segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Carta aberta ao PSD tomarense

Meus caros conterrâneos:
Desde que tive acesso a uma versão do vosso programa para as próximas eleições, já dei mais de 30 voltas à cabeça, indagando qual a melhor forma de escrever sobre o assunto. Finalmente achei que o melhor é mesmo o diálogo franco e público, pois sois tomarenses tão amantes de Tomar como eu.
Abro com duas cópias, para que não vos restem dúvidas de que tenho mesmo o citado programa, que já li e reli:


Por estar em causa o futuro desta nossa terra, que todos adoramos, parece-me útil alertar em tempo oportuno para aquilo que penso sobre o vosso documento, nesta sua versão. Antes de mais, trata-se de um texto demasiado longo e complexo. A maioria dos eleitores que a ele tenham acesso não terá, julgo eu, paciência para o ler de fio a pavio. É essa a ideia? Duvidam que assim seja? A título comparativo, o programa da CDU tem só 8 páginas, mas muito mais fôlego.
Além disso, sendo complexo, incoerente e descosido, torna-se pouco atractivo, além de dificilmente interpretável. A título de exemplo, eis uma frase copiada da página 4: "Temos uma visão para o futuro, que passa por criar uma organização dotada de valores e comportamentos que serão o foque de orientação desse futuro." Deixando de lado a arte de bem "encher chouriços", que quer isto dizer realmente?
Tal indefinição, mascarada com vocabulário pretensamente académico de circunstância, não impede que, logo mais abaixo, na mesma página, se escreva esta preciosidade nos tempos que correm:
"Comunicação clara, transparente e credível, como valor fundamental para garantir a responsabilidade e a confiança entre as pessoas." Se é mesmo essa a vossa intenção, comunicar com clareza, transparência e credibilidade, porque não começam logo pelo programa?
Além de inúmeras outras frases confusas e/ou ambíguas, como aquela em que afirmam que o concelho de Tomar gasta menos com desporto e cultura do que os outros concelhos do Médio Tejo, sem todavia esclarecer se em termos percentuais comparados, se tendo também em conta  o montante do orçamento de cada município, avulta uma longa série de propostas, cuja coerência nem sempre é evidente.
Só na área do turismo figuram 26 iniciativas, a maioria das quais implica  aumentos de despesa, sem que se perceba onde tencionam ir buscar as indispensáveis receitas. Aos bolsos dos já demasiado causticados contribuintes tomarenses, infelizes consumidores forçados da água dos SMAS?
Lê-se na página 9 que tencionam proceder à "Reabilitação e criação de um conjunto de instalações sanitárias públicas na cidade." Mesmo que não esclareçam com que meios, quando e onde, entendi que, caso sejam vocês os vencedores, prevêem que vamos ter muito mais merda. Estarei a ver mal?
Tendo em conta tudo isto, parece-me que o mais provável é que assim não vão lá. Conforme já escrevi antes, só ganham com um projecto robusto e adequado, muito empenhamento e uma boa campanha. Até agora, não me parece que seja o caso. O que é pena, pois perdemos todos, caso não haja uma oposição forte e credível. Tratem por conseguinte de rever quanto antes o programa, se o vosso objectivo é mesmo vencer. Se não sabem como fazer, ou não têm recursos humanos para tanto, contratem quem saiba. Os tomarenses por dentro e por fora merecem. 
Cordialmente,

António Rebelo    
anfrarebelo@gmail.com


1 comentário:

  1. "Instalações sanitárias públicas". Tem graça...
    Ai, há quantos anos....
    Foi há vinte, há trinta, nem eu sei já quantos!
    Foi por alturas do PREC. Havia disputa em petições e comunicados públicos a reivindicar retretes públicas e abrigos nas paragens dos autocarros. Era baratinho e de rápida execução para cativarmos as massas (os serviços camarários ocupavam-se disso). Uns anozitos mais tarde, com o PREC a desvanecer-se na democracia representativa burguesa saída do 25 de Novembro, era eu autarca numa Junta de Freguesia dos arrabaldes de Liboa(PS), quando um dia, o presidente, um Bom homem, coronel da aviação, do PSD, propôs na reunião um lavadouro público numa localidade, Sacotes, cujos habitantes eram quase todos alentejanos (e ainda são).
    -Um lavadouro? Oh coronel! Construamos, antes, um recinto para os miúdos praticarem desporto. Hoje já quase toda a gente tem máquina de lavar. Onde é que foi buscar essa?
    -Estive lá esta semana e algumas pessoas pediram-me para construir lá um lavadouro.

    Dito e feito. Ficou bonito. Quase ninguém o utilizava, mas fez obra! Ganhava então o presidente uns 10 contos e o secretário 5 ou 7, se a memória não me falha.. Uma vez utilizei um táxi em serviço da autarquia, cerca de 350 paus. Nunca os recebi. Tive vergonha de apresentar a nota de despesas.

    Velhos tempos!

    Aprecio ver este romantismo político no poder local. Apoi-se a construção de sanitários públicos em Tomar!

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