sábado, 24 de dezembro de 2016

A inútil e vergonhosa marca da casa



É o orgulho da Excelentíssima Presidente e dos Excelentíssimos governantes municipais que temos. Uma rampa para os cidadãos que no Brasil são designados por cadeirantes. Por aqui preferimos "com dificuldades de locomoção" ou "em cadeira de rodas". Para simplificar à portuguesa.
A Direcção-Geral do Património reprovou a coisa, mas a Câmara insistiu. Contra os mandões, marchar marchar. Resta agora ver no que isto vai dar. Porque ainda há leis no País, que em princípio são para cumprir. Sobretudo por quem integra o Poder.
De forma que temos agora uma modernaça rampa, com apoio de cor castanha e corrimão em aço inoxidável, a conspurcar uma bela fachada renascença, com cinco séculos. Já havia, é certo, os corrimãos também em aço inoxidável na igreja de Santa Maria dos Olivais. Mas esses foi o senhor padre que mandou instalar, e ao clero tudo se perdoa, porque agem ou dizem agir em nome de Deus. O que mesmo assim não impediu alguns cidadãos corajosos de denunciar a anomalia grosseira.
Agora, quanto a esta nova vergonha local, cabe dizer que não nos deve orgulhar, conquanto transmita aos visitantes uma realidade insofismável. Quem vem de fora, dado que os Paços do concelho não ostentam qualquer identificação, dirá decerto para os seus botões "Ali está um belo edifício quinhentista com a fachada desfigurada por uma horrível rampa de acesso, porque devem lá viver deficientes." Será portanto doravante, enquanto lá se mantiver aquela coisa a sujar a fachada, a nossa marca da casa, aos olhos de quem nos honra com a sua visita. Porque é a pura verdade, com um ligeiro reparo. Os utentes do edifício só lá vivem de dia, como os tomarenses bem sabem.
Toda esta vergonha para quê? Apenas para satisfazer o ego de quem pouco pensa e mesmo assim mal. Na realidade, o novo orgulho dos autarcas nem sequer serve para grande coisa. É praticamente inútil. Não permite o acesso aos pisos superiores. Quem quiser falar com a presidente ou com os vereadores não pode porque tem a escadaria a impedir. Quem pretender assistir ou intervir nas sessões da Assembleia Municipal, ou nas reuniões da Câmara, continua a não poder pela mesma razão. Ou seja: Os cidadãos cadeirantes já podem pedir, requerer, reclamar e sobretudo PAGAR, graças à nova e tosca engenhoca. Para incomodar os autarcas ou participar nos principais órgãos municipais, isso é melhor deixar para outra ocasião.
E no entanto é tão simples preservar a fachada e facultar o acesso dos deficientes motores a todo o edifício:

Basta instalar um ascensor exterior, daqueles transparentes, e proceder a uma pequena adaptação no acesso ao piso térreo, uma vez que as portas já lá estão, ao nível do solo e sem qualquer necessidade de rampas exteriores feiosas de fugir. Mas, para quem não está habituado, pensar um bocadinho cansa, não é verdade?
Um bom Natal para todos, apesar de tudo. Que eu não quero mal a ninguém. Apenas não tenho estômago para digerir certas coisas...

1 comentário:

  1. Isso estar horrível, pode ser o menor dos problemas...
    Só espero que os serviços competentes da DGPC, não se lembrem de sair do Palácio Nacional da Ajuda, pois caso contrário a CMT pode começar a preparar o dinheiro dos contribuintes para pagar a multa e o processo em tribunal.

    ResponderEliminar