quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Imagem Rádio Hertz, com os agradecimentos de TAD3

Inundação e poluição

Os dois grandes acontecimentos 

da semana em Tomar

Numa territa decadente, cuja população tende a diminuir, os dois grandes acontecimentos da invernia foram no rio. Houve inundação no Flecheiro, e os tradicionais focos de poluição  junto à Ponte velha. Político sagaz e bom comunicador, todavia com uma relação por vezes algo difícil com a verdade, o presidente Cristóvão saltou logo sobre a ocasião, em defesa da sua dama.
Sobre o Flecheiro, gabou a obra e acentuou que foi feita exactamente para estas enchentes anuais. Nem lhe terá passado pela cabeça que um ajardinado inundado denuncia o erro de urbanização. Se um determinado espaço está sujeito a inundações periódicas, designadamente por ter sido transformado parcialmente numa bacia de retenção, deve-se evitar que tenha ou possa ter uma ocupação humana permanente, como é o caso dos jardins e espaços verdes que bordejam os cursos de água com enchentes periódicas.
Por conseguinte, no caso em apreço, em vez de terem gasto milhões com relevo artificial, melhor e muito mais barato teria sido transformar aquilo num campo de feiras e exposições que tanta falta faz, ligando-o aos terrenos camarários da outra margem. Está-se mesmo a ver, parece-me, mas palpita-me também que, em certos casos e por conveniência, alguns autarcas e eleitores metem os olhos nos bolsos das calças.
É um pouco isso que parece estar a acontecer também com a periódica poluição do Nabão. O presidente da Câmara está bem informado e conhece a história toda, mas faz de conta que não vê para tentar iludir os eleitores, com declarações que nem são falsas nem verdadeiras. Desta vez estendeu-se ao comprido, declarando na Rádio Hertz que a solução do problema vai demorar anos e que entretanto tudo depende dos esforços da Tejo Ambiente e da Câmara de Ourém.
Esqueceu-se deliberadamente de dois detalhes importantes. O primeiro é que o Município de Tomar é o accionista principal da Tejo ambiente, pelo que, se não resolvem o problema mais rapidamente, será porque a Câmara de Tomar não está muito incomodada com a situação. O que nos leva ao outro detalhe. Na informação difundida pela autarquia e publicada pela Rádio Hertz, aparece uma frase nova na habitual descrição das origens da poluição. Ora faça o favor de ler: "São anos e anos de sucessivas descargas poluentes, desde logo com origem orgânica, ou seja, devido à falta de separativos na ETAR de Seiça e na do Alto Nabão, as águas pluviais misturam-se com os esgotos domésticos, contaminando as linhas de água."  
Esta é a versão oficial do costume, a tal que segundo o presidente vai levar anos a resolver e exige os esforços da Tejo Ambiente e da Câmara de Ourém. Há porém a frase nova: "Isto, claro, para além das descargas ilegais que algumas empresas efectuam, a coberto do aumento dos caudais."
Cristóvão sabe portanto que há outras origens da poluição no concelho de Tomar, com as quais a Tejo Ambiente e Câmara de Ourém nada têm a ver. Pode até dar-se o caso de haver pouco empenhamento na colocação dos separadores em falta nas redes urbanas, não só devido ao elevado custo das obras, mas também e sobretudo para evitar que depois se venha a verificar que afinal a principal origem dos focos de poluição em Tomar não é a ETAR de Ourém nem a do Alto Nabão.
Numa nota final, o que me surpreende e escandaliza é que, sabendo Cristóvão o que sabe, nunca tenha encetado conversações com essas empresas que fazem descargas ilegais (ou pelo menos com uma delas, que todos conhecemos), no sentido de passar a despejar o reboque do tractor, carregado com dejectos suinos, a jusante da cidade, em vez de junto à antiga Fonte quente. Estão em causa apenas mais alguns litros de gasóleo, e horas suplementares para o condutor. Mas não querem mostrar-se, não é?



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