Em Tomar, o candidato do PSD para as próximas autárquicas continua por escolher. Situação delicada, que obriga o actual presidente da concelhia, João Tenreiro, a "mostrar serviço". Por isso, numa recente reunião da autarquia, segundo relata a Rádio Hertz, aquele vereador social democrata criticou asperamente aquilo que apelidou de "imagem de desleixo" na limpeza urbana. Foi uma boa jogada política, nesta época do ano em que o cair da folha torna mais evidente a inoperância do serviço camarário de limpeza.
Sucede que do outro lado da mesa estava o vereador da CDU, actual responsável pelos serviços municipalizados e de limpeza. Que naturalmente não gostou do reparo. E que, amparado na sua experiência política de décadas, respondeu com argumentação ideológica a uma questão concreta.
Avançou Bruno Graça que só agora foi possível modificar a orientação anterior, que apontava para a privatização ou para a concessão dos serviços de limpeza, o que permitiu contratar pessoal, mencionando a recrutamento de 11 trabalhadores. Três anos para conseguir reverter uma simples orientação, é obra! E mostra bem a elasticidade intelectual dos membros do actual executivo.
De acordo com o relato supracitado, Tenreiro derivou para a falta de equipamentos urbanos, em vez de contestar frontalmente a posição do vereador CDU. Fez mal. Porque o melhor caminho para melhorar os serviços urbanos não passa pela contratação de pessoal, mas sim pela concessão a uma empresa privada. Isto porque, como se pode confirmar aqui, na última década as despesas da autarquia com pessoal passaram de 28,9 para 39,9% do orçamento e os ditos serviços não melhoraram. Mas colocou-nos no grupo das câmaras madeirenses e alentejanas:
O que terá decerto contribuído para a fuga de Tomar de quase três mil residentes durante essa mesma década. Por conseguinte, não pode ser a ideia de concessão ou privatização dos serviços de higiene e limpeza que está na origem do actual desmazelo, mas exactamente o oposto. É por não ter havido concessão que a autarquia continua com problemas praticamente insolúveis sem concessionar ou privatizar os serviços, como por exemplo os trabalhadores de férias ou com baixa por doença e as máquinas avariadas ou em manutenção.
Correio da Manhã, 21/12/2016
Compreende-se a posição de Bruno Graça. Trata-se afinal de difundir as normas da CDU e portanto do PCP, cuja direcção sabe muito bem de onde lhe vêm os votos que são cada vez menos. Vêm dos funcionários, no activo ou aposentados, e praticamente só daí. Mas isso não implica que PS, PSD ou IpT tenham de concordar com tal posição ideológica, que nada sustenta. Bem pelo contrário, muitos anos após a queda do muro de Berlim, continua sem resposta capaz em Portugal esta pergunta singela: Se o "tudo do Estado" era assim tão bom, porque colapsaram afinal todos os regimes comunistas europeus, onde nem sequer havia ou podia haver oposição organizada?
Por conseguinte, não, senhor vereador da CDU. Não é por aí o melhor caminho. Mesmo e sobretudo quando a oposição não vale grande coisa e a situação é quase trágica.
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