quarta-feira, 2 de março de 2016

Lá haver áudio-guias no Convento há. O pior é o resto!

No decorrer da cerimónia de lançamento do excelente roteiro para visitar o Convento de Cristo, de Luiz Pedrosa Graça, referi a dado passo da minha intervenção de apresentação daquela obra, que o Convento de Cristo era um dos raros monumentos Património da Humanidade onde ainda não havia áudio-guias à disposição dos visitantes. Falando logo a seguir, a senhora directora daquele monumento gerido pelo IGESPAR, organismo sediado em Lisboa, corrigiu-me. Afirmou que eu estava enganado, pois havia sim senhor áudio-guias à disposição do público.
Aproveitei a manhã soalheira do feriado municipal para subir, uma vez mais e com prazer, a multi-secular Calçada de S. Tiago, e fui informar-me. De acordo com os dados que me foram facultados, há realmente áudio-guias. Portanto, a senhora directora do monumento tem razão. Porém, digo eu, na prática é como se não houvesse. Desde logo, porque na sala onde os turistas compram os bilhetes, não existe qualquer indicação sobre a disponibilidade desse recurso electrónico. Por conseguinte, os visitantes ignoram a existência de tal equipamento, pelo que não o podem solicitar.  Depois, porque afinal apenas existem 10 aparelhos. Dado que o seu uso é gratuito, ao que me foi dito, logo que venha a existir a indispensável indicação, vai ser preciso que os numerosos visitantes tenham muita sorte para conseguirem um áudio-guia disponível.
Acresce que os citados dispositivos apenas fornecem informação em português, espanhol e inglês. Coitados dos visitantes franceses e outros francófonos! Que são assim ignorados, quando afinal até são, de acordo com os dados estatísticos que consegui recolher, os principais visitantes do monumento.
Não há, que eu saiba, elementos estatísticos sobre a nacionalidade dos visitantes do Convento de Cristo. Todavia, é possível contornar tal lacuna recorrendo aos dados publicados pelo Turismo de Portugal e referentes a 2013, último ano disponível.  De acordo com esses elementos, em 2013 os turistas franceses foram os que mais dinheiro gastaram em Portugal. Deixaram cá 1.668 milhões de euros. Seguiram-se os ingleses, os espanhóis e os alemães.
Igualmente em 2013, os espanhóis foram os que mais usaram os hotéis na região centro, com um total de 205.518 dormidas, seguidos dos franceses com  97.177 e dos ingleses com apenas 24.464 pernoitas.
Sendo assim, a senhora directora do Convento de Cristo desculpará que pergunte: -Porque raio há áudio-guias em inglês e em espanhol, mas não há em francês? Será uma serôdia e pacóvia retaliação por em 1810 os soldados gauleses de Napoleão terem infelizmente queimado alguns quadros da Charola e o imponente cadeiral do Coro manuelino?
Concluindo, é meu entendimento que estamos como diria o outro: Lá haver áudio-guias no Convento há. O pior é o resto!

anfrarebelo@gmail.com

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