terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Imagem Radio Hertz, com os nossos agradecimentos.

Poluição do Nabão e narrativa oficial

A versão conveniente do problema inconveniente

Da ilha da Páscoa ao Bhutão, passando pela Colónia de Sacramento e a Tailândia, já andei um bocadito por esse mundo fora, ora trabalhando, ora como turista. Até agora nunca encontrei uma terra como a minha amada Tomar. Cheia de coisas boas e também de algumas que valha-nos Deus.
Não lembra ao careca, mas é a realidade nabantina. Tal como nas outras terras, a ignorância abunda. Contudo, enquanto por esse mundo fora quem ignora pretende aprender, na terra gualdina é diferente. Regra geral, as pessoas nem sabem nem querem vir a saber, porque aprender dá trabalho e exige humildade.
Com gente assim, os oportunistas de serviço, que há em todo o lado, têm a tarefa bastante facilitada. Para qualquer problema mais complicado, arranjam uma explicação conveniente, a narrativa oficial, e já está. O exemplo mais recente foi o da Mata dos sete montes.
Durante semanas, explicou-se nestas colunas que o desvio da água do aqueduto dos Pegões, seco há mais de 20 anos, após mais de três séculos de bons serviços, alterou todo o eco-sistema tradicional, secando a camada freática e provocando a morte do buxo do jardim da velha Horta dos frades. Infelizmente, a água do aqueduto é desviada ali para os lados dos Brasões, território da microfreguesia de Carregueiros, administrada pela CDU.
Vai daí, para não incomodar ninguém, apareceu uma versão oficial, difundida pela anterior presidente Câmara, a tal narrativa. Segundo informação dos técnicos, o buxo estava a morrer devido ao ataque de um fungo. Seguiram-se algumas pulverizações pagas pela Câmara, ajeitou-se o jardim para os tabuleiros, mandou-se efectuar um  furo artesiano, junto ao Tanque da cadeira d'el-rei, "que o gajo até pode ter razão e ser só falta da água dos Pegões".
Passado mais de um ano, estamos na mesma como a lesma. Vamos deslizando rente ao solo e deixando uma baba de aspecto pouco agradável. Estávamos nisto quando surgiu de novo a poluição do Nabão, já quase tão tradicional como a Festa dos tabuleiros.
Coisa bem rara, alguns tomarenses, geralmente tão pacatos, até protestam contra mais um atentado  visando o nosso rio "sangue do concelho", como se gritou numa manifestação, nos anos 60 do século passado. Outros tempos.
Como também é tradicional, em vez de procurar a origem do problema e depois resolvê-lo, arranjou-se um narrativa oficial, que fica muito mais barato. A poluição tem origem na ETAR de Seiça,  freguesia da Sabacheira, concelho de Tomar, mas que trata os esgotos de Ourém. À falta de separadores, toda a rede urbana de saneamento é de colector único, de forma que, quando chove em excesso, os tanques da ETAR despejam para o rio. E pronto.
Já foi feito um estudo que concluiu haver mais de uma dezena de focos de poluição do Nabão, alguns dos quais no concelho de Tomar, mas nunca se foi além disso. Onde são esses focos e qual a sua origem? Mistério... Persiste portanto a narrativa oficial, com um anexo de milhões.
A principal origem da poluição é a ETAR de Seiça, e o problema só pode ser resolvido com a instalação de separadores em toda a rede urbana a montante. Coisa para vinte milhões de euros, que Bruxelas tem lá muito e se a gente não ajuda a gastar, ainda acaba por ganhar bolor.
Ainda não terá ocorrido a ninguém que se trata de mais um logro de todo o tamanho. Mesmo com os vinte milhões e os separadores, como na origem -em cada imóvel- só há um colector, para águas sujas, águas residuais e água pluvial, com um bocado de sorte, um dia vamos ter a ETAR de Seiça a tratar água da chuva no inverno, continuando a abrir os tanques em caso de enxurrada, que os tomarenses são boa gente. Aguentam tudo e até fazem festas para comemorar. Ou será apenas a Câmara, para procurar disfarçar a desgraça?



























6 comentários:

  1. Eu já lhe disse e reafirmo que a água não está a ser desviada por ninguém. Houve um indivíduo que me disse que uma das fontes está assoreada, não sei se é verdade. Nem faria sentido desviar a água, desviar para onde???!!! Um candidato á Junta de Carregueiros tinha no programa fazer um reservatório para ser usado na época de incêndios mas essa ideia nunca andou para a frente. Se a água fosse armazenada ela teria de correr para algum lado.

    Quanto a misturar águas residuais com pluviais, eu não sou engenheiro mas acho que é inevitável, as águas residuais são armazenadas em tanques muito grandes abertos, se o tanque fosse fechado podiam se desenvolver gases como o metano.

    Gostava muito de ler uma crónica sua sobre a ex chefe de gabinete da câmara, estou á espera. Cumprimentos.

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    1. O aqueduto foi alimentado por 4 nascentes durante mais de três séculos. Bruscamente, quando o seminário das missões, que tinha um funcionário (o Baptista), encarregado de vigiar e limpar todo o percurso, saiu do Convento, a água deixou de correr a partir da casa da água da Porta de ferro, nos Brasões. Alterações climáticas, sem dúvida, que até já provocaram o corte do aqueduto em determinado local, para um senhor agricultor poder passar com o seu tractor. Só em Tomar!

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    2. Como lhe disse eu tive lá casa que vendi em Setembro passado e o meu pai, já falecido, disse-me que a fonte secou. Recentemente disseram-me que a fonte está assoreada, quer dizer que está tapada com areia. Eu tive de vender porque não tenho vida para cuidar daquilo e não me dou com a minha irmã, nós não nos entendemos. Mas a água corre durante o inverno, se calhar a ribeira precisa de manutenção, a erva tem de ser limpa. Não há lá mais casas á volta logo ninguém está a desviar a água. E a água corre sempre para baixo por gravidade, para correr para cima tem de ser bombeada, e aquilo fica num declive. Atenção que eu só conheço uma fonte, são umas três ou quatro, das outras não falo porque não conheço.

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  2. Lamento desapontá-lo, amigo Helder, mas nunca ataquei funcionários, excepto os excelentes técnicos superiores camarários, quando tenho provas irrefutáveis das suas manigâncias no exercício das suas funções. No caso que aponta, nem sequer conheço a senhora, que a julgar pela foto tem um sorriso que diz tudo a quem saiba entender. São os novos tempos, Helder. É a geração mais bem preparada de sempre, que nunca foi avaliada capazmente nas escolas que frequentou.

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    1. A chefe de gabinete não é funcionária, é um cargo de confiança política, é como se fosse um vereador ou deputado mas não foi eleita, foi nomeada. Tal como acontece com os adjuntos. Deve e merece ser criticada para dar a conhecer a situação. Esta malta da política!!!

      Agora o governo criou o cargo de secretário geral que tem como função assessorar o governo, gerir a residência oficial do primeiro-ministro, manter o sistema informático e mais uma função que eu não me lembro. Façam favor de consultar a wikipedia para mais informação. Houve até polémica porque o primeiro ministro queria lá por um quadro do banco de Portugal a ganhar 15 mil euros por mês, acabou por ir para lá um reformado de 70 anos que vai "pagar para trabalhar", tinha uma reforma modesta de 9 mil euros e vai ganhar 6 mil!!!

      Portanto vamos ter um secretário geral e SEIS (6) sub-secretários gerais!!! Como o Professor costuma dizer: " A cadela não aguenta com tanto cão".

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    2. Tem razão. A chefe de gabinete não é funcionária por concurso. Apenas de confiança política. Para ter uma ideia de como até nas nomeações de confiança política somos muito pobrezinhos, eis um exemplo brasileiro. Houve eleições autárquicas no final do ano passado e os eleitos tomaram posse agora em Janeiro. Logo na primeira semana no poder, o novo prefeito (equivalente a presidente da câmara em Portugal) de Fortaleza exonerou 1.580 servidores públicos, como se diz por aqui. Mas o jornal que publicou a notícia não diz quantos já nomeou.

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