Ontem foi um dia de papinho cheio para a comunicação social. O Ministério da Educação libertou nos dias anteriores os dados sobre o aproveitamento escolar no ensino básico e no ensino secundário. Trata-se de algo que há 15-20 anos era desconhecido, porque só a informática o tornou entretanto possível -o chamado ranking das escolas, que é como quem diz a tabela classificativa das escolas. Mesmo com os recursos informáticos, trata-se de matéria muito complexa, interessante para os leitores dos media apenas em países pequenos como o nosso. Tenha-se em conta que somos apenas 10 milhões e mesmo assim O Público publicou sobre o tema um caderno de 48 páginas. Agora imagine-se o que seria na China, na Índia, ou mesmo nos USA e no Brasil.
Ainda recentemente, houve algumas fraudes nos exames do ensino secundário brasileiro. Levantaram-se logo vozes exigindo a repetição das provas. O ministro foi sintético: Não seria razoável repetir milhões de exames.
Partindo do que foi publicado ontem nos jornais e visando tornar o assunto tão claro quanto possível, elaborei três pequenos quadros; dois para o ensino básico e o outro para o secundário. Peço desculpa pelo mau alinhamento vertical das colunas, devido ao facto de nunca ter aprendido a trabalhar com o Excel.
Ensino Básico
Ranking distrital de algumas escolas do distrito de Santarém
Média dos exames do 9º ano, cuja classificação é de 1 a 5
Ranking distrital Escola Concelho Média dos exames
1º Colégio Sto Ildefonso Santarém 3,71
2º E.S. Sá da Bandeira Santarém 3,46
3º E.B. Conde de Ourém Ourém 3,14
7º E.S. Artur Gonçalves T. Novas 3,00
10º E.S. Entroncamento Entroncamento 2,97
12º Colégio S. Miguel Ourém 2,95
13º Centro E. Fátima Ourém 2,95
17º E.S. S. M. Olivais Tomar 2,87
33º E.B. Gualdim Pais Tomar 2,68
35º E.B. Santa Iria Tomar 2,65
38º E.S. J. Ratton Tomar 2,59
50º e último E.B. Couço Coruche 2.04
Ensino Básico
Ranking nacional dos resultados dos exames em escolas do distrito de Santarém
Concelho Lugar no ranking dos exames
Abrantes 554º e 747º
Entroncamento 274º e 379º
Ourém 155º e 248º
Santarém 26º e 63º
Tomar S.M. Olivais 338º
Tomar E.B. G. Pais 568º
Tomar E. B. S. Iria 617º
Tomar E.S. J. Ratton 630º
T. Novas 233º e 492º
Para comparar
Leiria 6º, 69º e 130º
Ensino Secundário
Ranking nacional dos exames do 12º ano no distrito de Santarém
Ranking Escola Concelho
43º Col. S. Miguel Ourém
135º E.S. G. Machado Santarém
142º E.S. Entroncamento Entroncamento
162º E.S. A. Gonçalves T. Novas
168º C.E. Fátima Ourém
197º E.S. Cartaxo Cartaxo
213º E.S. Sá da Bandeira Santarém
240º E.B.S. Barquinha Barquinha
249º E.S. S. Abreu Abrantes
250º E.S. Almeirim Almeirim
273º E.S. S. M. Olivais Tomar
382º E.S. F. Zêzere F. Zêzere
448º E.S. J. Ratton Tomar
Perante estes resultados, que nem sequer podem ser contestados, porque baseados em dados objectivos, iguais para todo o país, a minha conclusão é simples: As escolas tomarenses não ficam nada bem na fotografia, quando comparadas com as suas homólogas.
A partir daqui, é meu entendimento que há apenas dois caminhos a seguir. O primeiro, mais fácil e muito praticado por estes lados, é o da negação e da atribuição de culpas aos outros, neste caso aos professores. Por se saber muito bem que "filho de peixe sabe nadar", "quem sai aos seus não degenera", "tal pai, tal filho" e por aí adiante. Ou seja, por outras palavras, que os pais são os principais responsáveis pelos resultados escolares dos filhos. Donde a necessidade de sacudir a água do capote, atribuindo a culpa aos professores, que seriam os maus da fita. Não se dão conta os que assim pensam de que, se assim fora, isso significaria que os habitantes de Tomar já seriam tão negativamente conhecidos no país, que os melhores docentes já se negariam a concorrer para cá. Cuidado portanto com os raciocínios aparentemente fáceis, mas na verdade traiçoeiros.
O outro caminho consiste em aceitar a triste realidade, assumir as suas responsabilidades e procurar emendar o que está mal. Há livros lá em casa? Lê-se e discute-se algo habitualmente, para além do futebol e das novelas? Acompanha-se com cuidado a vida escolar da descendência? Evita-se culpar sistematicamente os outros? Está-se aberto à mudança? Procura-se praticar sempre a tolerância, porém sem complacência?
Julgo saber do que falo. Fui docente durante mais de 30 anos. Não me envergonho dos resultados escolares e académicos dos meus filhos. (ver adenda)
Mas também é verdade que nunca vi nenhuma figueira a dar melões.
Adenda
Embora não me agrade revelar a minha vida privada, penso que neste caso se impõe uma informação mais detalhada. Sou pai de dois filhos: Raphaëlle Virginie, francesa, 42 anos, professora de História e geografia em França, e Rui Lourenço, português, 38 anos, juiz de direito.
anfrarebelo@gmail.com
Adenda
Embora não me agrade revelar a minha vida privada, penso que neste caso se impõe uma informação mais detalhada. Sou pai de dois filhos: Raphaëlle Virginie, francesa, 42 anos, professora de História e geografia em França, e Rui Lourenço, português, 38 anos, juiz de direito.
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