quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O Convento do nosso descontentamento

Devido a um numeroso conjunto de factores, que seria enfadonho especificar aqui, temos em Tomar uma situação deveras peculiar em termos de património público. Os monumentos nacionais são todos propriedade do Estado e normalmente administrados pela actual Direcção-Geral do Património Cultural - DGPC, ex-IPPC, ex-IPPAR, ex-IGESPAR, com sede em Lisboa, no Palácio Nacional da Ajuda. Há porém várias excepções, como por exemplo em Sintra, cujos monumentos principais são geridos pela empresa Parques de Sintra Monte da Lua, ou ainda as igrejas de S. João e Santa Maria, em Tomar, que na prática são administradas pela vigararia.
Já o Convento de Cristo, Património da Humanidade desde 1983, está numa situação assaz curiosa. A DGPC cobra as entradas, assegura a limpeza e o restauro, enquanto a Câmara trata dos acessos, do parqueamento e da iluminação exterior. Perante esta situação com contornos coloniais, Anabela Freitas aproveitou a recente decisão governamental de concessionar a privados vários monumentos, para reivindicar a gestão partilhada do Convento, uma vez que carece de equilíbrio o actual estado de coisas: a DGPC arrecada cerca de milhão e meio de euros por ano com os ingressos e a câmara nada recebe.
Apesar de a proposta da actual presidente ser demasiado modesta ao relação ao ideal, que será a gestão plena do Convento pelo Município, ou por uma entidade escolhida pelos representantes dos tomarenses, Tomar a dianteira sabe que a ideia foi bastante mal recebida na Ajuda. Razão porque paira um silêncio assaz eloquente sobre essa matéria, uma vez que estamos a mês e meio de eleições e não convém levantar ondas entre socialistas.
Sucede que não é por se fingir que o problema não existe, que o mesmo se vai resolver. Bem pelo contrário. Hoje, quarta-feira 09 de Agosto, pelas 14H30, a situação já era a que mostram estas fotografias:



Esgotada a fraca capacidade dos 2 parques existentes, os carros vão estacionando nas bermas e invadindo terrenos privados, da Calçada dos Cavaleiros até ao Casal do Láparo e mais além. Isto enquanto os autocarros, que naturalmente não podem estacionar nas bermas, uma vez ocupados os 7 (!!!) lugares de estacionamento, ou vão-se embora, ou vão para bastante mais longe após terem deixado os passageiros, sendo depois chamados via telemóvel.
Se na estação alta, até meados de Setembro, é geralmente assim durante a semana, imagine-se aos sábados e aos domingos. Só falta um Dante tomarense para descrever o novo inferno.
Perante tal estado de coisas, os mais acomodados, os achistas que acham sempre que está tudo bem, julgam tratar-se de um problema muito circunscrito, que não convém exagerar. Infelizmente, estão mais uma vez enganados. Começa a haver falta de estacionamento aos fins de semana até nos recantos mais insuspeitos, como por exemplo os Pegões altos, onde a situação era esta na quarta-feira 09/08, cerca das 15 horas:





Confrontada com tudo isto, como pode a Câmara tentar resolver uma questão tão complexa, que nos envergonha a todos, não tendo recursos financeiros, nem a gestão do Convento de Cristo, uma boa fonte de verbas?
É verdade que não existem quaisquer planos a respeito, sendo porém igualmente certo que de pouco ou nada serviriam no estado actual das coisas, tratando-se de situações com tendência para se agravarem rapidamente, a necessitar portanto de soluções integradas.
Disso se falará num próximo texto, a propósito da situação catastrófica do Aqueduto dos Pegões, e respectivas consequências.

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