TRADUÇÃO: "Capela de Nossa Senhora da Conceição: na descida do Convento. Fechada, excepto em ocasiões excepcionais. No alto da cidade, esta capela construída para mausoléu do rei D. João III, ilustra maravilhosamente a Renascença portuguesa. Equilíbrio de linhas e delicadeza do ocre repousam o olhar do visitante após os excessos do manuelino conventual. Pois! Mas quando é que começa a estar aberta regularmente?"
Durante dezenas de anos, a chave da capela esteve à guarda da então Comissão Municipal de Turismo, que entretanto deixou de existir, e cujos serviços destacavam um funcionário, sempre que necessário, para acompanhar os turistas que pretendiam visitar aquele monumento.
Nos anos 80 do século passado, um director do Convento de Cristo pediu a chave e nunca mais a devolveu. Continua por esclarecer a razão de tal atitude, uma vez que as sucessivas equipas camarárias jamais se incomodaram com o assunto. Se calhar porque também são contra o turismo de massa, mas não querem que se saiba, por causa dos votos. António Paiva teve pelo menos essa franqueza. Disse sempre que era contra o turismo de pé descalço e agiu em consequência. Fechou o parque de campismo.
Procurando saber qual a situação actual, visto que o guia é de 2014, o que significa que o seu autor terá andado por aqui em 2013, Tomar a dianteira fez-se ao caminho.
Assim à primeira vista está tudo muito bem indicado:
O pior é quando o visitante se aproxima e constata que o painel, em princípio informativo, agora já é só ornamental. Não exibe qualquer indicação:
Dirigindo-se para a capela, mesmo sem indicações precisas, o visitante bate com o nariz nas portas. Fechadas, sem qualquer indicação e em péssimo estado de conservação. A necessitar de pintura com urgência. Foi para isto que o tal director invejoso resolveu apropriar-se da chave?!:
Bem à maneira portuguesa, um exemplo da arte do desenrascanço: Alguém que decerto nunca logrou entrar para cumprir a sua promessa, por não saber a quem pedir a chave, resolveu deixar o votivo raminho de flores preso na porta principal:
Conclusão:
Perante casos como este, não resta qualquer dúvida. Aqui em Tomar, o extraordinário aumento do turismo resulta da acção dos sucessivos executivos municipais. E, sobretudo, conforme salta à vista, da profícua acção da direcção do Convento de Cristo. Todos muito atentos às necessidades dos visitantes. Como fica bem demonstrado nesta pequena história ilustrada.
Mesmo assim, contra toda a evidência, há quem teime em acreditar que, na área comportamental, aqui também é Europa. Será. Mas às vezes não parece mesmo nada.
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