sábado, 19 de agosto de 2017

Sobre turismo, reportagem e opinião

Há por aí  confusão em relação ao que escrevo em Tomar a dianteira. Passo a tentar explicar.
Embora não sendo jornalista, nem acalentando a ideia de o vir a ser, procuro sempre nestas colunas nunca vender gato por lebre, que é como quem diz, opinião por factos provados. Tenho sempre o cuidado de separar os dois géneros. Ou faço reportagem ou opino. Em relação aos Pegões, por exemplo, em cinco textos de razoável tamanho, há apenas duas opiniões: 1 - A tutela do Aqueduto e do Convento Convento de Cristo, do qual faz parte, deve ser entregue ao Município de Tomar; 2 - A água deve correr de novo naquela obra de arte, de forma a restabelecer o eco-sistema que existiu durante quase quatro séculos. Tudo o resto é factual. Trata-se portanto de uma reportagem e não de uma opinião.
Para melhor explicitação da diferença entre opinião e reportagem, passo a tentar descrever como procedo para fazer uma reportagem, neste caso tipo peixe-espada: comprida, chata e saborosa.

O turismo é a nova galinha dos ovos de oiro, mesmo em Tomar, foi o tema de partida. Com a ideia de que, por falta de medidas atempadas, se corre o risco de matar a galinha. Eis no que deu.

Por favor não matem a galinha

Há turistas por todo o lado, para contentamento de todos. O turismo é a nova galinha dos ovos de oiro. Em Tomar acumulam-se os exemplos de que nem tudo vai pelo melhor nessa área. Tomar a dianteira andou por aí, para ver.
Além da gritante falta de sanitários, os problemas do estacionamento durante a época alta começam a ser aflitivos:




A este belo ramalhete, colhido junto ao Convento de Cristo, no qual se vê bem que nem sequer se respeita a paragem dos TUT, cabe acrescentar uma cena bucólica, porém algo miserabilista:

Entalada entre carros, uma família de turistas faz a sua refeição campestre na berma da estrada do Convento, imediatamente antes da Senhora da Conceição. Situação normal para os visitantes, mas estranha para os tomarenses, que sabem existir na Mata dos sete montes um magnífico parque de merendas, com sanitários, chafariz, mesas, sombras e contentores para o lixo:

O problema, neste como em muitos outros casos, reside na falta de sinalização. A única sinalética existente é esta, já no interior da Mata, e os turistas não adivinham:

Esteticamente será excelente. Em termos de localização e eficácia, há muito melhor. 

Além da evidente falta de sinalização adequada, para a qual a câmara já foi alertada dezenas de vezes nestas colunas, até agora sem qualquer resultado, há também o problema do estacionamento, particularmente premente durante a época alta do turismo, conforme documentado mais acima. E no entanto...
À entrada da mata, a situação é esta:



Um piso em muito mau estado e onze lugares de estacionamento pago. Olhando para os passeios enormes, não é difícil concluir que haveria lugar para 22 carros, ou 15 carros e alguns autocarros de turismo, caso fosse feito um aproveitamento mais racional do espaço. Para quê passeios tão amplos? O que faz ali a estátua do Infante D. Henrique? Alguma vez ele tratou de florestas, ou foi sequer guarda florestal?
Um erro ocasional? De forma alguma. À entrada da cidade,  para quem vem de Leiria/Ourém, apresenta-se este autêntico penico, a que resolveram chamar rotunda:


O que visto de satélite, dá isto:


Mas as mesmas mentes brilhantes que aprovaram semelhante coisa para a entrada norte da cidade, sustentam agora que, do lado oposto, na entrada sul, o acesso principal, uma vez que por ali chega quem vem de Lisboa, não foi feita a rotunda no cruzamento Nuno Álvares Pereira/Torres Pinheiro/Combatentes da Grande Guerra/Ponte do Flecheiro, por falta de espaço:

Está-se mesmo a ver que há falta de espaço, não está?

Regressando à entrada norte, à zona da Várzea pequena, onde em tempos estacionavam 20 autocarros de turismo, por ocasião do 13 de Maio por exemplo, cabem agora apenas 24 automóveis, devido ao curioso arranjo urbanístico que ali foi feito:



Exactamente o mesmo sábio aproveitamento do espaço que já vimos à entrada da Mata. Perguntará o leitor, sobretudo se for um dos autores de tais obras de arte: Mas qual a diferença entre 24 lugares para automóveis e 20 lugares para autocarros de turismo. Pouca realmente. 24 automóveis transportam no máximo 120 passageiros, neste caso turistas. 20 autocarros transportam em geral 1.100 passageiros. A diferença é só de 980 turistas. Uma ninharia para quem depende do orçamento do Estado. Muito mais negócio para o dono de um restaurante, ou de um café, por exemplo. Tudo afinal uma mera questão de mentalidade.



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