Imagem de Manuel Subtil, da festa de Carregueiros, com os nossos agradecimentos.
Autárquicas 2025
Como tornar competitivo
um concelho repressivo e repulsivo?
Na sua recente entrevista ao Templário, o candidato do PSD disse pretender tornar o concelho mais competitivo. É uma ideia louvável porque indispensável, que aplaudo com entusiasmo. Só lastimo que (por enquanto?) Tiago Carrão não tenha explicado como tenciona alcançar esse objectivo.
Uma Câmara que gasta mais de metade do seu orçamento anual com pessoal e consumíveis, não pode ser competitiva. Tende a ser repressiva e portanto repulsiva. Há provas disso. Em tempos não muito distantes, duas empresas do ramo automóvel, a ARAL e a J. Ferreira e Filhos, Lda. anunciaram que se mudavam para Torres Novas e Abrantes, respectivamente, porque lá dispunham de condições mais favoráveis. Referiam-se na altura à taxa de tratamento de esgotos, imposta pelos SMAS e bastante mais gravosa do que naqueles concelhos. Entretanto os SMAS já foram eutanasiados por uma câmara socialista, algo nunca visto neste país.
A fuga anunciada das duas empresas privadas é apenas um triste episódio de uma longa série de asneiras, parvoices e palermices praticadas com um sorriso nos lábios pelos sabedores autarcas e técnicos que nos governam. Praticamente deixou de haver construção de alojamentos em Tomar, devido às drásticas condições impostas pela DGT, dirigida por alguns técnicos demasiado ávidos e tacanhos. Só ultimamente a situação se alterou um pouco, ainda assim tipo criança tirada a ferros. Como pode ser competitivo um concelho assim, onde empresários e cidadãos não podem construir o que querem onde querem, mas aquilo que os técnicos da autarquia lhes querem impôr?
As obras municipais são outra vergonha pública para qualquer cidadão minimamente consciente e conhecedor da área. 3,5 milhões pela Várzea Grande? 3 milhões pelo Flecheiro? Milhão e meio pela Nun'Álvares? Já não há vergonha? Rouba-se o erário público às claras e ninguém protesta?
E as festas? E a cultura? Milhões todos os anos para engordar os do costume, sem grande benefício para a colectividade. Essa da animação turística é uma treta para tentar justificar o que não tem justificação possível. Eventos que noutros concelhos dão lucro, em Tomar custam centenas de milhares de euros sem retorno à Câmara, porquê? Quem anda a comer à custa pela calada?
O exemplo mais gritante de tal regabofe é a Festa dos tabuleiros. Adulada pela população, cuja fraca cultura lhe não permite ver as coisas de outro modo, transformou-se numa adulterada festa de Estado, que custa milhões a cada quatro anos, porque o orçamento municipal mais não pode. A coberto de uma organização tosca e incapaz, o roubo torna-se evidente, quando comparamos a festa de Tomar com a de Carregueiros.
A última edição, em 2023, alinhou 600 tabuleiros e terá custado ao orçamento municipal a bagatela de milhão e meio de euros. A Câmara admitiu 1,3 milhões mas há muita coisa que não foi facturada a quem devia ser (veículos, combustível, instalações, energia, pessoal, publicidade e promoção...).
Mesmo ao lado, a menos de 5 quilómetros da cidade, a pequena freguesia de Carregueiros, composta por descendentes dos escorraçados habitantes do vale de S. Miguel, onde está agora a Janela do capítulo, organiza todos os anos nos moldes tradicionais uma genuína festa dos tabuleiros, que desfila até à capela de S. Simão. O ano passado o cortejo integrou 50 tabuleiros, feitos pela população e ornamentados com flores naturais.
Tendo como referência o grande cortejo tomarense com os seus 600 tabuleiros que custaram 1,5 milhões de euros, o custo por tabuleiro será de 2.500 euros cada um. Transposto para Carregueiros, será que a Junta de Freguesia, que é da CDU, gastou 125 mil euros com os 50 tabuleiros da festa da paróquia? Certamente que não. O que nos permite deduzir porque é que a Festa grande de Tomar nunca mais chega a Património imaterial da UNESCO. Entre outros motivos porque, naquela agência da ONU, há muito que se cultiva o princípio "roubar sim, mas mais devagar"... Porque, como escreveu Proudhon, "a propriedade é o roubo". E a Câmara tem-se apropriado da Festa grande, que vai dizendo que é do povo.
Temos de nos tornar mais competitivos, quer queiramos quer não. Está em causa o nosso futuro enquanto comunidade com alguma expressão no país. Mas com um batalhão de 640 funcionários municipais pouco motivados, um para cada 53 eleitores, maior percentagem da zona centro, nunca mais lá chegamos. Terá de ser como na medicina antiga: sem sangria severa, não vamos curar o doente.
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